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Poetas de São José do Egito (2)

Severino Cordeiro de Souza, Biu de Crisanto, veio ao mundo em 1929, no sítio São Vicente, às margens do rio Pajeú, município de São José.

Por Adeildo Nunes Publicado em 24/07/2025 às 0:00 | Atualizado em 24/07/2025 às 7:02

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Rogaciano Leite, nasceu no sítio Cacimba Nova - na época município de São José do Egito, hoje pertencente à cidade de Itapetim-PE -, em 1920. Em 1948, juntamente com Ariano Suassuna, Rogaciano organizou o segundo Congresso de Catadores de Viola do Nordeste, no teatro Santa Isabel, em Recife, quando o poeta Dimas Batista foi escolhido como o grande vencedor do evento. Autor dos mais notáveis sonetos da história poética brasileira de todos os tempos, Rogaciano encantava os aficionados pela sua veia parnasiana, com seus versos nutridos de amor e de paixão. É dele, o seguinte soneto:

Tudo findo, deixaste-me e seguiste

O primeiro que veio ao teu caminho

Não pensaste sequer que fiquei triste

Preso à desgraça de viver sozinho

Dois longos anos, nunca mais me viste

Foram-se as aves, desmanchou-se o ninho

Hoje me escreves, meu viver consiste

Na mistura de lágrimas e vinho

E me imploras, perdoa-me e consente

Que eu vá viver contigo novamente

Pois só contigo poderei ter paz

Eu te perdoo, mas o empecilho é este

Eu amava aquela alma que perdeste

Alma que nunca reconquistarás

Dimas Batista, irmão de Otacílio e de Lourival, os três maiores repentistas de todos os tempos, nasceu na vila Umburanas, então município de São José do Egito, em 1921. Dimas sempre foi considerado o cantador mais culto da sua época. Sua primeira cantoria deu-se quando ele tinha 15 anos de idade. Além de poeta e repentista de primeira estirpe, Dimas foi professor de latim na antiga Faculdade de Fortaleza, onde foi várias vezes premiado pela pureza dos seus versos. Usando o mote "Eita Brasil de caboclo, de Mãe Preta e Pai João", Dimas improvisou:

Quando eu pego na viola

Para cantar o Brasil

Militar deixa fuzil

Jogador esquece a bola

O aluno gazeia a escola

O judeu sai do balcão

O orador erra a expressão

Pugilista perde o soco

Eita Brasil de caboclo

De Mãe Preta e Pai João

Job Patriota, nascido em 1929, no sítio Cacimbas, na época vinculado a São José do Egito. Foi um dos maiores cantadores do seu tempo. O seu livro "Na senda do lirismo", ainda hoje é parte integrante das prateleiras dos que admiram a poesia popular. Faleceu em 1992, deixando uma lacuna imensa na alma dos amantes da cantoria de viola. Com o mote "Passa tudo na vida, tudo passa, mas nem tudo que passa a gente esquece", o poeta disse:

Passa dia por mês e mês por ano

Passa ano por era, era por fase

Nessa fase tão triste eu vejo a base

Do destino passar de plano em plano

Com a mão da saudade o desengano

Passa dando um adeus fazendo um S

Vem a mágoa o prazer desaparece

Quando chega a velhice, foge a graça

Passa tudo na vida, tudo passa

Mas nem tudo que passa a gente esquece

Severino Cordeiro de Souza, Biu de Crisanto, veio ao mundo em 1929, no sítio São Vicente, às margens do rio Pajeú, município de São José. Sua vinculação com a poesia escrita, deu-se aos 8 anos de idade, quando iniciou seus escritos em decassílabos e em extraordinários soneto. É dele:

Antes fui de caráter abstrato

Fui incógnito, inviso na essência

Fizera-me meu Deus na preexistência

Da parte imaterial do substrato

No princípio fui núcleo do extrato

Substância homogênea, ou quinta-essência

E hoje louvo a Deus por cada ato

Que proferiu com tanta sapiência

O criador me deu no perispírito

A imaterial forma de espírito

Impalpável, invisível e imortal

Da psicogenia incógnita da luz

Na visão fotogênica que induz

A mente de Deus, paz Pai Celestial

Adeildo Nunes, juiz de Direito aposentado, doutor e mestre em Direito de Execução Penal, membro efetivo do Instituto Brasileiro de Execução Penal (IBEP), autor de livros jurídicos

 

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