Milei triunfa nas eleições legislativas e ganha novo fôlego no governo da Argentina
Partido A Liberdade Avança quebra a hegemonia peronista em Buenos Aires, contém o caos econômico e garante poder de barganha para avançar com reformas
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Indo contra as previsões majoritariamente pessimistas, o presidente da Argentina, Javier Milei, conquistou uma vitória surpreendente nas eleições legislativas de meio de mandato realizadas neste domingo, 26.
O resultado garante ao presidente uma nova oportunidade para avançar com seu plano de governo, embora ele tenha de apresentar mudanças em sua abordagem.
Com mais de 96% das urnas apuradas, o partido governista A Liberdade Avança (LLA) conquistou 40% dos votos agregados, superando a principal força opositora, a ala peronista, que somou 31,6%.
O peronismo no Congresso é majoritariamente representado pelo Força Pátria, de fundo kirchnerista.
Consolidação no Congresso e Alívio no Mercado
A vitória do LLA se traduz em um ganho contundente de assentos no Congresso. O governo garantiu 64 assentos na Câmara de Deputados (contra 31 do Força Pátria) e adicionou 12 novos nomes ao Senado. Estavam em disputa 127 dos 257 assentos da Câmara e 24 das 72 cadeiras do Senado.
Com este desempenho, o LLA, que atualmente contava com apenas 38 deputados e seis senadores, alcança um bloco projetado de 93 deputados. Essa base deve ser complementada por mais de vinte aliados do partido de direita PRO, liderado por Mauricio Macri.
Essa soma indica que o governo precisará negociar com apenas mais 15 deputados de centro para obter maioria. O mapa eleitoral exibe o país quase totalmente pintado de roxo, a cor libertária.
Além de fortalecer sua base de diálogo, o resultado sugere que Milei conseguiu conter o que seria uma "segunda-feira de dor de cabeça". Consultorias previam um completo caos nos mercados e uma disparada do dólar caso o peronismo vencesse, cenário que já ocorreu em eleições anteriores.
O fator Antikirchnerista e a quebra de hegemonia
A vitória foi particularmente notável por romper com o histórico recente: há quase dois meses, Milei havia sofrido uma "dolorosa derrota" por 14 pontos percentuais para o peronismo na Província de Buenos Aires.
Considerada um termômetro nacional devido ao seu eleitorado de 40%, a maior província argentina viu o libertário romper com a hegemonia peronista neste pleito legislativo.
A vitória do governo se deu em 16 das 24 províncias. Além de Buenos Aires, os libertários venceram em províncias grandes e importantes como Córdoba e Santa Fé.
Analistas apontam que os libertários conseguiram reagir rapidamente e foram eficazes em ativar dois tipos de voto: o antikirchnerista (temor do retorno do movimento liderado por Cristina Kirchner) e o anticaos (rejeição ao caos econômico previsto em caso de derrota de Milei).
A participação eleitoral foi de 67,5%. Embora seja a mais baixa desde 1983, ela superou a projeção de desastre (abaixo de 60%) e indicou que o presidente conseguiu mobilizar seus eleitores, já que uma participação acima de 65% demonstrava essa capacidade.
Reformas estruturais no gabinete
Apesar da vitória legislativa, os argentinos demonstraram em pesquisas que estão descontentes com os rumos do país e esperam ver os resultados prometidos.
Em resposta, Milei já adiantou que realizará uma reforma em seu gabinete, algo que ele estava resistente em fazer até então.
Esta mudança sinaliza uma transformação profunda na abordagem do governo, implicando a remoção de nomes puramente libertários para a inclusão de aliados da direita e de centro, buscando consolidar o apoio necessário para obter um terço do Congresso e avançar com suas políticas e vetos.
O cenário no Congresso tende à polarização. Enquanto o partido libertário ganha mais assentos, o peronismo seguirá como a maior força, ainda que sua força no Senado deva ser consideravelmente reduzida.
A vitória de Milei significa que o presidente conseguiu os votos mínimos necessários para impedir que a oposição derrube seus vetos presidenciais.
*Com informações do Estadão Conteúdo