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As nações precisam de líderes globais

Liderar um país no século atual exige muito mais do que habilidade técnica ou retórica política. Exige visão de mundo..............

Por EDUARDO CARVALHO Publicado em 12/09/2025 às 0:00 | Atualizado em 12/09/2025 às 9:51

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Em tempos de interdependência planetária, mudanças climáticas, tensões geopolíticas, pandemias, desigualdade e transformação digital acelerada, a liderança nacional precisa ser, necessariamente, também uma liderança global.

Liderança global, nesse contexto, é a capacidade de governar com competência intercultural, responsabilidade ética e inteligência sistêmica, compreendendo que os desafios internos de um país estão profundamente conectados aos movimentos do mundo. O líder de uma nação, hoje, não pode se limitar à lógica da fronteira. Ele precisa ser um guardião do interesse nacional com consciência do bem comum global.

Um verdadeiro líder global no comando de um país é aquele que pensa estrategicamente e age com empatia e bom senso diante dos desafios globais. Entende que o crescimento econômico não pode ocorrer à custa do meio ambiente. Compreende que a inclusão social não é uma escolha ideológica, mas um imperativo democrático. Sabe que a qualidade da educação e da saúde são pré-requisitos para o fortalecimento da soberania e para a inserção positiva do país no mundo.

Ao invés de cultivar discursos isolacionistas, negacionistas ou nacionalistas, a liderança de um país precisa abraçar o conceito de cidadania planetária, articulando os interesses locais com os compromissos globais. Isso inclui a adesão e promoção ativa dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a defesa incondicional dos direitos humanos, o fortalecimento de instituições democráticas e a construção de pontes diplomáticas.

Um líder global à frente de uma nação é, antes de tudo, um educador moral da sociedade. Ele dá o exemplo. Assume a responsabilidade pelas consequências de suas decisões. Incentiva a escuta ativa, o diálogo entre diferentes visões e o engajamento cívico da população. Promove a transparência, combate a corrupção e age com coerência entre o que diz e o que faz. Sua autoridade não se baseia no medo ou na manipulação, mas na confiança e no compromisso com a verdade.

Além disso, a liderança política com visão global compreende a importância da cooperação internacional. Reconhece que problemas complexos como a fome, as migrações forçadas, o tráfico de pessoas, as pandemias ou a crise climática exigem soluções articuladas entre países. Um presidente, um primeiro-ministro ou um chefe de Estado com espírito global não vê o multilateralismo como ameaça, mas como oportunidade de construir soluções sustentáveis e duradouras.

Essa liderança também valoriza o capital humano e investe na formação de uma geração capaz de dialogar com o mundo. Fomenta políticas públicas que promovam a educação global, a inovação, a cultura de paz e o empreendedorismo com impacto social. Valoriza a diversidade como força estratégica. Estimula o desenvolvimento da ciência, da arte e da tecnologia como caminhos para o progresso coletivo. E sabe que respeitar a liberdade de imprensa, a autonomia das instituições e a pluralidade de ideias é fortalecer o tecido democrático de uma nação.

Um líder global que governa um país sabe pensar no tempo longo. Assume compromissos que ultrapassam mandatos eleitorais. Constrói políticas de Estado, e não apenas de governo. Não busca protagonismo pessoal, mas a construção de um projeto nacional duradouro e compartilhado. Entende que liderar é servir, não se servir. É cuidar do presente com responsabilidade e preparar o futuro com coragem.

Essa referência de liderança é rara — mas é exatamente o que o mundo mais precisa. Precisamos de estadistas, não apenas gestores. Precisamos de líderes que saibam mobilizar recursos para promover transformações estruturais, com senso de justiça, humildade e compromisso com o bem comum. Precisamos de líderes que saibam dialogar com a complexidade sem ceder ao populismo, e que enfrentem a realidade sem sacrificar a esperança.

A liderança global em nível nacional não significa abrir mão da soberania, mas sim compreendê-la de forma madura: como a capacidade de cooperar, influenciar, contribuir e aprender. Um país que aposta em líderes com visão global investe no fortalecimento de sua imagem internacional, amplia seu poder de negociação em fóruns multilaterais e demonstra responsabilidade perante as gerações futuras. Essa postura também atrai investimentos, estimula a diplomacia científica e educacional, e promove um ambiente de confiança e previsibilidade nas relações internacionais.

Um líder com essa estatura entende que o futuro do planeta depende de decisões tomadas hoje. Escolhas sobre energia, tecnologia, meio ambiente, saúde e educação não podem ser feitas com base apenas em interesses eleitorais ou pressões momentâneas. Exigem visão de estadista, capacidade de integrar saberes e compromisso com o legado coletivo. Esse líder reconhece que um país não se projeta para o mundo apenas com crescimento do PIB, mas com capital humano bem formado, instituições sólidas, cultura valorizada e vocação solidária.

Quando um país encontra em seu líder esse espírito de pertencimento global, sua atuação internacional se fortalece, sua diplomacia se qualifica e sua população se sente parte de algo maior. O país passa a ser visto não como um ator periférico, mas como uma potência ética, cultural e ambiental — respeitada, confiável e inspiradora.

Em suma, liderar um país com visão global é reconhecer que o destino da humanidade é comum. É agir localmente com responsabilidade e globalmente com solidariedade. É pensar além das eleições. É cultivar um propósito que transcenda fronteiras. Porque a história já nos ensinou: quando o mundo clama por líderes, os líderes que respondem com grandeza fazem toda a diferença.

Eduardo Carvalho, Harvard University/IPERID Fellow

 

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