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Sérgio Gondim: E depois do pleno emprego?

Também seria justo reclamar por não aguentar mais esperar o Brasil do futuro. O tal choque de educação que, todos sabem, seria o único caminho...

Por SÉRGIO GONDIM Publicado em 05/07/2025 às 0:00 | Atualizado em 05/07/2025 às 12:47

Quem pretendia dançar uma coreografia espaçosa fazendo roda nos pátios de forró, teve que se contentar com um passo miudinho, bem agarradinho. É bom, mas o motivo foi outro. Faltava espaço para tanta gente nas arenas. Sendo com banda boa ou desafinada, sendo gratuito ou com ingresso caro, com chuva ou luar, estavam superlotadas.

Muita gente também nos aviões, hotéis, bares e restaurantes de todos os níveis, apesar de preços nada convidativos.

O movimento também é grande nos Shopping Centers, como se a classe média estivesse no paraíso, mas o que chamou mais a atenção foram as feiras livres do interior. Bombando, congestionadas com tanta gente se contorcendo entre as incontáveis barracas que vendem de tudo.

Um atendimento sofrível por falta de vendedores para tantos compradores. A negociação é um toma lá dá cá frenético, sem perder tempo para a nota fiscal. Muitos produtos de grife, ou quase, às vezes mudando só uma letra como a camisa Lacosta ou o relógio Rulex a prova d'agua, "mas por segurança é melhor não mergulhar".

É o cripto Brasil, longe das estatísticas oficiais, com dinheiro vivo capaz de provocar calo nos dedos de tanto contar e passar troco. Sem transitar pelo sistema bancário, deixa o caminho livre para receber uma ou outra bolsa de auxílio do governo que ninguém é de ferro.

Claro, trata-se de uma simples observação a caminho do "pé de serra", longe da metodologia científica das pesquisas. Uma fotografia de como funciona a economia do Brasil real que no momento revela sinais claros de melhora no nível de pobreza. Se os economistas se entenderem sobre os parâmetros, dirão pelo menos que estamos batendo na trave do pleno emprego. Com desemprego em torno de 6%, a depender de outros critérios, já há quem classifique tecnicamente como tal.

É interessante observar que quanto mais cai o desemprego, mais surgem críticas. A queixa poderia ser procedente se motivada pelo desafio que se aproxima com o pleno emprego. Como fechar a equação de aumentar os salários da massa de empregados a procura de melhor remuneração, com o freio de mão puxado para não dar asas à inflação?

Também seria justo reclamar por não aguentar mais esperar o Brasil do futuro. O tal choque de educação que, todos sabem, seria o único caminho para transformar consistentemente o país ao longo das próximas décadas. Enquanto não vem, continuamos atolados no atraso secular.

Ou seriam só reclamações de barriga cheia como se diz nas feiras do interior. Um tipo de admiração infeliz com a economia melhorando apesar dos prognósticos de caos.

"A feira tá fraca e voltei com tudo". Era o que mais se ouvia tempos atrás. "A feira tá boa Dr., não sobrou foi nada". Foi a toada dessa vez.

Música para os ouvidos, à luz de uma fogueira.

O forró "pé de serra", se tiver que ser agarradinho, melhor.

Sérgio Gondim, médico

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