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Aloisio Sotero: Exportadores de manga evitaram um desastre fitossanitário sem precedentes!

Um ataque da Mosca-da-Fruta poderia afetar outras frutas produzidas no Vale do São Francisco, destruindo mercados de exportação já conquistados

Por ALOISIO SOTERO Publicado em 14/09/2025 às 17:38

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Produtores do Vale do São Francisco evitaram um ataque severo da Mosca-da-Fruta ao colher e exportar as mangas a tempo.

Caso permanecessem no pé sem ser colhidas, as frutas tenderiam a amadurecer, acelerando a fermentação e a deterioração, criando condições propícias à atração e proliferação da praga da Mosca-da-Fruta, configurando risco fitossanitário capaz de comprometer a safra atual e as exportações futuras.

Um ataque da Mosca-da-Fruta ainda poderia afetar gravemente outras frutas produzidas no Vale do São Francisco, destruindo mercados de exportação já conquistados. Além disso, dificultaria — ou até impediria — a abertura e diversificação de novos mercados.

Uma visão estratégica de mercado

Mesmo diante dos impactos desfavoráveis de preços, provocados pelas supertarifas impostas pelo governo Trump, os produtores colheram as mangas e exportaram.

Com visão e foco em manter seus clientes no mercado norte-americano, os produtores do Vale do São Francisco evitaram um desastre fitossanitário, que poderia ter ocorrido caso fosse mantida a manga no pé.

O fluxo da exportação foi possível graças a um acordo com os importadores americanos, que receberam os produtos em regime de consignação, permitindo a operação de forma estruturada.

Reduziram suas margens ao limite mínimo — em alguns casos até com prejuízo — para manter clientes e preservar seus negócios.

A nossa manga conquista a aprovação de importadores e o paladar dos consumidores norte-americanos

As exportações de manga para o mercado norte-americano foram destaque, recebendo 2,92 mil toneladas em agosto — quase o dobro das 1,52 mil toneladas do mesmo mês do ano passado, um avanço de 92,4%. Isso mesmo: mesmo com o tarifaço de 50% imposto pelo governo Trump!

Os mercados têm um preço

Estratégia e visão de longo prazo, somadas ao compromisso dos produtores do Vale do São Francisco, garantiram a presença no mercado internacional — mesmo com margens reduzidas ou até prejuízo para manter clientes.

Em outras palavras, os produtores encontraram o seu jeito para não perder espaço e preservar relações comerciais. Porém, essa postura tem um custo: ao sustentar operações com rentabilidade comprimida, o endividamento cresce e os encargos financeiros se tornam mais pesados.

O “mercado tem um preço” — e parte desse preço é paga na forma de maior exposição ao risco financeiro e pressões sobre o caixa. Ainda assim, manter clientes estratégicos costuma ser mais lucrativo do que perdê-los, pois reconquistar espaço no mercado internacional pode sair muito mais caro.

Oportunidade do Terroir agrícola do Vale do São Francisco

O momento atual abre oportunidades para ampliar a diversificação comercial. A aprovação e certificação no mercado norte-americano, junto ao crescimento das exportações apesar do supertarifaço, reforçam a qualidade e a regularidade da manga cultivada no terroir agrícola do Vale do São Francisco.

Manter a presença em tempos desafiadores é um verdadeiro atestado da maturidade empresarial dos produtores.

Com essa visão estratégica, os exportadores da manga do Vale do São Francisco preservaram espaço de mercado conquistado também pelo padrão de qualidade e pela regularidade de entrega — sobretudo em variedades como a Tommy Atkins, bastante aceita entre os consumidores norte-americanos, ampliando o consumo em supermercados e cadeias de restaurantes.

Não existe excedente ou manga no pé da safra deste ano para o Programa de Compras Governamentais do Governo Federal — por sinal, sem definição de recursos e com uma logística complexa.

Essa visão estratégica de longo prazo mostra a maturidade dos produtores do Vale do São Francisco, evitando que exportadores de outros países, como México e Equador, ocupem essa preciosa janela de exportação em função de tarifas bem menores do que as do Brasil.

O Brasil exportou, em agosto, 19,7 mil toneladas de manga — número acima da média histórica de 14,9 mil toneladas. No acumulado de janeiro a agosto, os embarques somaram 131,7 mil toneladas, crescimento de 18,3% em comparação ao mesmo período de 2024.

Aloisio Sotero, Consultor Estratégico, Designer de Negócios, Membro do Conselho Editorial da Revista da FUNCEX — Fundação de Comércio Exterior do Brasil

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