BRASIL | Notícia

Endividado e sem direção

Descontrole dos gastos públicos não cessa por contingenciamentos, e o horizonte fiscal do terceiro governo do PT lança o país na incerteza

Por JC Publicado em 24/05/2025 às 0:00

O aumento de impostos foi a solução mágica cogitada pela equipe econômica de um governo pressionado cada vez mais: de um lado, pelo descontrole dos gastos públicos que pode levar o país à falência em poucos anos, e de outro, pelo crescimento da inflação que exige medidas fiscais de contenção, como a alta dos juros. A tal ponto de desnorteio chegou o governo, que voltar atrás em parte da medida que previa o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), como fez o ministro Fernando Haddad, foi celebrado pelo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, como uma atitude ágil, após a reação do mercado. É como se o aumento do IOF tivesse sido uma espécie de bode na sala – no caso, da nação inteira – cuja retirada, ao menos parcial, já seria prevista.
A equipe econômica vislumbra dificuldades para cumprir a meta fiscal, e projeta ganhos bilionários de arrecadação para tapar o rombo no orçamento e na dívida acumulada. Para variar, os contingenciamentos foram anunciados sem a devida explicação de prioridades para um governo que parece sem rumo, à medida em que o mandato se esvai. A máquina paquidérmica de quase 40 ministérios para acomodar aliados não resolveu o problema, e o orçamento sofreu o avanço do Congresso, com parlamentares vorazes por emendas para fazerem o que bem entenderem, sem prestar contas por isso. Diz-se que o governo Lula pode ser o mais refém que o Legislativo já produziu – mas o Planalto talvez seja mais refém ainda dos erros de um partido que, pela terceira vez no poder federal, repete o que não deu certo. Nem para o governo, nem para o Brasil.
A gravidade da questão fiscal e suas consequências para o próximo governo, seja quem assumir a presidência da República, exigem do atual governo mais empenho de gestão do que vem sendo demonstrado até o momento. Apesar dos discursos equilibrados de Haddad e da ministra do Planejamento, Simone Tebet – que disputou as eleições presidenciais contra o PT e se firmou como apoiadora no segundo turno. Essa falta de empenho, por exemplo, no enxugamento da máquina estatal, repleta de gambiarras e privilégios que não garantem a consistência de uma base aliada, e ainda suscitam esquemas intoleráveis como o do INSS, faz com que qualquer proposta de aumento da carga tributária seja vista com desconfiança – pelo mercado e pela sociedade. Sem fazer a sua parte, o governo quer ganhar fôlego fiscal a partir do sacrifício dos outros.
A necessidade de negociar com os partidos é apontada como um problema, por Galípolo, ao tentar explicar as deficiências do cumprimento da meta fiscal. Pois não deveria ser problema, já que a democracia se fia na negociação política, inclusive e sobretudo em relação à execução orçamentária. O que a realidade brasileira atual demonstra é a incapacidade do atual governo em estabelecer vínculos transparentes com os demais poderes, preferindo apelar para o mais do mesmo que dá errado. A autoridade e a credibilidade do Executivo derretem, enquanto a nação caminha para mais um ano eleitoral à deriva, em 2026.

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