VOLTA DAS CHUVAS | Notícia

Drenagem ultrapassada é desafio

Em entrevista para o Giro Metropolitano, Soraya El-Deir avaliou os fatores que tornam a ocorrência de chuvas um martírio para a população

Por JC Publicado em 18/05/2025 às 0:00

A enxurrada de justificativas é tão comum quanto a surpresa dos gestores públicos diante de chuvas intensas que se repetem, todos os anos, em Pernambuco. Condições históricas estruturais agravam o problema que revela a falta de planejamento e de ações concretas que possam, gradualmente, ao menos reduzir o sofrimento das pessoas e os riscos a que estão submetidas, não somente nas áreas mapeadas de vulnerabilidade, mas em qualquer ponto de cidades expostas a quedas de árvores e postes, além de muita água nas ruas, invadindo as casas, para o desespero de quem convive com isso há décadas e não vê nada melhorar.
Orientadora nos Programas de Pós-graduação em Engenharia Ambiental da UFRPE, a professora Soraya Giovanetti El-Deir foi a convidada do Giro Metropolitano, exibido no sábado pelo Sistema Jornal do Commercio de Comunicação. O tema do debate foi “Planejamento das cidades e o impacto das chuvas na RMR”. O programa reforça a importância de se pensar a Região Metropolitana do Recife de maneira integrada, sem o isolamento de municípios que buscam soluções separadas – e nada se soluciona, porque os problemas metropolitanos são comuns às populações das cidades que a integram. Como o impacto das chuvas sobre o cotidiano dos habitantes.
Para a professora Soraya El-Deir, a pressão popular deve cobrar o poder público por planejamento e ações que reduzam o impacto das tempestades no ambiente urbano. Como a proteção de áreas de risco nos morros, a fim de evitar os deslizamentos de terra, e a limpeza regular dos canais, para que a poluição não colabore com os transbordamentos. Mas a especialista apontou uma questão estrutural que não pode ser minimizada: a drenagem das cidades. “Temos sistemas de drenagem praticamente seculares, que não acompanharam o crescimento e o adensamento populacional”, avalia. A atualização e a complementação dos sistemas atuais, com melhor captação e escoamento da água, são medidas fundamentais para que a prevenção seja efetiva, na visão da professora da UFRPE.
Durante a entrevista, ela também demonstrou preocupação com os efeitos das mudanças climáticas na Região Metropolitana do Recife, mencionando, em especial, a vulnerabilidade do litoral. Soraya El-Deir sugeriu que os cidadãos prestem atenção nos políticos que levam o tema a sério, porque “tudo isso vai piorar” nos próximos anos. Ainda destacou o Estatuto das Cidades como instrumento legal adequado para a gestão dos municípios no país, estabelecendo prioridades para os prefeitos e seus governos.
O desafio da drenagem se insere no contexto de um problema contemporâneo que vem de outra realidade, no passado, e demanda visão aberta para o cenário ambiental em mutação e um futuro incerto. Podemos cuidar agora para que as chuvas ainda mais fortes não provoquem tragédias como rotina. Nessa direção, a articulação entre os gestores da Região Metropolitana é o caminho para minimizar os sustos e as dores que acompanham as nuvens pesadas que chegam a Pernambuco, todo ano.

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