VIOLÊNCIA ÀS MULHERES | Notícia

Menos proteção é mais risco

De acordo com levantamento das Nações Unidas, quase a metade das organizações de apoio a mulheres no mundo podem fechar por falta de recursos

Por JC Publicado em 19/05/2025 às 0:00

A violência contra as mulheres é rotineira e local, mas também pode ser dimensionada como um problema global que retrata a permanência de condições machistas na sociedade em todo o mundo. Os recortes de informação por país, estado ou município comprovam essa calamidade social, que pelo menos recebe a qualificação de intolerável por parcela da população – mesmo que muitos ainda naturalizem o machismo e suas formas de violência contra a mulher, exercidas como práticas aceitáveis até poucos anos atrás. E ainda hoje, vistas por homens e mulheres com a complacência que causa dor e faz vítimas diariamente.
Agora imaginemos um cenário de crise humanitária em que a sobrevivência está em jogo, as leis não são respeitadas e os direitos humanos não passam de utopia. É nesses casos que mulheres e meninas são expostas a uma alta taxa de violência sexual, em diversos casos tendo como consequência a gravidez. O cenário é real para milhões de mulheres de todas as idades no planeta, diante do aumento das crises humanitárias em decorrência de conflitos, guerras e até de privações relacionadas aos efeitos das mudanças climáticas. Ao invés de proteger meninas e mulheres, alguns homens restauram o uso da força como linha de conduta, e eles fazem com que elas sofram em dobro, as dores cruéis de violências sobrepostas.
Levantamento da Organização das Nações Unidas (ONU) mostra que, de 411 entidades de apoio às mulheres em 44 locais de crise no mundo, 90% tiverem corte de financiamento nos últimos meses, e quase a metade, 47%, encontram-se prestes a encerrar as atividades nos próximos meses. É um panorama difícil, desalentador e sintomático de uma era na qual o cuidado e a empatia perdem espaço para a indiferença e violência. O machismo aproveita esse espaço e se instala, ou se perpetua como base da agressividade que inibe, cerceia, aprisiona, fere e mata meninas e mulheres. Como se fosse normal porque foi assim por tantos séculos que a transmissão de valores humanistas de uma geração para outra não teve tempo de mudar o mundo. Ainda – pois não é normal e precisa ser rechaçada e criminalizada, como toda violência.
Mais de dois terços dessas instituições demitiram funcionários por falta de recursos, e mais da metade cancelaram programas de apoio a mulheres sobreviventes de violência, com acesso à proteção e assistência médica. Se a covardia machista não vê razões para ser freada em nações com legislações que deveriam amparar a mulher e protegê-la, como o Brasil, é nos lugares em que há suspensão completa dos direitos que a covardia se amplia. A realidade mostra que os instrumentos legais não estão sendo eficazes para prevenir esse tipo de violência. É preciso aprimorar as leis, e fortalecer as entidades que se valem da coragem, mesmo sem dinheiro, para continuar cumprindo o papel essencial de alívio para meninas e mulheres vítimas de criminosos – que assim devem ser vistos e punidos, em uma sociedade democrática.

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