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Inveja- Pecado Capital

Por onde a inveja passa deixa um rastro de destruição e o invejoso é triste pois não suporta o sucesso do semelhante porque só olha para si

Por JC Publicado em 27/07/2025 às 0:00

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PADRE BIU DE ARRUDA

A origem etimológica da inveja deriva do verbo latino invidere, que quer dizer olhar malicioso, enviesado, soslaio. É um sentimento asqueroso que acompanha a pessoa desde que o mundo é mundo. A inveja é tão nojenta que ninguém assume que é invejoso. É quase impossível fugir dela. Geralmente, o invejoso é uma pessoa triste, visto que não suporta o sucesso do semelhante, só olha para dentro de si, para o seu umbigo. Por onde a inveja passa, deixa um rastro de destruição. Não poderia ser diferente, já que é de natureza deletéria.


É preciso ter cuidado para não confundir a inveja com o ciúme ou a cobiça. São sentimentos bem parecidos, contudo, de natureza distinta. Inveja consiste em não suportar a alegria do outro. Não querer que o outro seja feliz. Por isso que o invejoso não suporta a felicidade de ninguém. Já o ciúme indica posse. A pessoa ciumenta não suporta perder o que se tem. Enquanto a cobiça é desejar o que não se tem. Querer sempre o que é do outro.


Alguns pessoas até admitem que têm inveja branca. Opa! Atenção! Inveja branca não existe. A natureza da inveja é sempre deletéria. O que existe é a cobiça branca. A cobiça branca consiste em desejar o que não se tem. Isso é normal. Ora, se uma pessoa conseguiu um bem, por que o outro não pode conseguir também? Basta recorrer aos meios lícitos e morais, fazer esforço e pronto. Isso se chama cobiça branca. Que fique bem claro: não há inveja branca.


A inveja – esse sentimento acre -, quando alimentado, pode causar grandes estragos. Para tanto, basta lembrar a morte do irmão, que a Bíblia nos mostra. Por causa desse sentimento azedo, houve na história humana, o primeiro fratricídio. Um irmão manchou as mãos de sangue, quando tolheu a vida do outro. História bíblica tão conhecida de todos, relatada no livro do Genesis, capitulo 4. Como também, por causa da inveja, acontecera o primeiro tráfico de pessoa humana. Os irmãos, por causa de inveja, venderam o seu irmão. Talvez, seja o relato bíblico mais comovente do Antigo Testamento. Aqui, se refere à história de José do Egito (Gn. 37).


Ainda citando o Antigo Testamento, a inveja – essa erva daninha – mexeu com o coração de quem possuía muitos bens. A história do profeta Natã para o rei Davi é um fato marcante. A parábola destaca a injustiça e a ganância do rico, que, mesmo tendo muito, desejou o que pertencia ao pobre. A ovelha do pobre era como um membro da família, e sua morte representou uma grande perda para ele (2Sm 12).


Nem Jesus Cristo escapou da fúria dos invejosos. Onde estava e aonde ia incomodava muito; por isso, foi “entregue a Pilatos por inveja” (Mt 27). São Paulo, nas suas epístolas, já chamava a atenção sobejamente para o perigo da inveja. Aos Coríntios, assim disse: “não deve haver inveja entre vós ... (1Cor. 3,3). Fez um alerta à outra comunidade, dizendo: “é verdade que alguns pregam a Cristo por inveja ... (Fl, 1,15).

Leitor/a caríssimo/a a inveja contaminou outros espaços também. Fez um funaré na Literatura. Só é lembrar a história de Branca de Neve e os Sete Anões e a madrasta malvada. O Paraíso Perdido de Milton é outro exemplo. Na tragédia shakespeariana Otelo, envenenou tudo. Poderia citar aqui tantos outros casos. Contudo, o espaço é limitado. Sem olvidar que o combustível da inveja é a comparação. Não se compare a ninguém. Você é único! Cuidado! Prepare-se! Quanto mais você brilha, será atacado pelo invejoso. Sobre o brilho alheio, assim pontificou padre Vieira: “um grande delito muitas vezes achou misericórdia, mas um sucesso nunca lhe faltou a inveja”. Por último, não esqueça: o invejoso mora ao seu lado.

Padre. Biu de Arruda é da Arquidiocese de Olinda e Recife, e pároco da Paróquia de Santa Luzia – Estância

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