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Padre Cícero e papa Leão XIII: relembre o encontro que buscava reverter a punição do cearense

"Padim Ciço" se tornou uma figura de veneração popular e até hoje é considerado santo por milhões de devotos; confira detalhes do acontecimento

Por Thiago Seabra Publicado em 08/05/2025 às 17:19 | Atualizado em 08/05/2025 às 17:22

Conhecido popularmente como "Padim Ciço", o Padre Cícero é considerado santo por milhões de devotos.

Nascido em Crato, Ceará, em 24 de março de 1844, o padre teve uma infância simples e foi ordenado padre em 30 de novembro de 1870.

Em 1871, foi convidado para celebrar uma missa em Juazeiro, um povoado vizinho, onde teve um sonho que interpretou como uma mensagem divina para que ficasse ali e cuidasse do povoado.

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Os "milagres" de Padre Cícero

Sua vida mudou drasticamente em março de 1889, quando, durante uma missa em Juazeiro, supostamente presenciou um milagre eucarístico.

A hóstia consagrada teria se transformado em sangue na boca da devota Maria de Araújo. Esse fenômeno teria se repetido várias vezes ao longo de dois anos.

A notícia desse suposto milagre se espalhou pela região, atraindo peregrinos de todo o Nordeste e transformando Juazeiro em um local de devoção popular.

Entretanto, a Igreja Católica da época não reconheceu o milagre. O bispo do Ceará, Dom Joaquim José Vieira, inicialmente, recusou-se a aceitar os acontecimentos.

Embora Padre Cícero tenha insistido por uma investigação, e uma primeira comissão tenha concluído que não havia explicação natural para os fatos, o bispo nomeou uma segunda comissão que considerou o evento uma fraude. Dom Joaquim acatou o resultado da segunda comissão.

A insistência de Padre Cícero em defender os milagres levou a Igreja a puni-lo.

Em 1892, ele foi proibido de pregar, celebrar missas e confessar. Em 1894, uma ordem de Roma confirmou que os acontecimentos em Juazeiro não seriam considerados milagres.

Encontro com o Papa Leão XIII

Em 1898, Padre Cícero viajou a Roma e se reuniu com o Papa Leão XIII. Ele conseguiu a absolvição da Igreja, mas, ao retornar a Juazeiro, a decisão foi revista pelo Vaticano.

Padre Cícero chegou a chorar de alegria ao ser comunicado sobre a absolvição em 6 de outubro de 1898.

Ele presenteou o Papa com um Rosário de ouro e pediu que benzesse dois crucifixos, escrevendo em seu breviário que um daria a Dom Joaquim e o outro a Dom Manoel, Bispo de Olinda, que o ajudou financeiramente na viagem.

No entanto, o bispo Dom Joaquim já preparava argumentos para manter a suspensão das ordens sacerdotais.

Padre Cícero foi impedido de celebrar e exercer outras funções sacerdotais, enquanto Beata Maria de Araújo foi isolada da vida social e religiosa.

Apesar das proibições, as visitas de romeiros e a devoção a Padre Cícero continuaram a aumentar.

Padre Cícero se tornou uma figura de veneração popular e conquistou um enorme capital político na região do Cariri.

Ele se aliou a nomes da política local e defendeu a emancipação de Juazeiro, que se tornou um município independente de Crato em 1911.

Padre Cícero foi eleito o primeiro prefeito de Juazeiro do Norte. Ele também articulou o "pacto dos coronéis" em 1911, um acordo político entre lideranças regionais.

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Legado do Padre Cícero

Apesar de ter morrido em 20 de julho de 1934, rompido com o Vaticano e sem ter visto o reconhecimento do milagre ou sua reabilitação, a situação mudou recentemente.

Em 2015, o Papa Francisco anunciou a reconciliação de Padre Cícero com a Igreja. E em 20 de agosto de 2022, o Bispo de Crato, Dom Magnus Henrique, anunciou que a Igreja Católica autorizou o início do processo de beatificação de Padre Cícero.

Com essa decisão, ele passa a ter o título de "Servo de Deus". O anúncio foi recebido com aplausos e fogos de artifício em Juazeiro.

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