Polícia Civil: a mais confiável precisa ser reconhecida
a confiança popular é um patrimônio raro e, se não for consolidada, pode se transformar em frustração e desprestígio para quem governa.

Clique aqui e escute a matéria
A Polícia Civil conquistou o que muitas instituições perderam, ou seja, a confiança do povo. Em meio a uma crise de legitimidade, que atinge praticamente todos os poderes da República, a pesquisa Atlas/Bloomberg, realizada em agosto de 2025, merece atenção imediata. Ela constatou que 81% dos brasileiros não confiam no Congresso Nacional e 52% não acreditam no Governo Federal. Em contrapartida, 60% da população declara confiar na Polícia Civil, colocando-a como a instituição mais respeitada do país.
Esse resultado não surgiu por acaso, pois foi construído na prática diária e no contato direto com a população, longe das promessas políticas e da retórica vazia. Está presente na delegacia que acolhe denúncias, na investigação que esclarece crimes e no trabalho silencioso de profissionais que, com poucos recursos, entregam respostas concretas à sociedade. É neste enfrentamento real e diário da criminalidade, que emergiu tamanha credibilidade.
Em Pernambuco, chegou a hora de converter esse reconhecimento em política efetiva de Estado, o que posiciona a Lei Orgânica da Polícia Civil como uma prioridade inadiável. Sua aprovação além de ser um avanço institucional, é o requisito principal para modernizar a estrutura, atualizar funções, dar clareza às atribuições e oferecer ferramentas adequadas para investigações eficientes. Isso significa maior capacidade de resposta, mais justiça e segurança para as famílias pernambucanas. Portanto, uma lei atualizada não é favor, mas obrigação diante do que a sociedade já reconheceu.
Fortalecer e valorizar a Polícia Civil é, sem dúvida, reforçar a própria democracia. Enquanto tantas entidades governamentais perdem legitimidade, é no trabalho do policial civil que a população encontra a esperança do amparo institucional, fazendo com que os dados do relatório não sejam apenas um número, mas o reflexo de uma autêntica expectativa por justiça e proteção. Para que essa autoridade moral conquistada não se perca, o Estado precisa, sem delongas, corresponder com investimentos em tecnologia, garantir condições dignas de trabalho, ampliar equipes e dignificar os policiais civis, que vivem de gerenciar crises criminais, sociais, humanas e institucionais, tudo ao mesmo tempo e, contraditória e injustamente, sem a devida valorização.
Agora, como a Polícia Civil já provou seu valor, cabe ao poder público converter essa validação em ações objetivas e maximizadas. Afinal, a confiança popular é um patrimônio raro e, se não for consolidada, pode se transformar em frustração e desprestígio para quem governa.
Claudia Molinna, vice-presidente da ADEPPE, Associação dos Delegados e Delegadas de Polícia de Pernambuco