ESTATAIS | Notícia

Editorial JC: Irresponsabilidade à mostra

Endividamento em níveis calamitosos das principais estatais brasileiras demonstra a falta de compromisso com o equilíbrio das contas públicas

Por JC Publicado em 03/06/2025 às 0:00 | Atualizado em 03/06/2025 às 7:50

Um rombo de mais de R$ 2,7 bilhões é o maior já registrado para o conjunto das estatais federais. Ou seja: nunca antes na história deste país se viu tamanho acinte ao equilíbrio fiscal. O descompromisso é evidente: o governo Lula, como de praxe, não está nem aí para o controle de gastos, e muito menos demonstra preocupação sincera com o crescimento da dívida pública.

O resultado, como já se sabe, será um legado de ingovernabilidade para o próximo governo – com altas chances de a máquina estatal já começar a dar sinais de desgoverno antes do fim da atual gestão no Planalto.

Se isso pode ser desastroso para as pretensões de renovação do mandato petista, as consequências para a economia e para a população podem ser muito piores, e duradouras, pois não se desfaz o prejuízo da irresponsabilidade fiscal da noite para o dia.

O valor é o acumulado em apenas quatro meses de 2025, e foi revelado pelo Banco Central. Com isso, a dívida bruta do país chega a R$ 9,2 trilhões, ou 76% do Produto Interno Bruto (PIB). A dívida líquida está em quase 62% do PIB. No mesmo período do ano passado, o rombo era de R$ 1,6 bilhão, e o total negativo em 2024 foi de R$ 6,7 bilhões.

Somente os Correios apresentaram um rombo de R$ 1,7 bilhão no primeiro trimestre, puxando o endividamento das estatais que dependem exclusivamente de recursos da União – nunca antes se viu um sumidouro de recursos públicos tão grande.

Os resultados fiscais lançam o governo Lula no limbo da incerteza econômica que contamina a política – basta ver os duelos cada vez mais difíceis do Executivo no Congresso, ainda mais quando a solução proposta pelo Planalto, via o ministro Fernando Haddad, é mais do mesmo que não funciona, elevando a carga de impostos sobre os brasileiros ao invés de combater os desperdícios, os privilégios e o financiamento do loteamento da máquina, que inclui, claro, as farras nas estatais.

Além disso, a credibilidade do governo despenca, tanto domesticamente, para o mercado, quanto para as agências internacionais de risco. A lógica é a mesma dos bancos e das empresas que vendem a crediário: como confiar num mau pagador?

No caso de um governo federal mau pagador, a gestão temerária do dinheiro dos brasileiros põe em perigo a cobertura de despesas obrigatórias, com a saúde e a educação, por exemplo, e compromete investimentos em infraestrutura, pois de algum canto será preciso cortar. A relação com as administrações estaduais e municipais também tende a se deteriorar, pois todos terão medo de que os acordos firmados não sejam cumpridos.

O caso dos Correios é emblemático de outro desinteresse do atual governo Lula – com o programa de desestatização.

O paquiderme estatal brasileiro não move o país para o desenvolvimento, e ainda está atolado em dívidas impagáveis. A concessão à iniciativa privada é um caminho sensato, mas não é a única necessidade. Sem as contas decentes, o poço fiscal pode inviabilizar qualquer governo.

Confira a charge do JC desta terça-feira (3)

Thiago Lucas
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