Parte um obstinado; permanece seu legado
Educador e empreendedor, Antônio Carbonari Netto desenvolveu aquilo que se pode chamar de vocação para a transformação..................
 
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A vida do meu grande amigo, educador e empreendedor Antônio Carbonari Netto é uma narrativa que nos inspira a nunca aceitar menos do que o melhor em tudo o que fazemos. Com uma trajetória que se entrelaça com a história da educação superior no Brasil, sua caminhada neste plano deixa obras, conquistas e ensinamentos que apontam para o futuro, um claro indicativo da sua mente visionária e do seu profundo compromisso com a educação brasileira e seu poder de transformação e inclusão social.
Em cada conversa, palestra ou reunião, havia nele uma convicção serena e inabalável: a educação transforma. E ele dizia isso não apenas como slogan, mas como verdade vivida. Carbonari acreditava profundamente que o acesso ao ensino superior era o mais poderoso instrumento de inclusão social. Ele enxergou, antes de muitos, o Brasil que surgia na virada do século: um país de cidadãos que viam no diploma universitário o passaporte para uma vida melhor. Foi essa sensibilidade, aliada à ousadia de gestor e à alma de educador, que o ajudou a abrir as portas da universidade para milhões de brasileiros.
Desde seus primeiros passos como professor de matemática, nos idos dos anos 1970, até os altos cargos de liderança, nunca deixou de ser professor. Para ele, a docência era mais do que profissão: era missão. Foi esse olhar que o conduziu à criação, em 1994, da Anhanguera Educacional, instituição que se tornaria um dos maiores grupos privados de ensino superior do país. O que para muitos seria apenas um empreendimento, para ele era um projeto de vida, uma forma concreta de tornar real o sonho de jovens que, até então, jamais tinham vislumbrado a graduação como possibilidade.
Carbonari desenvolveu aquilo que se pode chamar de vocação para a transformação. Formado em Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1973), especialista em Educação Matemática pela Universidade São Francisco (1979) e em Administração Educacional pela Wisconsin International University (2000), e mestre em Educação, Administração e Comunicação pela Universidade São Marcos (2005), ele era o resultado perfeito da soma de conhecimento técnico com muita obstinação.
Ao lado de sua esposa, a também educadora Maria Elisa Carbonari, ele construiu não apenas uma trajetória de sucesso, mas um modelo de gestão e de propósito. Juntos, compartilharam a crença de que a educação é o caminho mais justo e duradouro para a emancipação humana. E foi com essa crença que, já em outro momento de sua vida, levou o ideal brasileiro de democratização do ensino para além das fronteiras do país, ao fundar a MUST University, nos Estados Unidos. Surgiu ali um projeto inovador de educação internacional e digital, símbolo da sua capacidade de se reinventar sem perder de vista sua essência: ensinar, acolher e inspirar.
Inquieto e sempre disposto a colaborar, Carbonari teve atuação relevante em instâncias como o Conselho Nacional de Educação (CNE), o Conselho Estadual de Educação de São Paulo (CEE-SP) e o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), da Presidência da República. Também foi uma liderança marcante em entidades representativas, como a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), da qual foi um dos fundadores e membro dos Conselhos de Administração e da Presidência, e a Associação Brasileira das Faculdades (Abrafi), sendo, ao meu lado, cofundador e, posteriormente, diretor.
Contudo, sua grandeza ia muito além das instituições que criou ou dos cargos que ocupou. O que o distinguia não era seu extenso currículo, mas sua coerência. Ele falava o que acreditava e fazia o que dizia. Tinha o dom de unir rigor técnico a uma profunda humanidade. Era uma voz de referência em todos os debates relevantes sobre o futuro da educação superior em nosso país. Essa postura firme e generosa lhe rendeu inúmeros reconhecimentos, entre eles o título de Doutor Honoris Causa, concedido pela Universidade de Guarulhos (UNG), honraria que tive a alegria de entregar enquanto chanceler da instituição.
Tive o privilégio de conviver com ele em muitos espaços e pude testemunhar, de perto, sua inquietude. Carbonari não aceitava o mundo como estava; queria sempre saber o que poderia ser melhorado. Falava com paixão sobre o papel das instituições particulares na construção de um país mais justo, sobre o valor do trabalho docente, sobre a necessidade de unir qualidade e inclusão. E, mais do que falar, agia. Tinha o olhar voltado para o futuro, mas os pés firmes na realidade brasileira, combinação que distingue os verdadeiros líderes daqueles que apenas passam.
Sua partida nos comove, mas também nos convoca. Porque honrar o legado de Antônio Carbonari Netto é mais do que lembrá-lo, é continuar a sua obra. É defender a educação superior privada como compromisso social e lutar para que cada jovem brasileiro tenha a oportunidade de estudar, crescer e transformar sua história. É não permitir que o sonho coletivo que ele ajudou a construir se perca diante das dificuldades do presente.
Sua contribuição para a consolidação da educação superior privada como pilar essencial do desenvolvimento nacional é inestimável. Hoje, ao nos despedirmos, sentimos a dor da ausência, mas também o conforto de saber que sua obra permanece viva. Permanece em cada instituição que acredita na força da inclusão. Em cada professor que encontra nele um exemplo. Em cada estudante que, ao segurar seu diploma, realiza o sonho que Carbonari ajudou a tornar possível.
Há pessoas cuja presença é tão marcante que parece impossível imaginar o mundo sem elas. O professor Antônio Carbonari Netto era uma dessas pessoas. Sua partida deixa um silêncio difícil de preencher, mas também uma herança de ideias, de feitos e de inspiração que atravessam o tempo e continuam a iluminar o caminho da educação superior brasileira.
Foi uma grande honra tê-lo como conselheiro, parceiro, amigo e mentor. Parte um obstinado, mas fica seu legado. E é a permanência desse legado que faz dele, para sempre, imortal.
Janguiê Diniz, Diretor-presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), secretário-executivo do Brasil Educação - Fórum Brasileiro da Educação Particular, fundador e controlador do grupo Ser Educacional, e presidente do Instituto Êxito de Empreendedorismo.
 
 
                         
                                                                                    
                                            