Pernambucanidade para o mundo
Exibição de filme de Kleber Mendonça Filho no Festival de Cannes teve apresentação de frevo no tapete vermelho, com Orquestra Popular do Recife

O cinema como vitrine móvel da cultura de um lugar já foi explorado e é bem conhecido do público em várias partes do mundo. A indústria cultural tem na expressão cinematográfica um dos principais instrumentos de disseminação, como por tantos anos os filmes de Hollywood são exemplos. Mas não só. As cidades mais turísticas do planeta, como Paris, Roma e Nova York, aparecem nas telas grandes despertando a curiosidade e o desejo dos possíveis viajantes. As histórias reais e de ficção, contadas pelos filmes que chegam a enormes distâncias de onde foram feitos, trazem para perto os olhares de quem está longe, e servem como cartões-postais em movimento, intensificando o interesse coletivo.
Antes mesmo da exibição que provocou aplausos entusiasmados, “O agente secreto”, novo filme de Kleber Mendonça Filho, estrelado por Maria Fernanda Cândido, Hermila Guedes e Wagner Moura, fez história no tradicional e celebrado evento do cinema mundial. A première na mostra competitiva contou, no prelúdio, com uma apresentação do grupo Guerreiros do Passo, dançando frevo ao som da Orquestra Popular do Recife. As cenas pipocaram nas redes sociais, levando a energia da cultura pernambucana para a França. O filme de Kleber desponta com boas chances, e a difusão da pernambucanidade já aparece como um feito notável, digno de palmas e reconhecimento.
Com o frevo no pé e os olhos nas telas, os pernambucanos aguardam o resultado que será anunciado pelo Festival ainda esta semana. A imagem de um estandarte em homenagem ao Cinema São Luiz, uma das locações do longa-metragem no Recife, foi mais um toque de charme à alegria desfilando em Cannes. Thriller político ambientado na capital pernambucana dos anos 1970 e em 2025, “O agente secreto” tem acumulado ótimas críticas internacionais, que ressaltam a temática da memória na obra do cineasta pernambucano. “Pode-se apreciar o filme tanto pela forma como trabalha o contexto histórico quanto pela recriação precisa de uma cidade num momento específico”, escreveu Carlos Aguilar para The Playlist.
Mito do folclore recifense da época, até a “perna cabeluda” surge no longa, segundo uma interpretação possível, como metáfora da repressão na ditadura. Como afirmou Emannuel Bento em matéria para o JC-PE, “Kleber Mendonça Filho mais uma vez entrelaça referências da história pernambucana com suas próprias vivências, numa ficção complexa e original, que deve reforçar - com orgulho - o lugar de Recife no mapa do cinema mundial”. O pernambucano já é referido como nome expressivo da sétima arte contemporânea, distinguido com pompas de estrela e respeito numa das indústrias culturais mais competitivas do mercado global. Com a ascensão da criatividade do cineasta e de seus filmes, a pernambucanidade também entra em evidência, com destaque para o Recife como cenário de lembranças, relatos e ponto referencial da realidade brasileira.