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Sérgio Gondim: Incluir é preciso, mas e o ensino básico?

Não é sobre a legalidade, direita, esquerda, elitismo ou preconceito. É sobre a coerência do sistema educacional do país

Por SÉRGIO GONDIM Publicado em 24/10/2025 às 0:00 | Atualizado em 24/10/2025 às 8:20

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A desigualdade e falta de oportunidade são vergonhosos, mas nossa dívida social não é gigante pela própria natureza. O acesso à educação básica de qualidade, fundamento da verdadeira democracia, indica que quanto mais pobre o bairro e mais desassistida a comunidade, melhor deveria ser sua escola, creche, biblioteca, quadra de esportes e posto de saúde.

Estamos longe disso. Entra século sai século, entra prefeito sai prefeito, ministro, presidente e não acontece a revolução na educação do país. Nesse cenário, todas as ideias e iniciativas para incluir quem nunca teve oportunidade merecem ser ouvidas, discutidas e, se razoáveis, implantadas.

Cada um por si

No Brasil é cada um por si, faz-se o que acha certo ou errado no seu quadrado, sem uma política geral compatível com o avanço do país para sair do atraso. Mesmo sem avançar no ensino básico, surge a proposta do salto para universidade com cota e acesso de estudantes procedentes de assentamentos rurais ao curso superior, sem notícia de cuidados para resolver as carências do ensino que precede a universidade.

Muitos estudantes esforçados lutam contra as adversidades de uma vida particularmente difícil e merecem ajuda no preparo para universidade, mas é estranha a exigência de ser assentado quando tantos outros, até sem assento algum, com muito esforço concluíram o ensino médio e não têm o benefício da vaga com acesso diferenciado.

Oferecer condições de igualdade na educação é o que tem retirado países do subdesenvolvimento, mas aqui o sistema perpetua a desigualdade, gera sensação de culpa e a busca de soluções como essa, compreensível do ponto de vista filosófico, mas estranha sob vários aspectos.

Violência

O Brasil está ocupado pelo crime com envolvimento de milhões de jovens sem escolaridade. É uma tragédia porque além de tudo envolve violência. Por outro lado, o prejuízo maior vem dos colarinhos brancos, sem disparar um tiro sequer, saindo dos bancos da universidade que acolhe a elite do país e devolve especialistas em golpes sofisticados e fraudes bilionárias.

Será que os que nunca tiveram assento, sendo bem formados desde o início, podem mudar esse quadro mostrando que a universidade forma cidadãos de verdade?

É louvável a preocupação e dedicação à nobre causa de diminuir desigualdades e corrigir injustiças sociais no limite das forças de cada um. Sonhar em universalizar a universidade pode até ser legal, mas se não houver razoabilidade pode virar pesadelo.

Todas as profissões são sensíveis, medicina talvez mais, com impacto imediato sobre a vida das pessoas o que demanda responsabilidade dos formadores públicos e privados.

A inclusão bem que poderia começar do começo, as portas se abrindo naturalmente e formando o doutor.

A sociedade estaria pagando sua dívida e recebendo troco.

Sérgio Gondim, médico

 

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