Adriano Oliveira: O pobre e o rico em 2026
É importante salientar que o atual governo restaurou as políticas sociais. Todavia, eles não foram suficientes para evitar o declínio da popularidade

“União e Reconstrução” foi o slogan inicial do governo Lula que se mantém hoje. Ele era viável, pois teve o objetivo de evidenciar, segunda a estratégia lulista, que o Brasil foi destruído pelo governo Bolsonaro e que precisava ser reconstruído. Como existe a ideia falsa de que o Brasil está em estado de conflito, o governo Lula também propôs o termo união. Apesar da excelente ideia, a popularidade do governo Lula declinou.
É importante salientar também que o atual governo restaurou as políticas sociais, como o Mais Médicos, Minha Casa Minha Vida, Farmácia Popular, e criou o inovador Pé de Meia. Todavia, eles não foram suficientes para evitar o declínio da popularidade do governo. Contudo, eles condicionam, numa disputa entre Lula e um candidato bolsonarizado, a viabilidade eleitoral de Lula em 2026.
Já frisei por várias vezes neste espaço, inclusive, logo no início do novo mandato do presidente Lula, que a sua expressiva aprovação observada em 2010 não viria à tona novamente. Previ que o Lula teria razoável popularidade. E assim mantenho a previsão: Lula chegará em 2026 com popularidade adequada para ter condições de ser reeleito, principalmente, volto a repetir, se ele disputar a eleição contra um competidor bolsonarizado.
Existem novos eleitores no Brasil. Já, também, abordei isto. São os evangélicos, os empreendedores e os bolsonaristas que impossibilitam que a alta popularidade do governo Lula verificada em 2010 venha a existir novamente. Lembrando: Mesmo que não existisse alta inflação de alimentos e estivesse presente forte crescimento econômico, o aumento considerável da popularidade de Lula seria freada em virtude dos novos eleitores que não estavam presentes no ano de 2010.
Hoje, o centrão está excessivamente pessimista com as chances de Lula de ser reeleito. Não existe razão para tal. Não acontecerá tragédia econômica no Brasil até 2026, apesar do intenso e desfocado debate sobre gastos públicos. A popularidade do governo está baixa, a qual explica o pessimismo do centrão. Contudo, quem enxerga apenas número, não consegue decifrar a conjuntura e os sentimentos dos eleitores. Numa eleição entre lulismo e bolsonarismo, o primeiro tem chances de vitória apesar da intensa disputa que acontecerá.
Sabendo que o governo estava pressionado pela constante cobrança sobre o tamanho dos gastos públicos e com baixa popularidade, o ministro Fernando Haddad, sem a intenção, assim desconfio, trouxe à tona o debate sobre ricos versus pobres. Os primeiros, segundo Haddad, paga pouco imposto e os segundo, pagam muito. Por consequência, ele propõe a justiça tributária.
Com a ajuda do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, a estratégia de Haddad, a qual será a narrativa da reeleição do presidente Lula, ganha espaço com intensidade nas redes sociais e tende a alavancar, não necessariamente em breve, as chances do presidente da República de ser reeleito. Portanto, não tente racionalizar a estratégia Haddad, ou seja, trazer o debate para a seara técnica. Considere o lado emocional do eleitor. Em especial, o eleitor que recebe até R$ 5.000.
Quando o Projeto de Lei propondo a isenção de imposto para quem recebe até R$ 5.000 chegar ao Congresso, o governo Lula dirá que está promovendo justiça entre pobres e ricos e o Congresso terá que aprovar. Portanto, não seja pessimista com a relação governo Lula e Parlamento, pois a narrativa pobre versus rico criada por Haddad será aprovada pelo Congresso e fortalecerá a reeleição de Lula.
Adriano Oliveira – Cientista político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência – Pesquisa qualitativa & Estratégia