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Flup estreia em Pernambuco com homenagem a Solano Trindade e vozes das periferias

De 10 a 14 de setembro, a Festa Literária das Periferias realiza sua primeira edição no Estado, trazendo Itamar Vieira Junior como convidado

Por Adriana Guarda Publicado em 08/09/2025 às 12:01 | Atualizado em 08/09/2025 às 12:33

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Pela primeira vez em Pernambuco, a Festa Literária das Periferias (Flup) ocupa o Compaz Governador Eduardo Campos, no Alto de Santa Terezinha, entre os dias 10 e 14 de setembro. Com o tema “Saberes conectados: negritude em todos os espaços”, a edição celebra o poeta Solano Trindade e promove uma série de encontros gratuitos com autores, artistas, pensadores e lideranças do Brasil inteiro — todos com tradução em libras.

A curadoria é assinada pela escritora e jornalista Jaqueline Fraga, que vê na estreia no Recife uma oportunidade de reunir gerações e linguagens em diálogo. “Desde o início eu tinha em mente o desejo de que o evento fosse o mais plural possível. Que buscasse representar a pluralidade da população negra brasileira e fazer conexões entre os diferentes tipos de saberes”, explica. “Esse foi o norte. E a partir daí fomos montando uma programação com nomes que são inspirações tanto local quanto nacionalmente”, diz.

Autora do livro "Negra Sou: a ascensão da mulher negra no mercado de trabalho" (finalista do Prêmio Jabuti 2020), Jaqueline buscou costurar o presente com o legado daqueles que abriram caminhos. 

“Eu acredito muito que, para construirmos um hoje e um amanhã com mais acessos e oportunidades para a população negra, é preciso também resgatar e reverenciar todo o trabalho de quem veio antes da gente. Esse foi um dos objetivos ao montar a programação. Reunir jovens e mais velhos, dialogando sobre as nossas culturas e sobre a nossa sociedade”, destaca.

Tributo a Solano Trindade

Reprodução/Arquivo UH
Poeta, militante e artista popular, Solano Trindade é o homenageado da primeira edição da Flup em Pernambuco - Reprodução/Arquivo UH

A homenagem a Solano Trindade atravessa toda a feira. “Eu me arrisco a dizer que o legado de Solano está presente em cada mesa da Flup. Quando falamos sobre ancestralidade, falamos sobre ele; quando falamos sobre arte, falamos sobre ele; quando falamos sobre acessos, pioneirismos, oportunidades, sonhos, falamos sobre Solano. Reverenciar sua história é mantê-lo vivo e manter vivos os seus ideais”, acrescenta Jaqueline.

A família do poeta, representada por Liberto e Vitor da Trindade vão participar de atividades que dialogam com ascestralidade e memória. 

A ousadia de trazer a Flup para o Recife

A coordenadora da Flup.PE e cofundadora do Instituto Delta Zero, Tarciana Portella, foi quem abriu as portas para que a Flup chegasse ao Recife. A ideia nasceu em 2023, quando participou da edição realizada no Morro da Providência, no Rio de Janeiro. “Naquele momento, soube que essa experiência precisava chegar a Pernambuco, terra de tradição literária e cultural efervescente”, recorda.

Para ela, reduzir a Flup a um festival seria limitar sua potência. “A Flup não é apenas um evento — é processo, plataforma de pensamento, conexões e incubação de talentos antes invisibilizados. Sempre culmina em um grande encontro, como o que teremos aqui nos próximos dias, que será o ponto de largada desse movimento de troca de expertises”, avalia. 

Diversidade pernambucana

A chegada da Flup também tem sabor de retorno para o escritor e gestor cultural Julio Ludemir, olindense radicado no Rio de Janeiro que, ao lado do saudoso Écio Salles, criou o festival em 2012 nas periferias do Rio.

“Acho que a Flup só seria possível no imaginário de uma pessoa pernambucana, porque ela tem coragem, paixão, ousadia e aposta em um tempo por vir. Tive menos dificuldade de levar essa ideia para Recife do que aqui no Rio de Janeiro”, conta.

Ludemir gosta de lembrar que a pluralidade cultural do Estado é uma marca inconfundível. “Pernambuco é muito plural. Em cada canto há uma manifestação, um olhar próprio. O Pernambuco do maracatu não é o mesmo da ciranda, que não é o mesmo do coco, nem do repente. Sempre digo que Pernambuco é mais diverso do que o restante do País", afirma. 

Entre festa e reflexão

Andréa Rêgo Barros/Divulgação
No coração do Alto de Santa Terezinha, o Compaz Eduardo Campos abre suas portas para receber a estreia da Flup no Recife - Andréa Rêgo Barros/Divulgação

Ao ocupar o Compaz Eduardo Campos — equipamento premiado pela Unesco pelo trabalho com cidadania e cultura de paz —, a Flup reafirma sua vocação de democratizar o acesso à literatura e abrir espaço para saberes historicamente marginalizados.

A realização do evento é do Instituto Delta Zero em parceria com a Flup, com produção da Suave e apoio da Associação Na Nave, Prefeitura do Recife e patrocínio do Banco do Nordeste (BNB). A iniciativa também contou com emendas parlamentares que ajudaram a viabilizar a vinda do evento ao estado.

Mais do que um festival literário, trata-se de um encontro em que festa e reflexão caminham juntas. “Eu gostaria muito que a gente saísse da Flup com mais esperança e força para construir um mundo em que a população negra tenha mais oportunidades e acessos, inclusive acesso à cultura”, deseja Jaqueline Fraga. “Que percebamos o poder dessa junção de saberes, seja ele popular ou acadêmico. Que a gente perceba que nós estamos, e podemos estar, em todo e qualquer espaço”, conclui, fazeno um convite direto para que a cidade participe desse primeiro capítulo da Flup no Recife. 

Serviço:

A programação completa da Flup está disponível no Instagram @flup.pe2025 e no endereço eletrônico: https://www.vempraflup.com.br/flup-pernambuco

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