Oremos pelo novo Papa
O mundo inteiro viu e ouviu com otimismo e esperança o primeiro discurso de Leão XIV, a as referências que fez ao Papa Francisco...............

O Brasil tem a maior população Católica, Apostólica Romana do Mundo - mas nunca elegeu um Papa, nos seus quase 600 anos de história. Assim com o nunca ganhou um Prêmio Nobel de Literatura, embora se colocassem como merecedores o pernambucano João Cabral de Melo Neto, o baiano Jorge Amado e o gaúcho Èrico Veríssimo, sem dúvida três grandes nomes das "letras portuguesas", que tiveram, em ocasiões diversas, seus nomes cogitados para essa honra maior. Sem dúvida, qualquer um deles seria motivo de orgulho para a Instituição onde estivesse presente, pelo saber, pelo talento, pela admiração e respeito que impunham em todos os continentes.
Também não foram poucos, ao longo de mais de quatro séculos. os cardeais brasileiros que pregaram com dignidade e sabedoria a fé cristã, o amor ao próximo, a profundeza dos evangelhos - e bem que mereceram a honra e a glória de ocuparem o "trono" de Pedro. Mas, nunca chegaram lá. Paciência... Não foi por falta de reza e súplicas do povo brasileiro. Em mais um capítulo que se escreve nessa história do catolicismo, é preciso reconhecer que, no processo de escolha de um novo Papa, os critérios de escolha são centenários e únicos.
Envolve rituais antigos, muito antigos, das primeiras reformas cristãs, que ao longo dos séculos foram pouco a pouco purificando a religião. Como se viu agora, já que o mundo ficou pequeno diante da tecnologia que invadiu até mesmo a a privacidade dos afrescos de Michelangelo, embora nem tanto assim.. A bem da verdade, não se sabe e pouco se especula sobre o que ocorre por trás das portas hermeticamente fechadas e lacradas da Capela Sistina, embora sempre se diga que "quem entra lá como Papa costuma sair cardeal". Teria isso ocorrido agora com Leão XIV? Estaria ele ungido pelo Espírito Santo?
É verdade que nesse último conclave, apesar da presença de cinco cardeais brasileiros, nenhum deles apareceu na listam dos "vaticanistas" como possível sucessor do Papa Francisco. São bons pastores, porém discretos, fieis a Deus e aos Evangelhos; mas sem uma maior projeção internacional, intimidade com a Cúria Romana e os ritos milenares da Igreja, e continuarão assim. Paciência...
O Brasil, apesar do avanço das Igrejas Evangélicas, ainda vai demorar muito tempo tendo o Catolicismo com a religião majoritária, fiel a Roma e ao Papa escolhido pelos cardeais para guiar seu rebanho. E este guia agora é Leão XIV, norte-americano de nascimento; peruano por escolha, determinação e pregação da fé, pouco conhecido fora dos seus domínios mas que se confessa como admirador e continuador da entrega de Francisco, o Papa que sonhava e pregava a paz.
Leão XIV não constava na lista dos "favoritos" escolhidos pela Imprensa e por especuladores - era apenas mais um entre os 133 cardeais eleitores que escolheriam o novo Pontífice. Nasceu nos Estados Unidos e lá ordenou-se padre; um país onde o catolicismo é minoritário e a Igreja enfrentou escândalos na Arquidiocese de Boston, que teria protegido padres pedófilos, com desgaste para o Cardeal residente. O novo Papa, Robert Francis Prevost, de 69 anos, não fez sua carreira eclesiástica nos Estados Unidos e sim no Peru, trabalhando junto aos menos favorecidos, assim como Papa Francisco fez, quando Cardeal, na Argentina.
E apenas ele sabe as razões pelas quis escolheu o nome De Leão XIV para seu Pontificado, visto que Leão XIII, autor da Enciclica Rerum Novarum, uma das mais expressivas demonstrações da Igreja diante dos problemas sociais, teve o seu Pontificado ainda no século XIX. Viveu e conviveu com as transformações provocadas pela Revolução Industrial e os conflitos entre o capital e o trabalho. E outra curiosidade: Leão XIII tinha origem numa família da nobreza, e seu nome de batismo era quase difícil de decorar: Vincenzo Gioachino Rifaeli Luige Pecci Prosperi Buzzo. Não é o caso do novo Papa.
O mundo inteiro viu e ouviu com otimismo e esperança o primeiro discurso de Leão XIV, a as referências que fez ao Papa Francisco, o seu histórico pastoral no Peru, a escolha do nome que remete a um dos Pontífices mais importantes nas reformas promovidas pela Igreja do longo da história. Mas, ainda não há respostas para todas as dúvidas: a Igreja continuará as ações iniciadas por Francisco em relação a tantas questões vistas com restrição pelos conservadores? Como a união de pessoas do mesmo sexo, por exemplo? Ou Com relação a uma participação das mulheres na própria Hierarquia da Igreja? A luta incessante do seu antecessor pela paz no mundo? Seu deslocamento pelas diversas regiões em conflito sobre a face da terra, pedindo paz e condenando a guerra?
Temos um Papa. Não é brasileiro, é norte-americano de nascimento e sul-americano por escolha. Não há nenhum mal nisso. Foi o próprio Papa Francisco quem afirmou quando cá o Brasil esteve: " O Papa é argentino; mas Deus é brasileiro"... Um dia, quem sabe, nós vamos abrigar os dois - e teremos muito orgulho disso.
Ivanildo Sampaio, jornalista