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Amar é fazer

Jesus tocou os intocáveis, acolheu os rejeitados, curou os doentes, perdoou aqueles que erraram, consolou os aflitos, partilhou o pão

Por JC Publicado em 10/08/2025 às 0:00

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GUSTAVO MACHADO


“Ainda que eu falasse a língua dos homens/E falasse a língua dos anjos/Sem amor, eu nada seria/ É só o amor/ É só o amor/ Que conhece o que é verdade/ O amor é bom, não quer o mal/ Não sente inveja ou se envaidece”. Os versos da música “Monte Castelo” de Renato Russo, inspirados na carta de Paulo ao Coríntios (1 Coríntios 13), revelam com lirismo que, sem amor, toda eloquência se esvazia.

Jesus não proclamou um amor contemplativo ou abstrato, mas um amor vivido — encarnado em gestos concretos. No Evangelho, o amor é ação. Ele tocou os intocáveis, acolheu os rejeitados, curou os doentes, perdoou os que erraram, consolou os aflitos, caminhou com os esquecidos, partilhou o pão e ensinou com paciência.


Seu amor não era discurso. Era (e é) verbo conjugado no presente. Inspiração para agir, transformar-se e seguir o caminho do bem. Um chamado à estrada estreita da justiça, da caridade e do amor ao próximo.


No Espiritismo, aprendemos que o verdadeiro progresso é o do espírito, conquistado pelo esforço cotidiano, pela reforma íntima e pelo compromisso silencioso ao bem. O amor não pode ser apenas conceito: precisa ser movimento. Precisa ser verbo.


Foi nessa direção que Jesus nos deixou o caminho mais claro: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e todo o teu espírito; este é o maior e o primeiro mandamento. E aqui tendes o segundo, semelhante a esse: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Toda a Lei e os Profetas se acham contidos nesses dois mandamentos”. (Mateus 22:34–40). “Fazei aos homens tudo o que queiras que eles vos façam, pois é nisto que consistem a Lei e os Profetas”. (Mateus 7:12). “Tratai todos os homens como quereríeis que eles vos tratassem”. (Lucas 6:31).


Nessa perspectiva, amar a Deus demanda que amemos a nós mesmos e ao próximo; tanto quanto amar a si mesmo requer amar a Deus e ao próximo; e, para amar ao próximo, é indispensável amar a si mesmo e a Deus.


Esse é, para nós, o sentido sublime da Lei de Amor. Uma lógica espiritual que nos ensina a enxergar o outro como extensão de nós mesmos e como imagem viva de Deus. Já nos dizia Victor Hugo, no livro Os Miseráveis: “Amar outra pessoa é como ver a face de Deus”.


É nesse compasso que o Espiritismo nos orienta, em O Livro dos Espíritos: “Amar ao próximo é fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejáramos que nos fosse feito. Tal é o sentido destas palavras de Jesus: Amai-vos uns aos outros como irmãos.” (L.E., 886 e 879).


Esse fazer o bem não nos exige — dada a nossa condição ainda de espíritos imperfeitos e em aprendizado — atitudes heroicas. Fazer o bem será na medida de nossas possibilidades, respeitando nossas limitações e guiado pelo sincero desejo de praticá-lo.


Que o amor, então, deixe o papel, transborde os discursos e se materialize na vida real. Que se faça verbo. É preciso que ele saia do conceito e vá ao encontro do próximo. Que se traduza em ação. Porque amar, de verdade, é fazer.


E, amando, possamos transformar a nós mesmos — um gesto de cada vez, e cada qual ao seu modo, com serenidade e no tempo de cada coração.


Porque o amor-substantivo precisa tornar-se amor-verbo.


Gustavo Machado – trabalhador da Fraternidade Espírita Franscisco Peixoto Lins (Peixotinho).

 

 

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