A cobertura de Fernando Collor
Tudo ia relativamente bem, até Fernando Collor de Mello, figura deletéria, latrinosa e desumana assumir a presidência da república................

Fui durante dez anos consecutivos (1966/1976) diretor do departamento jurídico do cotonifício da Torre, até que a grande crise do algodão que assolou o nordeste e que Ariano Suassuna e Bebé Seixas diziam ser praga espalhada pelos americanos, contribuiu para a decadência dos cotonifícios da região e a fábrica da Torre, como era conhecida popularmente, fechou. No meu tempo, o cotonifício da Torre comandava um conglomerado de empresas: Confecções Torre S.A, Una S.A, Sulagro S.A, Sirbra S.A, Cotonifício Alexandria e Mercado Moderno S.A, o supermercado Comprebem. Eram meus estagiários os advogados Adalberto Rangel, o Betinho e o saudoso Roberto Cunha, o Bel.
Tudo ia relativamente bem, até Fernando Collor de Mello, figura deletéria, latrinosa e desumana assumir a presidência da república. Na presidência, ele decretou através de uma fajuta medida provisória, o plano Collor, que constituiu fundamentalmente em congelar o preço das mercadorias das lojas comerciais, principalmente dos supermercados, com a prisão em flagrante dos gerentes das lojas, dos estabelecimentos comerciais, que causavam maior impacto na população pobre e de classe média. A grande sacanagem é que ele sabia que o Poder Executivo não tem legitimidade para legislar penalmente. Mas a polícia prendia os gerentes das lojas baseada em Medida Provisória que tem força de Lei, mas somente torna-se Lei quando aprovada pelo Congresso, o que jamais chegou a acontecer. Assim, centenas de inocentes pais de família, que jamais foram processados criminalmente foram presos em flagrante por crimes que não cometeram, com base numa lei que não havia e num artigo penal que nunca existiu. — uma aberração jurídica, cometida por um mandatário supremo e demagogo.
Então eu não tive mais sossego. Durante tempos, sábado, domingos, dias santos e feriados, eu que estava posto em sossego, recebia telefonemas urgentes e aflitos de esposas, pais e filhos de gerentes do Comprebem, para soltar seus pais e maridos, presos em lojas do Recife e de João Pessoa. Interrompia meu chopp e tentava soltar os gerentes do Recife, Joao Pessoa e passei a não ter dia santo, domingo e feriado, porque além do Comprebem, Almeidinha, advogado e diretor do departamento jurídico do supermercado Bompreço, também me solicitava "apoio".
O que mais me incomodava nessas ocasiões era ver jovens pais de família, presos, nus, famintos, sedentos e chorando, encarcerados em xadrezes de delegacias infectas, coabitando com presos de alta periculosidade. Eles não entendiam o que estava acontecendo, nem eles, nem nenhum bacharel criminalista, nem jurista. Fernando Collor estava cometendo um crime que nenhum presidente da república havia cometido e cometeu até hoje. Coisa de canalha, de pessoa desalmada. Hoje Fernando Collor mora numa cobertura e tem 07 carros de luxo na garagem.
Arthur Carvalho, da Academia Olindense de Letras.