Ivanildo Sampaio: O mensageiro da morte
Da herança dos Kennedy à gestão no governo Trump, Robert Kennedy Jr. simboliza as tensões entre passado histórico e presente político nos EUA

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O presidente Donald Trump já tem o seu "Eduardo Pazzuello", o ministro da Saúde brasileiro, general do Exército e hoje deputado federal, pelo Rio de Janeiro, que popularizou o bordão "um manda, o outro obedece", e que , junto com Jair Bolsonaro, foi responsável pela morte de 600 mil brasileiros, durante a pandemia de Covid. Os dois diziam não acreditar em vacinas. E faziam chacota enquanto a população enterrava seus mortos.
O homem de Trump chama-se Robert Kennedy Jr., filho do ex-ministro da Justiça dos EUA, assassinado em Los Angeles, durante um comício no qual iniciava sua campanha como candidato à Presidência dos Estados Unidos. Era também irmão do presidente John Kennedy, assassinado, em Dallas, no Estado do Texas, quando começava sua campanha pela reeleição.
O crime foi atribuído à Máfia, embora jamais fosse claramente esclarecido, apesar de exaustivamente investigado. Na morte de Bob, o assassino foi preso no local. Com pena de prisão perpétua, vez que no Estado da Califórnia não havia pena de morte.
Custa a crer que esse Kennedy, membro de uma família de políticos democratas da Nova Inglaterra, tenha buscado abrigo no que há de mais conservador na política Norte-americana, Partido Republicano de Donald Trump, – e com uma visão tão curta da política e do mundo. Mas, o clã dos Kennedy não era perfeito, na família se dividiam anjos e demônios.
Enquanto perdurou a comoção nacional por conta da morte do Presidente John Kennedy, não se falou muito no histórico no Patriarca, o velho Joe, que fez fortuna na época da Lei Seca, contrabandeando bebidas de países da Europa para os Estados Unidos.
O mafioso Al Capone também fazia isso. Escolhido pelo Presidente Franklin Delano Roosevelt como embaixador dos EUA no Reino Unido, Joe passou pouco tempo no cargo – e voltou de “teto baixo”, depois de manifestar sua admiração por Adolf Hitler, quando o Exercito nazista ocupava os países da Europa.
Regressando, trabalhou para ver o filho primogênito, Joe Kennedy Jr, disputando a Presidência dos EUA. Não conseguiu: infelizmente o jovem morreu na Guerra. O Patriarca, milionário, passou a preparar John, o segundo varão, para disputar o cargo. John terminou chegando lá.
Com ajuda estratégica e financeira da Máfia. Os dois irmãos, John e Bob, eram muito próximos. Tão próximos que, apesar de casados, durante algum tempo dividiram a cama e os carinhos de Marilin Monroe, a atriz mais desejada de Hollywood, parando a suspeita de que, na noite de sua morte, um dos dois esteve com ela, cabendo ao FBI apagar os vestígios dessa visita.
O atual Secretário de Saúde dos Estados Unidos, Robert Kennedy Jr. – que aqui seria ministro da Saúde – na sua curta gestão já mostrou a que veio. Depois de concordar com o corte de uma verba no valor de 1 trilhão de dólares para o setor, Robert Kennedy Jr viu ressurgirem doenças que pareciam erradicadas há mais de 20 anos, como o sarampo e a coqueluche, que se espalham por vários Estados, entre eles Washington, o Texas e a Louisiana.
Na Flórida, governada por um político de extrema-direita, deixou de ser obrigatória a vacina nas escolas do Estado. Além disso, num país onde cuidar da saúde custa muito caro, cerca de 10 milhões de pessoas das classes menos favorecidas estão sem cobertura do seguro-saude.
Na verdade, o Governo Trump não é “da direita”; é da “extrema-direita”. O vice-presidente, James Vance, e o Secretário de Estado, Marco Rubio, são políticos de extrema-direita, escolhidos a dedo pelo próprio Trump, antes mesmo de sua posse na Presidência. Robert Kennedy Jr. faz parte desse time.
A morte do seu pai, assim como a do tio, sempre esteve encoberta com um manto de dúvidas, embora se tenha quase certeza de que as “Cinco Famílias da Mafia, reunidas num jantar em de Miami, tenham decidido pela morte do presidente John Kennedy.
E a morte de Robert? Consumada por um atirador que parecia ter algum distúrbio mental, sem nunhum vículo com grupos políticos, de esquerda ou da direita, sem nenhuma relação com o crime organizado? Quem mandou matar Robert Kennedy, filho de Joe, irmão de John e de Teddy – que, mais tarde, se elegeria senador e cumpriria vários mantados, pelo Estado de Massachussets.
E que também foi personagem de um episódio triste, quando, dirigindo embriagado depois de uma noite de farra , mergulhou com seu carro na Ilha de Chappaquidick, provocando a morte de uma jovem que lhe fazia companhia.
Mas, sobre a morte do pai do atual Secretário de Saúde de Donald Trump, o que se sabe a respeito? Oficialmente, nada, mas as especulações foram muitas. Uma delas colocava por tras do crime nada mais nada menos que o bilionário grego Aristóteles Onassis, segundo marido de Jackeline Kennedy, viúva do presidente assassinado.
Quando Secretario de Justiça do irmão- presidente e pai do atual secretário de saúde de Trump, Bob Kennedy teria boicotado a compra, por parte de Onassis, de navios sucateados da Segunda Guerra, arrematados em leilão, para transforma-los em petroleiros.
Na época, Onassis já era um dos maiores armadores do mundo. Brigou na Justiça mas perdeu a briga. E nunca perdoou Bob, passando a odia-lo ainda mais quando o grego casou com a viúva, sua cunhada. E buscou atrapalhar os negócios de Onassis onde pôde e como pôde.
Nas suas ligações com empresários árabes, o armador grego teria “encomendado” a morte de Robert Kennedy, por um desconhecido, fronteiriço, sem ficha na polícia, sem partido e sem antecedentes criminais.
Essa possibilidade foi revelada pelo jornalista inglês Peter Evans, autor do livro “Nêmesis”, onde fala das relações entre os Kennedys e o armador grego. Portando, Robert Kennedy Jr., membro de uma família que se insere na história norte-americana do Século Vinte, tem nas veias “sangue bom” e “sangue ruim”.
Para os seguidores do Partido Democrata norte-americano, ele traiu a mamória e o lado bom da Família Kennedy. Por consequência predomina sobre o neto do velho Joe, o lado ruim do avô.
Ivanildo Sampaio é jornalista