Quem é meu próximo?
Somos chamados não apenas a amar aqueles que são bons, mas aqueles que Deus coloca no nosso caminho, mesmo que não nos sejam confortáveis

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VALTEMIR RAMOS GUIMARÃES
Para tratar desse assunto, faz-se necessário falar sobre o Pai celestial, que na mensagem de Jesus, é aquele que perdoa, como nos evangelhos em Mc 11:25; Mt 21:14.
O pedido de perdoar os erros dos outros coloca-nos na perspectiva de sermos perdoados pelo Pai: “Perdoai...”, para que o vosso Pai celestial vos perdoe vossas quedas”. É daí que emerge o grande ensino sobre os dois mandamentos: “amar a Deus sobre todas as coisas, e, o segundo mandamento, amar o próximo como a si mesmo” (Mt 22:37-39).
É desse contexto que vem o ensino aqui tratado sobre “quem é meu próximo?”. A indagação foi de um perito da Lei mosaica, o qual veio ao Mestre Jesus e quis saber quem seria “o seu próximo”. Entretanto, com essa pergunta ele tentava se justificar a si mesmo, conforme nos explicita Lucas em seu evangelho no relato da parábola do “bom samaritano”. Nela Jesus relata: “E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. E, ocasionalmente, descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo. E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo. Mas certo samaritano, viajando, veio até ele e, vendo-o, foi movido de íntima compaixão; E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu animal, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele” (Lc 10:30-34).
Lendo esta parábola repetidas vezes, pode-se notar que Jesus não responde à pergunta conforme a maneira em que foi feita, mas de modo mais marcante, desmascara a presunçosa justiça-própria do intérprete da lei. Este sabe o que a Lei diz acerca de amar o próximo como a si mesmo, e estar disposto a definir “o próximo” em termos que demonstrarão que ele obedece piamente à lei (Fee & Stuart, 1984, p.127).
Para responder à pergunta do perito da Lei, o Mestre conta essa parábola do bom samaritano, nela duas coisas, em especial, precisam ser notadas: Primeiro os dois (um sacerdote e um levita) que passam de largo são tipos sacerdotais, a ordem social que se coloca em contraste com os fariseus e os rabinos, que são os peritos na Lei. Em segundo momento, dar esmolas aos pobres era a grande ação dos fariseus. Era assim que amavam ao próximo como a si mesmo. No entanto, Jesus mostra que foi o “samaritano”, que deu o exemplo de amar o próximo, exatamente aquele que era odiado pelos judeus, devido uma longa história de ódio entre ambos, judeus x samaritanos.
Isso nos fala que, o nosso próximo, não é tão-somente aqueles a quem estamos simplesmente a ajudar com algumas coisas, seja, uma esmola, seja um favor etc., mas por este ensino, o nosso próximo é todo aquele que muitas vezes são os nossos inimigos. Nessa mesma linha, vemos em Mt 5:45, e na passagem paralela de Lc 6:35: “E sereis filhos do Altíssimo, porque ele é benévolo com os ingratos e malvados”, mais uma vez o Nazareno apela ao símbolo religioso paterno para motivar uma conduta dos seus, em concreto, o mandamento de amar os inimigos (Mt 5:44).
Isso pode ser exprimível na fórmula talis pater, talis filius: qual é o pai, tal deve ser o filho (Barbaglio, 2011, p.596). Como se deduz da proposição final do ensino de Jesus no Sermão do Monte: “Para que vos torneis filhos de vosso Pai Celeste”. A parábola do bom samaritano nos mostra que o nosso próximo é qualquer pessoa próxima com que possamos compartilhar o amor de Deus.
É notório nesse ensino que somos chamados não apenas a amar aqueles que são bons, mas com aqueles que Deus coloca no nosso caminho, mesmo aqueles que não nos são confortáveis (Mt 5:44-48). Finalmente, o amor a Deus se expressa no amor ao próximo.
Valtemir Ramos Guimarães é pastor da IPAD – Igreja Pentecostal Assembleia de Deus – Cabo-PE, graduado: Física (UFRPE) Me./ Doutor em Ciências da Religião. Membro da Academia Pernambucana Evangélica de Letras =APE. (81) 99948-1289; valtemir1@outlook.com