As nações precisam de líderes globais
Liderar um país no século atual exige muito mais do que habilidade técnica ou retórica política. Exige visão de mundo..............

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Em tempos de interdependência planetária, mudanças climáticas, tensões geopolíticas, pandemias, desigualdade e transformação digital acelerada, a liderança nacional precisa ser, necessariamente, também uma liderança global.
Liderança global, nesse contexto, é a capacidade de governar com competência intercultural, responsabilidade ética e inteligência sistêmica, compreendendo que os desafios internos de um país estão profundamente conectados aos movimentos do mundo. O líder de uma nação, hoje, não pode se limitar à lógica da fronteira. Ele precisa ser um guardião do interesse nacional com consciência do bem comum global.
Um verdadeiro líder global no comando de um país é aquele que pensa estrategicamente e age com empatia e bom senso diante dos desafios globais. Entende que o crescimento econômico não pode ocorrer à custa do meio ambiente. Compreende que a inclusão social não é uma escolha ideológica, mas um imperativo democrático. Sabe que a qualidade da educação e da saúde são pré-requisitos para o fortalecimento da soberania e para a inserção positiva do país no mundo.
Ao invés de cultivar discursos isolacionistas, negacionistas ou nacionalistas, a liderança de um país precisa abraçar o conceito de cidadania planetária, articulando os interesses locais com os compromissos globais. Isso inclui a adesão e promoção ativa dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a defesa incondicional dos direitos humanos, o fortalecimento de instituições democráticas e a construção de pontes diplomáticas.
Um líder global à frente de uma nação é, antes de tudo, um educador moral da sociedade. Ele dá o exemplo. Assume a responsabilidade pelas consequências de suas decisões. Incentiva a escuta ativa, o diálogo entre diferentes visões e o engajamento cívico da população. Promove a transparência, combate a corrupção e age com coerência entre o que diz e o que faz. Sua autoridade não se baseia no medo ou na manipulação, mas na confiança e no compromisso com a verdade.
Além disso, a liderança política com visão global compreende a importância da cooperação internacional. Reconhece que problemas complexos como a fome, as migrações forçadas, o tráfico de pessoas, as pandemias ou a crise climática exigem soluções articuladas entre países. Um presidente, um primeiro-ministro ou um chefe de Estado com espírito global não vê o multilateralismo como ameaça, mas como oportunidade de construir soluções sustentáveis e duradouras.
Essa liderança também valoriza o capital humano e investe na formação de uma geração capaz de dialogar com o mundo. Fomenta políticas públicas que promovam a educação global, a inovação, a cultura de paz e o empreendedorismo com impacto social. Valoriza a diversidade como força estratégica. Estimula o desenvolvimento da ciência, da arte e da tecnologia como caminhos para o progresso coletivo. E sabe que respeitar a liberdade de imprensa, a autonomia das instituições e a pluralidade de ideias é fortalecer o tecido democrático de uma nação.
Um líder global que governa um país sabe pensar no tempo longo. Assume compromissos que ultrapassam mandatos eleitorais. Constrói políticas de Estado, e não apenas de governo. Não busca protagonismo pessoal, mas a construção de um projeto nacional duradouro e compartilhado. Entende que liderar é servir, não se servir. É cuidar do presente com responsabilidade e preparar o futuro com coragem.
Essa referência de liderança é rara — mas é exatamente o que o mundo mais precisa. Precisamos de estadistas, não apenas gestores. Precisamos de líderes que saibam mobilizar recursos para promover transformações estruturais, com senso de justiça, humildade e compromisso com o bem comum. Precisamos de líderes que saibam dialogar com a complexidade sem ceder ao populismo, e que enfrentem a realidade sem sacrificar a esperança.
A liderança global em nível nacional não significa abrir mão da soberania, mas sim compreendê-la de forma madura: como a capacidade de cooperar, influenciar, contribuir e aprender. Um país que aposta em líderes com visão global investe no fortalecimento de sua imagem internacional, amplia seu poder de negociação em fóruns multilaterais e demonstra responsabilidade perante as gerações futuras. Essa postura também atrai investimentos, estimula a diplomacia científica e educacional, e promove um ambiente de confiança e previsibilidade nas relações internacionais.
Um líder com essa estatura entende que o futuro do planeta depende de decisões tomadas hoje. Escolhas sobre energia, tecnologia, meio ambiente, saúde e educação não podem ser feitas com base apenas em interesses eleitorais ou pressões momentâneas. Exigem visão de estadista, capacidade de integrar saberes e compromisso com o legado coletivo. Esse líder reconhece que um país não se projeta para o mundo apenas com crescimento do PIB, mas com capital humano bem formado, instituições sólidas, cultura valorizada e vocação solidária.
Quando um país encontra em seu líder esse espírito de pertencimento global, sua atuação internacional se fortalece, sua diplomacia se qualifica e sua população se sente parte de algo maior. O país passa a ser visto não como um ator periférico, mas como uma potência ética, cultural e ambiental — respeitada, confiável e inspiradora.
Em suma, liderar um país com visão global é reconhecer que o destino da humanidade é comum. É agir localmente com responsabilidade e globalmente com solidariedade. É pensar além das eleições. É cultivar um propósito que transcenda fronteiras. Porque a história já nos ensinou: quando o mundo clama por líderes, os líderes que respondem com grandeza fazem toda a diferença.
Eduardo Carvalho, Harvard University/IPERID Fellow