Procura-se um estadista
O saudoso ex-governador de Pernambuco Marco Maciel costumava dizer que "quem tem prazo, não tem pressa". Mas nós hoje temos pressa

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No próximo ano, O Brasil deverá realizar eleições para escolha de um novo Presidente da República. Embora tenha hoje vários pretendentes silenciosos e alguns declarados, os declarados não têm votos e os silenciosos tendem a continuar em silêncio, para não melindrar Jair Bolsonaro, que, não sendo ele o candidato, luta para que seja alguém carregando o seu sobrenome. Que poderia ser Michelle Bolsonaro, sua mulher e pastora evangélica; ou seu filho, Flávio Bolsonaro, senador pelo Rio de Janeiro e considerado o mais ponderado dos filhos do ex-presidente.
Eduardo, o Zero Três, eleito deputado por São Paulo com a maior votação do País, hoje é execrado pelo grande empresariado paulista que é, de fato, quem dita as regras para a política econômica nacional. Esse empresariado jamais vai perdoar o deputado Zero Três por ter trabalhado incansavelmente junto aos áulicos de Donald Trump para impor medidas punitivas ao Brasil, com impactos irrecuperáveis sobre a economia, a curto e a médio prazo.
Afinal, foi esse mesmo empresariado, bolsonarista e "anti-PT",quem ajudou a eleger Eduardo Bolsonaro. E quem pariu Mateus, que o embale. Carlos Bolsonaro, o "Zero Dois" e controlador das redes sociais, vereador no Rio de Janeiro, trabalha apenas nos bastidores - e mesmo o pai não ousaria colocá-lo para um vôo tão alto.
Do outro lado, os candidatos do PT são Lula, Lula, e Lula mesmo. Ninguém ousa sequer levantar um outro nome no Partido ou no Centro-Esquerda, como pré-candidato à Presidência da República. Além disso, a administração petista vai mal, como indicam as pesquisas de opinião, realizadas de Norte a Sul do Pais. Tudo isso é para lembrar que o futuro próximo do País está cheio de incertezas, de problemas profundos, de crises próximas ou se aproximando.
Portanto, não se pode entregar a Nação a qualquer pretendente - e a bem da verdade, o Brasil implora por um estadista. E a Biblia é diferente da Constituição. O Brasil exige e precisa de um líder com legitimidade bastante para promover reformas profundas na estrutura da República, a começar pelo equilíbrio das contas públicas, perigosamente descontroladas, pelo enxugamento da máquina, pelo corte dos supersalários, inclusive no Poder Judiciário, onde a camuflagem esconde ganhos muitas vezes superiores ao que estabelece a legislação em vigor. No Executivo, não há qualquer necessidade de tantos Ministérios como existem na nossa República.
Cada ministro, com suas estruturas, que compreendem desde um simples contínuo até um "ministro substituto" - passando por assessoras, juristas, consultores e sabe-se mais quem, todos pagos pelos impostos que todos recolhemos. No Legislativo, chega a ser vergonhoso o número de assessores que cada gabinete parlamentar agrega. Os Fundos Partidários, as emendas impositivas, os "auxílios" disso e daquilo são gastos reais, dispensáveis e algumas vezes até mesmo vergonhosos.Ninguém liga para a dívida pública, que já ultrapassa 78% do Produto Interno Bruto..
Pergunta-se: um candidato tirado da algibeira de algum político que hoje trafega no universo nacional teria condições de promover tais mudanças? Com todo respeito a pastora evangélica Michelle Bolsonaro, que condições políticas, experiência administrativa ou de liderança ela teria para encarar esse desafio? A Carta Magna Brasileira não é uma Bíblia - embora exija dedicação plena e respeito absoluto.
Dos governadores que, timidamente, se colocam no páreo - nenhum deles, hoje, parece ter vontade própria - e todos pensam e falam como robôs do ex-presidente Jair Bolsonaro. Até mesmo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, bem avaliado em seu Estado e preferido, em surdina, daquele mesmo empresariado que ajudou Jair Bolsonaro a eleger-se Presidente. Some-se ainda o despreparo de outros nomes, como Romeu Zema, de Minas Gerais, separatista que prega a criação de um país formado pelos Estados do Centro--Sul, isolado do Norte/Nordeste, que segundo sua visão curta, dão prejuízo à União. Jorginho Melo, de Santa Catarina; Ratinho Junior, do Paraná; e Ronaldo Caiado, de Goiás, Estão na mídia apenas para garantir a campanha de reeleição em seus Estados.
Do outro lado, sequer se fala num possível candidato do PT, no caso da inviabilidade do presidente Lula, um octogenário de saúde debilitada e gestão mal avaliada. E que não para de cometer erros, interna e externamente. Não há, no PT, uma liderança nova, não há um só nome que seja nacionalmente conhecido, não há governadores - e a Força Sindical da Região do ABC paulista é apenas um capitulo da história. O presidente Lula, aliás, lembra um pouco o ex-presidente Joe Biden, que, por teimosia e Insistência numa disputa imprevisível, acabou enterrando as chances de Camilla Harris, do seu Partido, e entregando a presidência dos EUA a Donald Trump, e ao que há de pior no conservadorismo norte-americano. E nós? Para onde iremos?
O saudoso ex-governador de Pernambuco e ex-vice presidente Marco Maciel costumava dizer que "quem tem prazo, não tem pressa". Nós deveríamos ter pressa, porque os prazos estão acabando. Prazo pelo fim da violência; prazo para acabar expansão do crime organizado; prazo por escolas decentes e ao alcance da sociedade; prazo por hospitais dignos, acolhedores e por um sistema de saúde que garantam dignidade ao ser humano; prazo pelo direito de garantir o futuro dos filhos numa sociedade mais justa e mais igualitária. Porque, esperar também cansa. E sociedade pode reagir quando o o prazo de espera acabar.
Ivanildo Sampaio, jornalista