Diplomacia e Internacionalização de estados e cidades
É fundamental ressaltar que relações internacionais verdadeiramente ganha-ganha são aquelas baseadas em reciprocidade..................

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A diplomacia, em seu sentido mais amplo, pode ser compreendida como a arte de construir relacionamentos pacíficos, respeitosos e significativos entre pessoas, grupos e nações. O Center for Education Diplomacy define um modelo orientador das relações diplomáticas que compreende: comunicar-se construtivamente, buscar interesses convergentes, trabalhar colaborativamente, construir consensos e gerar impacto positivo entre as partes envolvidas. Tradicionalmente, a diplomacia está associada à política externa dos países, operacionalizada por meio de embaixadas, consulados e organismos multilaterais. No entanto, ela pode também ser estratégica para o desenvolvimento de estados e cidades ao adotarem uma agenda estruturada de internacionalização baseada em relações "ganha-ganha".
Setores-chave da economia local podem ser diretamente beneficiados, como o agronegócio sustentável, a indústria criativa, o turismo ecológico e cultural, e os segmentos de tecnologia e inovação. Parcerias com universidades estrangeiras podem ser articuladas para ampliar a capacidade científica e tecnológica dos territórios, favorecendo a inovação aplicada a problemas locais. Programas de intercâmbio e cooperação acadêmica contribuem para a formação de profissionais com competências globais, preparados para atuar com excelência em diferentes contextos culturais e sociais.
Além disso, ao firmar acordos bilaterais ou multilaterais, estados e cidades podem acessar fundos internacionais, tecnologias limpas, boas práticas de gestão pública e iniciativas de responsabilidade social; atrair investimentos estrangeiros; impulsionar o comércio exterior; e criar redes colaborativas com outras localidades ao redor do mundo. Tudo isso fortalece o papel dos entes subnacionais como atores estratégicos da diplomacia descentralizada, acelerando seu desenvolvimento e posicionando-os como protagonistas em temas globais.
O governo estadual tem papel central nesse processo. Cabe a ele liderar a elaboração de uma estratégia de internacionalização com metas, indicadores e políticas integradas. Essa estratégia deve fortalecer estruturas institucionais — como secretarias ou agências de relações internacionais — fomentar a criação de representações no exterior, apoiar a internacionalização de universidades e startups, incentivar intercâmbios e eventos globais, além de promover parcerias com organismos internacionais.
As prefeituras das maiores cidades também exercem função complementar e igualmente estratégica. No caso de Pernambuco, por exemplo, o Recife, como capital e polo de inovação, pode ampliar sua atuação em redes globais de cidades, expandir o Porto Digital por meio de parcerias internacionais, atrair startups estrangeiras e consolidar-se como referência em diplomacia urbana. Caruaru pode internacionalizar seu polo de confecção e moda, valorizar sua cultura popular e desenvolver programas de empreendedorismo criativo. Já Petrolina deve consolidar-se como centro agroexportador, atrair missões comerciais e estabelecer cooperações voltadas a tecnologias de convivência com o semiárido.
É igualmente relevante o apoio das organizações privadas e da sociedade civil, como o IPERID (Instituto de Pesquisas Estratégicas em Relações Internacionais e Diplomacia) e organizações binacionais. Essas instituições podem atuar como pontes entre governos, empresas e redes internacionais, facilitando processos de cooperação e a formação de novos quadros diplomáticos locais.
Outro eixo relevante do processo de internacionalização é a educação diplomática. Muitos países já incorporaram conceitos e práticas da diplomacia — como relações internacionais, negociação e liderança — em seus currículos escolares e programas de formação cidadã global. Pernambuco pode inovar ao promover oficinas de negociação internacional, simulações da ONU, programas bilíngues com foco intercultural e parcerias com escolas e centros de empreendedorismo internacionais. Tais ações estimulam, em jovens e educadores, uma visão de mundo mais solidária e empática, preparando-os para enfrentar, de maneira sustentável, os complexos problemas humanos contemporâneos.
No setor cultural, há vasto potencial para internacionalização. Pernambuco é berço de manifestações artísticas singulares, como o frevo, o maracatu e o coco de roda. Projetar essa identidade cultural para o mundo — por meio de intercâmbios, festivais internacionais, exposições e residências artísticas — reforça o soft power do estado e gera valor simbólico e econômico.
A internacionalização também se concretiza por meio de iniciativas de cooperação técnica descentralizada, como a participação do estado em missões climáticas, parcerias em energia renovável, gestão de recursos hídricos e tecnologias sociais. Essas ações possibilitam intercâmbio de boas práticas e atração de recursos internacionais.
A construção de um modelo consistente de relações internacionais exige planejamento, continuidade e inovação. Requer a formação de quadros técnicos qualificados, a criação de redes de cooperação e o fortalecimento da identidade do estado no cenário internacional. Também demanda uma comunicação eficaz das iniciativas, a valorização dos resultados alcançados e a promoção de uma cultura de cooperação interinstitucional.
É fundamental ressaltar que relações internacionais verdadeiramente ganha-ganha são aquelas baseadas em reciprocidade, escuta ativa e busca de valor compartilhado. Um estado que adota uma diplomacia contemporânea, colaborativa e multissetorial não apenas amplia suas oportunidades econômicas, culturais e educacionais, mas também se posiciona como agente propositivo na construção de um mundo mais justo, interconectado e solidário. Portanto, investir em relações internacionais é um poderoso instrumento de transformação.
Eduardo Carvalho, Harvard University/IPERID Fellow, Autor do livro "Global Changemaker"