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O Novo Cais

Agora, o exemplo demanda a sua continuidade - recriar as quadras lineares formadas pela Avenida Sul e Rua Imperial. E mudar o rumo...redesenhar...

Por PAULO ROBERTO BARROS E SILVA Publicado em 08/07/2025 às 0:00 | Atualizado em 09/07/2025 às 15:47

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Há 10 anos, o JC publicou um artigo de minha autoria denominado Redesenho. O seu conteúdo contemplou o olhar para o amanhã, após a aprovação do Projeto Novo Recife pela Prefeitura do Recife. Agora o desenho se transforma em concretude, se apresenta à cidade com a afirmação da obra feita. Aí está o que significa o NOVO CAIS - exemplar transformação do território na borda do Estuário. Cabe rever o sonho do desenho original detalhado no texto publicado no Jornal do Commércio em 2015.

"Ato de desenhar novamente. Alternar, modificar, mudar o rumo. Fazer de novo o já feito. Redesenhar.

È também a palavra encontrada para apoiar a construção do entendimento entre um projeto urbano - o Novo Recife - e as expectativas sociais quanto ao destino das terras vazias do Cais José Estelita.

E assim se tenta fazer. Neste caso, o redesenho é produto e parte do processo de entendimento. Durante seis meses um punhado de especialistas trabalhou diuturnamente para promover uma mudança de rumo do projeto em debate.

Trabalho que exigiu, por um lado, anuência plena dos empreendedores de alterar a essência da proposta imobiliária original. E, por outro, a efetiva decisão da Prefeitura do Recife de incorporar no processo de entendimento o planejamento urbano do território da Ilha.

O Redesenho está feito, altera o tecido urbano da Ilha dos Santos - José, Antônio, Rita, Pedro e tantos outros nos altares do Centro do Recife.

Com a Avenida Dantas Barreto chegando ao estuário do encontro dos rios Pina, Jordão, Tejipió, Capibaribe - a Bacia do Pina. Lugar que já foi ponto de partida da ferrovia no rumo do Rio São Francisco, foi porto e aeroporto, foi base dos estaleiros e enseada de pescadores.

Na intervenção proposta para a Dantas Barreto se promove o resgate da linha do tempo, do Campo das Princesas a Guararapes, a Praça do Carmo, ao Pátio de São Pedro, ao bairro de São José.

Tempo dos 500 anos que estão por vir e se consagram na Grande Praça, uma alameda a beira d'água, nascida do prolongamento da avenida.

Com a ligação "entre pontes" - Joaquim Cardozo, Paulo Guerra e Agamenon Magalhães, compondo finalmente a semi-perimetral que corta o centro expandido, de Santo Amaro ao Pina.

Com a divisão de fluxos na orla fluvial através da criação do binário José Estelita, reduzindo o concreto dos carros para o bem dos jardins do parque linear ofertado ao cidadão.

Com a conectividade do sítio e o restante da Ilha pela implantação de nove vias transversais ao longo de quase dois quilômetros de muros que segregam o enclave outrora ferroviário. Intervenção que replica o desenho de parcelamento da cidade, criando oito quadras integradas ao sistema viário estrutural e local.

Com a valorização do Patrimônio histórico através da recuperação e uso sustentável das edificações que respeitam a trajetória da ferrovia - os galpões, as casas, os tonéis, os trilhos e ainda, o afastamento entre os novos edifícios e o Sítio tombado de São José.

Desenho que incorpora ao tecido urbano três polos de oportunidades - atração e geração de renda e emprego. O Polo Cultural do Forte contendo os galpões históricos, o Forte das Cinco Pontas e os fragmentos da memória ferroviária.

O Polo da Grande Praça, novo espaço cívico plantado no Centro do Recife, com mais de 300 metros de extensão e 15.000 metros quadrados de área pública aberta à cidade. E ainda, o Polo do Cabanga, incorporando entretenimento, turismo e esportes junto ao Viaduto Capitão Temudo.

O desenho exposto contempla uma proposta de intervenção urbana que nasce de fora para dentro. Da cidade/Ilha para o Sítio/terreno do Projeto Novo Recife. Do lado de dentro, o empreendimento imobiliário é alterado em dois sentidos: muda o programa e mudam os conceitos urbanísticos.

Quanto ao programa, se promove o reordenamento de usos, dimensionamento e distribuição nas oito quadras, contemplando habitação, comércio, serviços, hotelaria, cultura, entretenimento, de acordo com os três polos de oportunidades.

Quanto aos conceitos urbanísticos, importa reconhecer a radicalidade da quadra aberta, sem vedações, muros ou gradis, liberando ao uso público todo o terreno não edificado. Assim, dos 100.000 metros quadrados do terreno original, apenas 35.000 serão de uso privativo dos empreendimentos. O restante é destinado ao uso público - jardins, parque, equipamentos de apoio, ciclovia, calçadas e vias.

Neste sentido, buscando o uso ativo do solo, se impõe rever a sua ocupação para contemplar atividades comerciais e de serviços no pavimento térreo das edificações. Resultando na oferta de 10.000 metros quadrados para as atividades diversas que, juntamente com os variados usos do conjunto de empreendimentos, transformam o deserto de pessoas do Cais José Estelita no lugar de convivência, encontro, fruição e contemplação dos cidadãos recifenses.

Na arquitetura, os projetos obedecem ao escalonamento de gabarito, buscam a relação com o perfil atual da paisagem urbana do Recife e incorporam ao sítio uma composição de edifícios implantados de maneira não linear e com diferentes formas.

Um conjunto arquitetônico contemporâneo, espalhado ao longo da frente d'água para abrigar milhares de pessoas.

Aí está o desenho de um projeto feito para e pela cidade".

Este é o NOVO CAIS. Uma intervenção que consagra o urbanismo e demonstra ser possível romper com a manutenção de espaços subutilizados da cidade. Agora, o exemplo demanda a sua continuidade - recriar as quadras lineares formadas pela Avenida Sul e Rua Imperial. E mudar o rumo, fazer de novo o já feito. Redesenhar.

Paulo Roberto Barros e Silva, desenhista.

 

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