Aprovação e avaliação de governos
Tornou-se praxe no Brasil os institutos de pesquisas fazerem distinção entre "avaliação de governo" e "aprovação de governo"...............

Na avaliação de governo, cuja pergunta básica é "como você avalia o desempenho do governo?", busca-se captar a percepção dos cidadãos sobre a atuação do governo como um todo, em suas diversas áreas. As pessoas expressam seu grau de satisfação ou insatisfação com a gestão governamental declinando um dos cinco componentes da categoria avaliação: ótimo, bom, regular, ruim e péssimo.
Já na aprovação de governo, em que a pergunta-padrão é "você aprova ou desaprova a maneira como o 'incumbente' está governando o país, o estado, o município?", foca-se mais na pessoa do governante, nas suas ações, na sua liderança, no seu jeito de governar.
Essa separação feita no Brasil entre avaliação de governo e aprovação de governo não faz o menor sentido. Polui o ambiente conceitual, dificulta a análise dos resultados e embaraça a compreensão dos cidadãos.
No mundo todo usa-se o binário aprova/desaprova para aferir desempenho de governos e governantes, indistintamente. Não há empenho lá fora em separar esses conceitos até porque se entende que a performance pessoal e administrativa do governante está intrinsecamente entrelaçada com o desempenho global do governo no exercer o mister de fazer entregas. Nessa esteira, avaliação de governo e aprovação da maneira do incumbente governar são compreendidas como representando um só contexto, que envolve gestão administrativa, conexão com os cidadãos e capacidade de entrega de políticas públicas.
Sabe-se, ademais, por evidência empírica, que os eleitores que avaliam a gestão do incumbente como positiva (ótimo bom) também aprovam sua maneira de governar ou o seu governo, e os que a avaliam como negativa (ruim péssimo), externalizam seu descontentamento desaprovando sua maneira de governar. Ou vice-versa, os eleitores que demonstram apreço pela forma como o governante lidera, certamente avalia seu governo como positivo, ou como negativo, se a percepção for inversa.
O que distingue aprovação da maneira de governar (conceito binário) de avaliação de governo (conceito granular, escalonado) é a presença do componente "regular" da categoria avaliação.
Quando os respondentes das pesquisas se manifestam pelo componente regular, eles estão expressando o sentimento de que o governo tem coisas boas e/ou ótimas, mas também tem coisas ruins e/ou péssimas. Quer dizer, tem coisas positivas e negativas.
Daí por que os valores numéricos de aprovação e desaprovação de governo são sempre maiores que os de avaliação positiva e negativa, respectivamente. Mas isso confunde a compreensão das pessoas, principalmente quando a mídia se refere à aprovação e à avaliação de governo como se fossem a mesma coisa, ou quando chama os dois conceitos positivos de "popularidade" do incumbente e apresenta dois números distintos.
Claro que se não houvesse o componente regular na categoria avaliação os valores numéricos dos dois conceitos seriam iguais (admitindo naturalmente que os percentuais de não sabe, não respondeu, são os mesmos nas respostas aos dois conceitos).
Enfim, tendo-se à mão o binário aprova/desaprova, não há absolutamente nenhuma justificativa para o uso nas pesquisas realizadas no Brasil da categoria avaliação de governo, mensurada pelos seus cinco componentes. Uma complicação desnecessária. Qual a relevância prática de se saber, por exemplo, quantos eleitores acham o governo mais péssimo do que ruim, entre aqueles que o avaliam como negativo? As políticas públicas serão redesenhadas em função dessas proporções? A campanha de reeleição do incumbente mudará de estratégia porque tem mais gente rotulando o governo de péssimo do que de ruim?
Os pesquisadores deveriam aplicar o princípio da Navalha de Ockham, adotando unicamente a categoria binária, simples, direta, compreensível, de aprova e desaprova, universalmente empregada nas democracias modernas e, nessa esteira, simplesmente abandonar o idiossincrático conceito de avaliação de governo, na forma como é usado. Tal providência uniformiza entendimentos, poupa tempo e explicações e, mais importante, facilita a compreensão das pessoas.
Maurício Costa Romã, Ph.D. em economia pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos. mauricio-romao@uol.com.br