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A Santa de Cimbres

Orai por este mundo que clama por paz e por justiça social, santa Irmã Adélia Adeus, terna e eterna serva de Deus!......................

Por ROBERTO PEREIRA Publicado em 08/07/2025 às 0:00 | Atualizado em 09/07/2025 às 15:46

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NOS LONGES DE 1997

Corria os longes de 1997, quando E3lder Lins Teixeira e o autor deste artigo, realizando, pelo Instituto de Administração e Tecnologia (ADM&TEC), um trabalho de consultoria para a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), fizemos uma análise das aparições da santa de Cimbres, entrevistamos a Irmã Adélia, que foi quem viu e conversou com Nossa Senhora das Graças nas suas aparições, e, ainda, separadamente, o então arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso, Dom Dino, bispo de Pesqueira, e Dom Helder Camara, arcebispo emérito de Olinda e Recife.

Aos três ilustres entrevistados, além da Irmã Adélia, a pergunta inicial foi a mesma: como a Igreja vê esse fato das aparições da Virgem Maria? E se existe um processo de reconhecimento, caso contrário, como é que a igreja encara esse acontecimento?

Todos, em uníssono, responderam, que, na época, não existia processo canônico para estudar o fenômeno. O que existe é uma aceitação do fenômeno religioso das romarias que se repetem, que começaram desde o início da década de 1980, embora o evento das aparições tenha ocorrido em 1936, acontecimento que somente caiu no domínio público quase cinquenta anos depois.

DOM HELDER CAMARA

Dom Helder Camara foi claro em dizer que aceita como um espaço de devoção, mas sem tomar ainda nenhuma posição a respeito da autenticidade ou não. E ainda: que os cristãos precisam sempre de um lugar e referência para exteriorizar a sua fé, as suas preces e o seu recolhimento.

Insistimos com a pergunta: houve a aparição da Virgem Maria?

Dom Helder levantou os braços e por três vezes repetiu: "Entre". Quem, Dom Helder? Nosso Senhor Jesus Cristo para responder à pergunta de vocês.

DOM JOSÉ CARDOSO

Dom José Cardoso salienta que a praxe da igreja, com relação às aparições ou qualquer outro fenômeno extraordinário, é de muita cautela, haja vista, por exemplo, as duas grandes aparições, Fátima (1917), em Portugal, e Lourdes (1858), na França, no início encontrou oposição para somente depois serem reconhecidas. Observo - continua - que há fenômenos análogos que ou são fenômenos naturais ou, às vezes, falsificações ou alucinações.

A igreja, continuou Dom José, segue o que está no livro dos atos dos apóstolos, notadamente uma conduta que segue a regra de Gamaliel, que é a seguinte: "Vamos deixar as coisas correrem, espontaneamente. Se for coisa de Deus, vai para a frente; se não for, vai morrer por si mesma."

DOM DINO

Dom Dino, então bispo de Pesqueira, enfatizou a beleza do espaço, já que as aparições se deram na gruta, onde se encontra uma rocha, torando o santuário bastante convidativo às reflexões e às orações.

O reverendo defende a construção de uma igreja de dimensões proporcionais às demandas recebidas nas romarias, mas vê dificuldades financeiras, "a menos que se realize uma campanha," mas o mais difícil está no relacionamento entre a nação Xukurus, que se encontra nas terras demarcadas pelo santuário, a família Torres, da Irmã Adélia, e a igreja, três pontos para o enlace que se deseja seja coeso e harmônico.

IRMÃ ADÉLIA

Irmã Adélia, à época, também entende que o Vaticano sequer tomou conhecimento das aparições em Cimbres, Pesqueira. Ela recomenda os dois livros existentes sobre o tema, um o de Ione Maria Cavalcanti e o outro, conhecido como o livro dos 60 anos, da Sra. Glorinha Aguiar. Ambos retratam, segundo ela, com fidelidade, toda a história de vida da freira entrevistada.

Ela salientou as romarias existentes, notadamente em agosto, que é o mês em que se celebram as aparições. Quando existem orações se faz vigília no Santíssimo Sacramento e quando ocorrem os festejos, todos autorizados pelo bispo de Pesqueira e com o acompanhamento dos padres ligados à Paróquia.

O meu sonho - sublinha Irmã Adélia - é se fazer um trabalho com as crianças, que, mal deixam as pessoas saltarem dos ônibus e já se encaminham para pedir esmola, tudo à falta de um trabalho social junto a elas.

Irmã Adélia registra que, antes das aparições, convidou uma menina, Maria da Conceição, que morava numa barraca, para morar com ela e com ela permaneceu por três anos.

Adélia, ainda com 14 anos, e Conceição, com 16, tiveram a visão de Nossa Senhora das Graças.

Irmã Adélia, ao entrar para o Convento, ainda jovem, fez voto de silêncio com relação ao segredo das aparições, porque ela, carmelita, não poderia desenvolver este assunto no universo religioso que cuida do tema com especial cautela.

Todavia, como no final da década de 1980, acometida de câncer de fígado, viu-se diante da morte, motivo pelo qual pediu licença à superiora para revelar o que lhe tocava a alma.

Autorizada, revelou.

Na sequência, com o tratamento, obteve a cura, passou a residir no Damas, onde hoje se encontra um espaço de memória de sua pessoa.

No Damas, onde nos encontramos para a entrevista agora publicada, ela nos disse fazer do seu gabinete o que ela chama de "gabinetizinho espiritual", onde ela costuma receber pessoas acometidas de alguma doença e com elas têm rezado, tendo, segundo ela, voltando algumas para agradecer a cura.

ADEUS!

Irmã Adélia de Oliveira, cujo nome civil era Maria da Luz Teixeira de Carvalho, foi uma religiosa brasileira reconhecida pelo Vaticano como "Serva de Deus", estando a um passo importante no processo de beatificação e canonização.

Irmã Adélia, somente hoje divulgo parte da nossa conversa. Elder já foi ao seu encontro. Deixou-me com a saudade de tudo quanto pude assimilar de suas sábias lições, sobretudo no capítulo da humildade.

Orai por este mundo que clama por paz e por justiça social, santa Irmã Adélia

Adeus, terna e eterna serva de Deus!

Roberto Pereira, secretário de Educação e Cultura do Estado e é membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo.

 

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