DONALD TRUMP | Notícia

Um ditador na Casa Branca?

Medida autoritária que expulsaria os estudantes estrangeiros da Universidade de Harvard não é fato isolado – e gera preocupação no mundo

Por JC Publicado em 25/05/2025 às 0:00

A figura de líder carismático que inflama as massas ao seu redor já é conhecida na ascensão de Donald Trump à presidência, pela segunda vez. O magnata que se fez na mídia para, mais tarde, atacar a mídia, e se valeu das instituições democráticas para, mais tarde, estimular ataques à democracia, recorda a trajetória de ditadores que entram na história através da arregimentação e propagação do ódio. Na era das redes sociais, a busca de “haters” – os que odeiam como esporte, sob a proteção da distância das telas – é facilitadora do estado de violência definidor do totalitarismo: onde o poder é exercido violentamente em todos os aspectos.
O controle do Partido Republicano por Trump é outro sinal do aparato totalitário que se assemelha, em termos bastante relativos, a regimes que vigoraram no século passado. O “partido” e o “governo” são faces da mesma moeda, na instrumentalização do poder que se confunde com o líder autoritário. Mas o magnata bonachão que até de papa posou para as redes sociais, ainda não conta com o controle institucional completo em seu país, graças à tradição liberal que perdura nos Estados Unidos, não apenas na economia, mas sobretudo na política – apesar de Trump, e com o respaldo do Judiciário, especialmente da Suprema Corte.
Se os juízes não conseguirem barrar as medidas autoritárias da Casa Branca, o totalitarismo incipiente pode prosperar nos EUA. E se espalhar pelo planeta, na esteira da influência norte-americana e da estranha, mas não impossível, associação com outras ditaduras, sempre criticadas por presidentes anteriores, nas quais a violência cotidiana é um tormento para as populações. A Justiça pode ser o fio no qual a democracia norte-americana se sustenta.
A proibição de quase 7 mil estudantes estrangeiros de continuarem na prestigiosa Universidade da Harvard, seria um golpe nas universidades, no conhecimento, na pesquisa e na liberdade que embasa a prática científica. A Suprema Corte impediu o golpe, de momento, que se limitava a Harvard, mas poderia ser estendido a outros centros de ensino. A xenofobia escancarada na medida de Trump representa frontal negação dos princípios que fundamentam a democracia. Cerca de um quarto dos estudantes de Harvard são de fora do país. Graças a uma juíza federal de Boston, indicada por Barack Obama ao cargo, a expulsão dos estudantes foi suspensa.
Com quase quatro séculos de história, a universidade ressaltou, em nota oficial: “Sem seus estudantes internacionais, Harvard não é Harvard”. Sem liberdade na educação, como quer o atual governo norte-americano, a democracia não é democracia. A exclusão é parte da ideologia do ódio que Trump almeja implantar, numa atitude que leva preocupação ao pedaço do planeta com maioria democrática. A justificativa para cancelar os vistos estudantis não é outra senão a alegação de criação de um “ambiente hostil para estudantes judeus, de promover simpatias ao Hamas e de adotar políticas racistas de diversidade, equidade e inclusão”. O governo Trump aponta exclusão para excluir, assim como o próprio presidente já acusou a imprensa de produzir fake news, quando é ele quem falseia a realidade, com despreocupada frequência.

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