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Sal, Luz e Fermento

Na semana passada, publiquei aqui mesmo, no Jornal do Commercio, um artigo de opinião inspirado na metáfora: a Pedra e o Carisma...........

Por OTÁVIO SANTANA DO RÊGO BARROS Publicado em 12/07/2025 às 0:00 | Atualizado em 13/07/2025 às 11:47

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Retomo aquele texto para dar base a esta nova reflexão. Nele, tracei um paralelo entre a celebração de São Pedro e São Paulo — "pedra" e "carisma" da Igreja Católica — e a realidade do Exército do Brasil.

A pedra simboliza a estrutura institucional, sólida e perene. O carisma traduz os valores éticos e morais de seus integrantes.

Essa combinação moldou a Força e a alçou ao patamar de Instituição majoritariamente respeitada junto ao povo brasileiro — mesmo diante dos muitos desafios enfrentados ao longo de sua trajetória.

E não foram poucos. Basta lembrar as Batalhas de Guararapes, as lutas pela Independência, a Guerra da Tríplice Aliança, a Força Expedicionária na Itália e, já neste século, as operações de paz no Haiti e as missões de Garantia da Lei e da Ordem, em território nacional. Momentos em que a pedra ofereceu sustentação e o carisma, inspiração.

Essa respeitabilidade encontra respaldo na recente pesquisa Datafolha (junho/2025): 65% da geração Z manifesta elevado orgulho pelas Forças Armadas. Os mais velhos, embora ainda confiantes, expressam algumas críticas. Relembro as minhas conclusões.

Os jovens, nativos digitais, desenvolveram filtros mais eficazes contra narrativas distorcidas. Já parte da população acima dos 60 anos, que esperava das Forças Armadas, nos últimos anos, um protagonismo político, frustrou-se ao vê-las reafirmarem seu papel constitucional.

No artigo anterior, apontei que o silêncio estratégico do "Grande Mudo", eficaz no passado, tornou-se um risco no presente. Hoje, é preciso adotar uma comunicação estratégica ajustada à excitação da adolescência deste século XXI: diálogo matricial, transparência absoluta, pensamento crítico incrustado em todos os níveis e humilde disposição para aceitar a discordância leal.

É sobre essa comunicação que me detenho agora.

Toda organização — das grandes corporações ao restaurante da esquina — precisa que o seu carisma valorize e legitime a sua pedra.

No caso das organizações militares, essa comunicação estratégica precisa ser mais do que funcional. Deve abarcar todas as camadas das forças, ser pedagógica, engajadora e adaptada a um ambiente informacional caótico, difuso e manipulável.

Aqui evoco o simbolismo religioso do "sal", da "luz" e do "fermento" para aprofundar as conclusões.

O sal da terra preserva o sabor da história e dos exemplos acumulados, temperando a narrativa com os valores e as tradições que sustentam a identidade da organização.

A luz do sol ilumina os feitos do presente, revela à sociedade os esforços em prol do bem comum e aponta caminhos para o futuro.

E o fermento da competência faz crescer o apreço pela Instituição, ocupando espaços até então negligenciados na opinião pública e substituindo narrativas vencidas por novas "fornadas" de pães de realizações.

Em um mundo onde cada indivíduo se torna um comunicador potencial, todo militar deve estar ciente de que um deslize — por menor que seja, o temido "erro do cabo estratégico" — pode reverberar nas redes sociais e comprometer décadas de construção cuidadosa da reputação institucional.

Sem falar oficialmente pela Força, mas com a experiência de quem dedicou 45 anos de serviço ao Exército brasileiro — do aluno da Escola Preparatória de Cadetes ao General de Divisão — afirmo:

A confiança na firmeza da pedra e no sopro inspirador do carisma, comunicados segundo os princípios do sal que conserva, da luz que revela e do fermento que faz crescer, fortalece e projeta a respeitabilidade das Forças Armadas, enquanto induz, conquista, mantém e amplia a confiança da sociedade.

A estrada para o futuro está sendo pavimentada. A messe é grande, cada dia mais desafiadora e a sociedade precisa compreender que todos deverão ser operários, fardados ou não, em seu asfaltamento rumo à soberania. O noticiário está aí para quem ainda duvidar e quiser conferir.

 

Otávio Santana do Rêgo Barros, general de Divisão da Reserva

 

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