O crepúsculo dos Collor: Do Senado ao cárcere, a queda de uma dinastia alagoana
Uma análise sobre a ascensão, os controvérsias e o declínio de uma dinastia que personificou o poder em Alagoas por várias gerações

A prisão do ex-presidente Fernando Collor de Mello, que se arrastava há quase uma década, parece selar o destino da família Mello, ou Collor de Mello, que por muito tempo exerceu poder econômico e político em Alagoas.
A Ascensão e o Poder Coronelista
Essa força e prestígio foram construídos com métodos comuns ao "coronelismo de asfalto" do Nordeste. Em Alagoas, conhecida por seus pistoleiros de aluguel, tudo começou com o patriarca, o senador Arnon de Mello, inimigo político de Silvestre Péricles.
Em um confronto no Senado, Arnon atirou, errando Silvestre e atingindo José Kairala, um suplente do Acre, que faleceu. Silvestre revidou sem sucesso. Contrariamente ao que afirma o texto, Arnon de Mello foi preso após o incidente, permanecendo detido por quase sete meses antes de ser inocentado. A vida seguiu e novos nomes surgiram na política alagoana.
O Declínio Familiar e a Sombra de PC Farias
Leopoldo e Pedro, os irmãos mais velho e caçula, já faleceram sem deixar herdeiros políticos. A empresa de comunicação que impulsionou a carreira de Fernando também declinou após o afastamento de Pedro. Alguns atribuem esse fim melancólico à "maldição de PC Farias," o controverso assessor cuja morte nunca foi totalmente esclarecida. PC Farias foi o "operador" de Fernando, envolvido em irregularidades de campanha e rival de Pedro, cujas denúncias ajudaram a desacreditar o irmão e encurtar sua presidência.
Encontros e Impressões sobre os Irmãos Collor
Conheci os três irmãos Collor de Mello em diferentes momentos. Leopoldo, ao substituir Paulo César Ferreira na direção da TV Globo Nordeste, demonstrou apreço por uma entrevista minha com Jorge Amado. Sua passagem por Pernambuco foi breve e discreta. Faleceu em 2013, deixando viúva e três filhos não envolvidos na política.
Pedro Collor de Mello, o caçula, liderava o sistema de comunicação da família, incluindo rádio, jornal e uma afiliada da TV Globo líder de audiência. Essa liderança gerou desavenças com Fernando e PC Farias, especialmente quando PC cogitou lançar um jornal concorrente. A crise se intensificou com uma entrevista de Pedro à Veja, culminando na renúncia de Fernando Collor à Presidência, seguido pela cassação de seu mandato e inelegibilidade. Encontrei Pedro poucas vezes, inclusive em uma feira de equipamentos gráficos nos EUA, onde compartilhamos um breve interesse pelas então emergentes câmeras digitais. Pedro faleceu em Nova York em 1994, sem reconciliar-se com o irmão.
Com Fernando Collor também os encontros foram raros, por minha própria escolha. Em Miami, recusei um convite para entrevistá-lo durante seu exílio. Contudo, realizei uma entrevista posteriormente, a pedido da direção da empresa. Em Maceió, ele me recebeu com cordialidade, pedindo para não ser fotografado com seu charuto. Respondeu a perguntas delicadas sobre o confisco da poupança, a morte de PC Farias e a Casa da Dinda, defendendo seus acertos, como a abertura do mercado para cartões de crédito e a modernização da indústria automobilística, e garantindo a devolução da poupança confiscada. Fez elogios a amigos pernambucanos e críticas a um político falecido, cujo nome pediu para não publicar. Após a conversa, nos despedimos e não nos revimos.
A Prisão e o Fim de uma Era
Agora, registra-se sua prisão. O ex-"caçador de marajás", conhecido por seus paraquedismos e pilotagem de Lamborghini, é descrito como um homem doente, vítima de Parkinson e outras comorbidades. Foi condenado por receber milhões em negociatas da BR Distribuidora. Fernando Collor de Mello, ex-presidente, ex-governador e ex-senador, é mais um político atingido pela controversa atuação do ex-juiz Sérgio Moro.
Nesse balanço final, um fato se destaca: o reinado da família Collor em Alagoas parece ter chegado ao fim. Uma nova geração, liderada por Artur Lira e seus aliados, começa a emergir, embora a tradição de radicalismo persista na figura de Renan Calheiros e seus protegidos, que, ao menos publicamente, não portam metralhadoras no Congresso.
*Ivanildo Sampaio, jornalista