Golpe do falso advogado: a reação deve ser de todos
No mundo dos dias de hoje, não dá para facilitar para a neo-criminalidade. É essencial abrir os olhos e estar atento 24 horas........

Clique aqui e escute a matéria
Já virou tópico manjado nas rodas de conversas o tema do golpe do falso advogado. A exemplo do cupim e da madeira, esse tipo de larápio abusa da premissa de ser o cyber space um território sem lei para faturar à custa dos incautos.
Há que se convir: nós sociedade não estamos vencendo a guerra no front repressivo. Temos de intensificar então a artilharia da prevenção. Perseverar nessa estratégia.
É fato. Os malfeitores descobriram um novo "nicho de mercado" no esgoto do submundo que é a sua noção de moral e vêm se fartando. Com a facilidade de acesso a informações processuais e à comunicação digital, se passam por advogados, com abordagens para lá de persuasivas. O golpe costuma ocorrer observando um mesmo script:
Primeiro: o golpista acessa os dados do processo (nome das partes, valores, estágio processual etc) através de fontes públicas; segundo: o golpista cria um número falso de WhatsApp, frequentemente com a logomarca e informações do escritório real; terceiro: em contato direto com a vítima, apresenta uma "oportunidade de acordo" (geralmente vantajosa), mas exige o pagamento antecipado de custas ou honorários via Pix; quarto: a vítima, acreditando na oferta, realiza o depósito em uma conta fornecida pelo golpista.
A pessoa enfim recebe um contato noticiando que há um valor para receber de um processo seu, mas que precisa pagar uma taxa antes. Os golpistas se apoderam de nomes de advogados reais, de sites como o "JusBrasil" e de dados de processos para tentar lucrar algum sem fazer esforço.
O estelionatário lança mão entre outros meios de ligações ou mensagens de WhatsApp com foto de "advogado"; nomes reais de advogados; apresentam documentos falsificados, com logotipos e carimbos; mencionam sites públicos e Diários Oficiais para obter informações processuais; e criam
números com DDD do local da vítima e e-mails falsos semelhantes aos de escritórios de advocacia reais.
A conversa inclui roteiros elaborados como este: "Sou do escritório X, advogado Y da OAB número Z. Preciso de uma transferência para iniciar a liberação dos valores"; a criatividade para o mal é infinita. Há uma verdadeira, desabrida e escancarada manipulação psicológica. E os cordeiros são em bem maior número do que os lobos famintos.
O golpista inocula um senso de urgência na sua vítima ("precisamos liberar hoje, ou você perde o valor"); estabelece autoridade falsa ("trabalhamos com o Tribunal de Justiça"); refere-se a termos jurídicos que ao leigo podem soar confusos para dar um verniz de legitimidade à fraude; e induz ou sugestiona o interlocutor a acreditar que está perdendo uma oportunidade única.
Enquanto se corre contra o tempo para se tentar frear o número de passados para trás, o antídoto é pela prevenção. Por isso: 1) nunca transfira valores sem contrato formal e assinatura eletrônica certificada; 2) sempre pesquise o nome do advogado pelo site da OAB e verifique se está regular; 3) sempre desconfie
de contatos via WhatsApp sem aviso prévio; 4) nunca forneça dados bancários, CPF ou senhas; 5) sempre entre em contato direto com o seu advogado por canais oficiais.
É crucial que se tenha à mão para as devidas providências: comprovantes de transferências; prints de conversas (WhatsApp, e-mails etc); Boletim de ocorrência (pode ser on line); extratos bancários com as movimentações; protocolos de atendimento junto a bancos ou órgãos, tudo em arquivo do tipo PDF, nominando-se cada pasta de arquivo com data e descrição, em ordem cronológica.
Antes, obviamente, bloquear logo o cartão ou a conta bancária; salvar todas as conversas e comprovantes; evitar novo contato com o golpista (bloquear e denunciar o número); e obter ajuda jurídica especializada.
No mundo dos dias de hoje, não dá para facilitar para a neo-criminalidade. É essencial abrir os olhos e estar atento 24 horas, inclusive, para a proteção dos amigos e familiares que se incluam entre os mais vulneráveis, tipo idosos e pessoas de baixa instrução. A vacina para enfrentar o vírus da escória da internet é educar-se para educar os que sozinhos não consigam fazê-lo. Lembremo-nos da sapiência de Tancredo Neves: "A esperteza quando é muita come o dono".
Gustavo Henrique de Brito Alves Freire, advogado