MOBILIDADE | Notícia

Editorial JC: Ultrapassagem perigosa

Preferência pelas motocicletas que fazem transporte de passageiros no Brasil vem da demanda que os ônibus e trens não conseguem atender

Por JC Publicado em 23/05/2025 às 0:00 | Atualizado em 23/05/2025 às 8:44

Embora seja inegável a pressão que a profusão de mototaxistas e motociclistas de aplicativos esteja exercendo sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), devido ao aumento de sinistros envolvendo ocupantes de motocicletas no país, a corrida da população para o serviço de transporte em duas rodas não surge do nada.

E as razões dizem respeito à insuficiência, ou à má qualidade, ou até ao sucateamento da oferta dos meios disponíveis para o transporte coletivo, sobretudo nas cidades de poucos caminhos e muita gente se movimentando nos horários de pico, na ida aos afazeres do dia, e na volta para casa. Como o Recife e as demais da Região Metropolitana.

Ou mesmo São Paulo, onde se localiza a melhor rede de metrôs e trens para servir à maior concentração demográfica da América Latina. A capital paulista é um caldeirão de brasileiros de várias origens, e de imigrantes de diversas nacionalidades, todos requerendo mobilidade urgente com alta cobrança de qualidade.

A circulação do transporte de motos por aplicativo virou assunto da justiça, com o prefeito Ricardo Nunes alegando o que todos enxergam – o risco para os cidadãos – enquanto as empresas e os profissionais se apresentam para cobrir o vácuo do transporte público.

 Há poucos dias, uma das empresas que realiza o serviço divulgou que, apenas na semana em que a permissão para atuar voltou, foram feitas, pelos mais de 13 mil profissionais cadastrados, nada menos que 450 mil viagens de motocicletas em São Paulo.

Os números certamente trazem a função de mostrar o interesse público na garupa, a fim de acelerar a solicitação judicial para que a Prefeitura regulamente o serviço de transporte mais arriscado para a população.

Mas o que sobressai é o tamanho da frustração das pessoas com os sistemas de transporte coletivo disponíveis, seja em função do custo-benefício, seja pelo atraso estrutural, a espera de investimentos cuja demora acumula bilhões de reais para que se chegue onde é preciso: segurança, rapidez e conforto para quem se desloca pelas cidades.

Vale repetir o caso pernambucano, com um metrô abandonado que, ao invés de se expandir como acontece em toda grande cidade em que funciona, aqui encolhe na quantidade de usuários, de maneira deprimente.

As empresas que exploram o mercado aberto pela ineficiência dos governos não estão isentas de buscar segurança e conforto, além da rapidez que pode ser fatal sem a prevenção que deveria ser obrigatória.

Inclusive em parceria com o poder público, se a Justiça entender que o serviço não deve ser banido ou suspenso. O direito à mobilidade, como se vê pela procura do serviço que elevou a venda de motos no Brasil, passa pela priorização, pelos governos em todos os níveis, de sistemas de transporte coletivos, como ônibus, metrôs e trens.

Até a gratuidade pode ser oferecida, a título de estímulo, como em outros países, ou no Brasil, em dia de eleição. A preferência pelas motos é, infelizmente, sintomática de mais uma face da dívida social que nos emperra o desenvolvimento.

Confira a charge do desta sexta-feira (23)

Thiago Lucas
Governo Lula - Thiago Lucas

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