Um hotel que virou dois edifícios com o nome dos donos
O Miramar, primeiro Cinco Estrelas do Recife fechou e a área recebeu dois prédios com o nome do casal que era o dono..................
 
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O Grupo Monte, que possuía o Grande Hotel e o Hotel Guararapes, no centro do Recife, e o Salvador Praia Hotel, na Bahia, decidiu construir o primeiro hotel cinco estrelas do Recife. Inicialmente, tentou adquirir um terreno grande na Avenida Boa Viagem, mas seu alto valor tornou a compra proibitiva. Optou, então, por uma área ampla, numa esquina das ruas dos Navegantes, Benedito Chaves e Petrolina - onde ficava a portaria - e construiu o Hotel Miramar, com 172 apartamentos e a suíte presidencial, que recebeu vários presidentes brasileiros. O hotel foi inaugurado com uma grande festa, em 1972, ocasião em que também foi instalada a placa da Embratur, certificando-o como cinco estrelas. O primeiro do Recife.
Rapidamente, o Miramar se transformou em um símbolo de sofisticação na capital pernambucana. Possuía formato quadrado, com os apartamentos nas laterais e um parque aquático no centro. Em 1976, dois turistas morreram afogados na piscina, causando grande impacto na cidade - um mistério que permanece até hoje.
O hotel era comandado pelo empresário Leonardo Monte, uma lenda da hotelaria pernambucana, com quem almocei muitas vezes no hotel, acompanhado de sua esposa, Mimi. Era um casal encantador e muito querido. Na sua abertura, o hotel contou com o restaurante Gávea, de alto luxo, comandado pelo chef francês Michel. O restaurante funcionou por cinco anos, até o chef deixar o hotel para abrir o “Chez Michel”, na Avenida Conselheiro Aguiar, que rapidamente se tornou um ponto de referência da gastronomia recifense. Tinha pratos batizados com nomes da cidade. Até ganhei um, uma “lagosta ao thermidor.”
Na fase final, o hotel contou com o terceiro endereço do restaurante Marruá, que o grupo abriu inicialmente no Centro de Convenções de Pernambuco e depois na Rua Ernesto de Paula Santos. Dois paulistas, Maluf e Jorge, vieram de São Paulo para comandar as duas unidades, sendo a primeira a servir carnes nobres na cidade. Foram, por anos, as preferidas dos colunáveis. Ambas eram supervisionadas pelo saudoso Romeu Neves Baptista. A unidade no Hotel Miramar, porém, não conseguiu repetir o sucesso.
O Hotel Miramar é lembrado tanto como marco da hotelaria de luxo em Recife quanto como espaço social: eventos, gastronomia e vida noturna. Realizei no hotel o lançamento de uma das edições do livro Sociedade Pernambucana, com a presença de Humberto Saad, dono de grife Dijon e sua garota propaganda, Luiza Brunet, na época a modelo mais famosa do país.
Um grupo do Rio de Janeiro possuía o Hotel Miramar no Rio de Janeiro. Após ganhar uma ação judicial, o hotel do Recife precisou mudar de nome, passando a se chamar Recife Monte Hotel.
Durante muitos anos, o “coffee shop” do hotel foi um enorme sucesso. Aos domingos à tarde, era um frenesi: uma mistura mágica de gente bonita e carros de luxo, quase sempre esportivos. Havia o desfile informal das frequentadoras, a dança das cadeiras no disputado salão da lanchonete e toda a movimentação de paqueras, insinuações e cantadas, nem sempre bem-sucedidas. Uma das figuras mais celebradas era conhecida como Fred Boneca, concorrente festejado pelas meninas.
O Miramar também contava com uma academia de ginástica, muito frequentada numa época em que a cidade tinha poucas opções. Hoje, academias existem em praticamente todas as esquinas. No térreo, funcionaram duas boates que dominaram a vida noturna do Recife: a “Cave” e a “Gaslight”, além de uma barbearia famosa, a “Figaro.”
Após 45 anos de funcionamento, devido à queda na ocupação e à instabilidade econômica e política do país, o hotel fechou suas portas em 20 de julho de 2017. Pouco depois, foi vendido para o Grupo Moura Dubeux. Em vez de realizar um retrofit, como aconteceu nos hotéis Recife Palace e Internacional Palace, o grupo decidiu demolir o prédio. No local, foram construídos dois edifícios de luxo, recentemente finalizados, que receberam os nomes do casal que simbolizou o Miramar: Mimi e Leo Monte.
João Alberto Martins Sobral, editor da coluna João Alberto no Social 1
 
                        