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João Alberto: 'O Sport sonhou com um estádio de 140 mil lugares'

A iniciativa era grandiosa, que se propunha a ser, dentro da nossa conhecida mania de grandeza, "a mais bela praça de esportes do mundo.

Por JOÃO ALBERTO MARTINS SOBRAL Publicado em 10/04/2025 às 23:14 | Atualizado em 10/04/2025 às 23:16

No artigo da semana passada, lembrei o dia em que o Sport recusou a proposta do governo federal para ampliar o Estádio da Ilha do Retiro para 60 mil pessoas, em função da Copa Independência.

Fui levar a proposta, com Marcos Vilaça, que era o chefe da Casa Civil e conduzido pelo então presidente coronel Ivan Ruy Andrade de Oliveira, para uma sala na sede do rubro-negro para conhecer a maquete do Estádio Presidente Medici, eu o clube pretendia construir e que acabou nunca saindo do papel.

Agora vou contar detalhes do megalomaníaco sonho, que teria nada menos de 140 mil lugares.

A iniciativa era grandiosa, que se propunha a ser, dentro da nossa conhecida mania de grandeza, a ser nada menos do que "a mais bela praça de esportes do mundo. E a segunda maior do mundo, atrás apenas do Maracanã.

O estádio que existia (e existe até hoje) seria derrubado para a construção, que ocuparia uma área de 26 hectares, doada pelo Grupo Brennand, tradicionalmente ligado ao rubro-negro pernambucano.

Seria o primeiro projeto no Nordeste de Oscar Niemayer, com a obra a cargo da Construtora Hofmann Boswort, que duraria 36 meses.

Lançamento foi num grande evento, no dia 6 de agosto de 1971, num prestigiado evento comandado pelo presidente do clube, o coronel Ivan Ruy Andrade de Oliveira (que é nome de rua em Guabiraba, no Recife) e reuniu muitos e muitos nomes ligados não só ao Sport, mas a todos os segmentos esportivos do estado, inclusive João Havelange, que era o presidente da CBD. Oscar Niemayer não veio, mas foi representado por dois arquitetos do seu escritório.

O estádio - cujo nome foi autorizado pelo então presidente da República, general Emílio Garrastazu Médici, que prometeu vir para a inauguração, - ficaria a menos de um quilômetro do estádio Ilha do Retiro.

Seria completamente coberto, dividido pelos seguintes setores: arquibancada (90 mil lugares); popular (25 mil); cadeiras (24 mil) e camarotes (1 mil). Teria 20 cabines de imprensa, com os mais modernos equipamentos da época.

Duas rampas de acesso de 120 metros de largura foram elaboradas para escoar todos os torcedores em apenas 12 minutos. Já o estacionamento teria vaga para cinco mil carros. Mais de três mil cadeiras chegaram a ser vendidas. Mas, como diz a música, apenas um "sonho de verão."

O sonho parou na maquete e na terraplanagem da área, que chegou a ser realizada. O motivo? Dívidas, muitas dívidas, como lembrou Sílvio Pessoa, que presidiu o Sport em 1973 e 1974, na época na qual o projeto foi abortado.

"O Sport estava devendo dinheiro a Deus e ao mundo. Até o terreno, cedido pela família Brennand, foi negociado para amortizar o débito."

O resultado é o Sport ficou sem um estádio de 140 mil lugares, nem o de 60 mil na Copa Independência. Sempre se fala numa nova arena, para o clube, que chegou a ser anunciada, mas parou.

Agora, o clube, depois de uma reforma na Ilha do Retiro, anuncia um projeto de "retrofit", que vai modernizar o estádio, que se chama Aldemar da Costa Carvalho, o que muito a gente nem lembra, que passará a ter 34 mil lugares (24% do Presidente Medici).

E pretende seguir o modelo do Allianz Parque, estádio do Palmeiras, que fatura mais com os shows artísticos que realiza do que a renda as partidas do time.

*João Alberto Martins Sobral, editor da coluna João Alberto no Social1

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