Claudia Molina: Falas machistas de Lula e Bolsonaro ferem a dignidade da mulher
Brasil ocupa 70ª posição no ranking Global Gender Gap, pior avaliação na participação política feminina. Declarações de líderes têm influência ruim

A presidência da República, além da condução política do país, carrega a responsabilidade de moldar valores e comportamentos sociais por meio das palavras. Tanto Jair Bolsonaro quanto Luiz Inácio Lula da Silva, apesar de suas diferenças ideológicas, têm em comum um histórico de declarações, que perpetuam estereótipos machistas, reforçando uma cultura que tolera e até incentiva a violência contra as mulheres.
As declarações de Lula, frequentemente apresentadas em tom de brincadeira, revelam preconceitos sutis, porém prejudiciais. Ao afirmar que “nenhuma mulher quer namorar ajudante geral”, ele sugere que as escolhas afetivas femininas são pautadas por critérios econômicos, desvalorizando tanto as mulheres quanto os homens de baixa renda. Em outra ocasião, ao comentar sobre brigas após jogos de futebol, Lula minimizou a violência doméstica ao dizer que “se o cara for corintiano, tudo bem”.
Mais recentemente, ao referir-se à ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, Lula atribuiu sua nomeação à aparência física, afirmando ter colocado uma “mulher bonita” no cargo para “melhorar a relação” com o Congresso Nacional, em vez de reconhecer suas qualificações e trajetória política.
Bolsonaro, por sua vez, tem um histórico de declarações ainda mais explícitas e agressivas. Chamou mulheres petistas de “feias e incomíveis”, defendeu o turismo sexual, insinuou que uma jornalista queria “dar o furo” e afirmou que uma deputada “não merecia ser estuprada porque é muito feia”.
Essas falas não são meramente inadequadas ou desrespeitosas. Elas reforçam uma cultura de desigualdade de gênero, legitimam agressões verbais e simbólicas e contribuem para a naturalização da violência contra as mulheres. Lembrando que em 2024, a cada 17 horas, uma mulher morreu em razão do gênero, nos nove estados monitorados pela Rede de Observatórios da Segurança: Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo. Já os Dados do Relatório Anual Socioeconômico da Mulher, do mesmo ano, mostra que o Brasil registrou o equivalente a 196 estupros por dia.
O Brasil ocupa a 70ª posição no ranking Global Gender Gap, com sua pior avaliação na participação política feminina. Assim, quando líderes políticos masculinos proferem declarações que desrespeitam e desvalorizam as mulheres, eles não apenas refletem preconceitos pessoais, mas também influenciam negativamente a cultura e as atitudes sociais, perpetuando ciclos de violência e exclusão.
Palavras têm poder e, no contexto brasileiro, podem contribuir para a manutenção de estruturas que oprimem e violentam as mulheres. É imperativo que nossos chefes de Estado reconheçam o impacto de suas declarações e, com convicção, se comprometam com a promoção da igualdade de gênero e o respeito à dignidade feminina.
Claudia Molina é vice-presidente da ADEPPE