Fraude no INSS: o que podemos aprender a partir de quase 5 mil tweets?
Este texto apresenta os resultados de um levantamento inédito realizado pelo Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco.

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Usando as palavras-chave "INSS Lula" e "INSS Bolsonaro", foram analisadas um total de 4.748 postagens realizadas na plataforma X (antigo Twitter) entre o dia 23 de abril de 2025, que marcou a deflagração da operação pela Controladoria Geral da União e a Polícia Federal e o dia 12 de maio de 2025.
Os principais resultados indicam que o debate em torno do presidente Lula foi muito maior, uma vez que a forma de coleta detectou mais menções à palavra-chave "INSS Lula". Além disso, as evidências sugerem que a abordagem adotada no trabalho pode enriquecer a compreensão sobre a opinião pública em torno de temas complexos, como o que será aqui abordado, bem como sobre ideologia política no Brasil indo além das tradicionais pesquisas de opinião.
Utilizando técnicas de Processamento de Linguagem Natural e Análise de Sentimentos, os posts coletados apontam um padrão de posição reativa de apoiadores de Bolsonaro, estratégia típica de uma oposição que busca desestabilizar a agenda do governo vigente em picos de crise. O evento de mobilização mais significativo ocorreu em 9 de maio, apenas dois dias após o vídeo viral do Deputado Federal Nikolas Ferreira (PL-MG), demonstrando o sucesso da ação em mobilizar uma audiência considerável e favorável, com aproximadamente 63,2% de posts. O mesmo vídeo deve ser a possível causa da queda substancial de apoio ao atual presidente: de 52,2% no dia 07 de maio para 33,5% no dia seguinte.
A análise mais detalhada dos dados referentes ao presidente Lula aponta para uma estratégia de comunicação proativa e sustentada, essencial para um governo em exercício que precisa projetar uma imagem de controle e ação, com ápice da sua eficácia no dia 7 de maio (um dia após reunião de Lula sobre o ressarcimento), com 52,2% de apoio nas postagens. No entanto, mesmo adotando essa estratégia, os resultados revelam todos os outros dias analisados com maior porcentagem para posts contra o atual presidente, alcançando alarmantes 61% em 28 de abril, dois dias após a deflagração da fraude.
Os resultados também mostraram que as menções negativas para ambas as entidades se distribuíram da seguinte forma: aproximadamente 37,5% considerando os posts relacionados a Bolsonaro e aproximadamente 47,5% nos posts de Lula. No que diz respeito às menções consideradas neutras, 19% para o Bolsonaro e 26,6% para Lula.
A diferença no sentimento negativo pode parecer pequena, mas esses 10% podem ser vistos como algo significativo já que a quantidade de postagens mencionando o atual presidente superou às que mencionaram Bolsonaro em 1.710 posts. Já em termos de sentimentos neutros, embora pareçam representar números pequenos, tivemos, para Bolsonaro, um total de 289 posts e para Lula um quantitativo ainda maior: 860. Os resultados revelam uma grande quantidade de menções descritivas, que narram acontecimentos ou contam fatos. As postagens consideradas neutras totalizam 1.149 comentários descritivos, sem opiniões claras a favor ou contra alguma das entidades estudadas, o que representa aproximadamente 24,2% do total de postagens.
Em síntese, o levantamento evidencia que, apesar de uma estratégia comunicacional mais proativa por parte do governo Lula, a narrativa predominante na plataforma X manteve-se majoritariamente crítica ao atual presidente. A base opositora, associada a Bolsonaro, demonstrou maior capacidade de mobilização reativa em momentos de crise, aproveitando-se de eventos específicos, como o vídeo do deputado Nikolas Ferreira, para impulsionar picos de engajamento favoráveis. Embora uma parcela significativa das postagens tenha se mantido neutra, narrando os fatos sem posicionamento explícito, a diferença percentual de sentimentos negativos, associada ao maior volume de menções a Lula, reforça a diferença no impacto comunicacional entre situação e oposição. Em contextos de alta polarização afetiva, a rapidez e a intensidade da reação nas redes sociais podem amplificar percepções negativas e consolidar narrativas adversas de forma quase imediata.
Maria do Carmo S. Lima, professora de Métodos Quantitativos e Análise de Dados no Departamento de Ciência Política e no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco
Carla Vitória Cavalcante, Amanda Rodrigues Ferreira, Rebeca Barbosa da Luz, Gabriel Erik Albuquerque, Euri Gurgel Neto e Maria do Carmo S. Lima