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Adriano Oliveira: A raposa, o ouriço e a oposição a Lula

Entre raposas e ouriços, a oposição insiste em erros que fortalecem Lula e revelam a importância da sabedoria política na adaptação ao poder

Por ADRIANO OLIVEIRA Publicado em 27/09/2025 às 15:49

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Nem todo político é sábio, independentemente da quantidade de votos que recebeu para ser eleito. Todos os políticos não precisam ser sábios em virtude de que o excesso deles poderá prejudicar a alternância de poder. A política obedece a lógica de Charles Darwin, ou seja, permanecem os mais sábios, os que conseguem se adaptar às tempestades.

No ambiente político encontro raposas e ouriços. As primeiras, segundo Isaiah Berlin em sua obra “O ouriço e a raposa”, sabem de muita coisa. Tem uma visão do todo. E vou além: decifra bem o passado, o presente e vislumbra o futuro. Já o ouriço enxerga (sabe) bem apenas uma coisa e esquece do todo. A oposição ao governo Lula se comporta como um ouriço. Só consegue enxergar a força do bolsonarismo, a qual, vale frisar, não é suficiente para vencer a vindoura eleição presidencial.

Nos primeiros meses do ano, as pesquisas quantitativas revelavam a queda da popularidade do governo Lula. As pesquisas qualitativas da Cenário Inteligência mostravam que o trabalho atual do presidente Lula estava sendo comparado com as suas eras passadas e em razão disto, mais inflação e o convicto eleitorado bolsonarista, o crescimento da popularidade do governo não acontecia.

Diante dessa conjuntura, a oposição a Lula optou equivocadamente por insistir no bolsonarismo, mesmo sabendo que a condenação do ex-presidente não representava o acaso, mas a certeza.

Em abril deste ano, a oposição teve a grande oportunidade de reforçar a imagem de corrupto que parcela da população tem do presidente Lula e do PT quando veio à tona o Escândalo do INSS. Todavia, a oposição seguiu a defender nova candidatura de Jair Bolsonaro e a falar sobre anistia, mesmo antes do julgamento do ex-mandatário da República.

Finda o primeiro semestre, e o governo Lula começa lentamente a reagir. A popularidade do governo seguiu estável e os sentimentos dos eleitores, conforme pesquisas qualitativas, revelavam a manutenção da alta rejeição de Jair Bolsonaro e um dado bem explicativo: “Entre Lula e Bolsonaro, eu prefiro Lula”.

A paixão seguiu a orientar a estratégia equivocada da oposição. Em vez de insistir e dar magnitude às notícias do INSS e à inflação de alimentos, ela seguiu a defender a anistia, e mais duas novas defesas vieram à tona: Tarcísio de Freitas como candidato bolsonarizado à presidente da República e a decisão do governo Trump de taxar produtos brasileiros.

Em 11 de setembro de 2025, o Supremo Tribunal Federal (STF) fez o esperado: Condena Jair Bolsonaro. A oposição seguiu a insistir na anistia, e em decorrência de uma ação infantilizada de alguns políticos, chega ao plenário da Câmara dos Deputados, a PEC da Blindagem, a qual é aprovada e recebe intensas e volumosas críticas da imprensa, internautas e do presidente Lula. Em seguida, manifestantes vão às ruas protestar contra a referida PEC e a anistia.

Os erros da oposição a Lula fizeram com que a pauta “combate à corrupção” voltasse para os discursos de políticos do PT e do presidente Lula, assim como eles faziam antes do Escândalo do Mensalão. Em decorrência das manifestações do último domingo, a pauta “Anistia” já não tem mais pressa para ser votada e a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5.000, a qual tem forte apelo popular e deve beneficiar a popularidade de Lula, deve ser aprovada no Congresso até o final de outubro. E mais: Em encontro na ONU, os presidentes Lula e Trump se encontraram e devem se reunir em breve.

O presidente Lula é beneficiado pelos erros da oposição e por acasos. Contam que a “química” com Trump não foi acaso, mas interferência do empresário Joesly Batista. Não podemos negar que a oposição seja um ouriço, ou, para quem deseja outra tipologia, um outro animal pode cair bem.

Cientista político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência: Pesquisa Qualitativa & Estratégia

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