"Novos tempos precisam de novos narradores", diz criador da Flup sobre potência das vozes da periferia
Periferias revelaram uma nova forma de produção lierária e cultural, apresentando ao próprio Brasil, um País mais diverso e complexo

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Nos últimos anos, as periferias brasileiras passaram a reelaborar a produção literária e cultural do País. Novos autores, novas vozes e novas formas de narrar se consolidaram, revelando um Brasil mais diverso e complexo.
É nesse momento de reconfiguração, que a Festa Literária das Periferias (Flup) chega pela primeira vez ao Recife. Seu idealizador, o pernambucano radicado no Rio de Janeiro, Julio Ludemir, defende: Novos tempos precisam de novos narradores”.
Jornalista e escritor, ele faz um paralelo entre o momento atual e a Contracultura dos anos 1960, com a juventude criando novas estruturas de difusão da arte.
“Da mesma forma que houve um tempo da juventude, há agora um tempo da periferia. Nada é mais central no mundo hoje do que a periferia, seja no Recife, em Olinda ou em qualquer outra cidade”, afirma, reforçando que fluxos migratórios internos e externos criaram uma nova realidade demográfica mundial e a periferia está no centro dela.
Reconhecer a periferia
Há 14 anos realizando a Flup nas periferias do Rio, Ludemir diz, com convicção, que o mundo precisa descartar o olhar salvacionista para a periferia e entendê-la como uma grande nova realidade, onde é possível imaginar futuros alternativos e possíveis.
“Não por acaso, pesquisas recentes apontam que os livros mais importantes do século 21 foram produzidos por pessoas historicamente periféricas. Na lista estão Ana Maria Gonçalves, Jeferson Tenório e Giovani Martins. Há 5 anos esses nomes eram inimagináveis, mas agora são centrais. No início, ninguém acreditava que existiam escritores na periferia. Cada vez mais estamos descobrindo esses autores”, comemora.
Flup é laboratorio de talentos
Ao longo de sua trajetória de 14 edições, a Flup foi um laboratório de formação de jovens escritores. A Flup já publicou mais de 40 livros e os lançamentos continuam se multiplicando. Para este ano, a expectativa é que cheguem ao mercado pelo menos seis.
“Muitos nomes que convidamos hoje para a Flup não existiriam há 15 anos. São pessoas que não estavam interessadas apenas na publicação do livro, mas em se afirmar artisticamente, intelectualmente e esteticamente”, destaca.
Atualmente, a Flup funciona mais como uma plataforma, identificando talentos e contribuindo com a publicação das obras. A fase de formação foi mais intensa no início da feira, quando o sistema de cotas nas universidades ainda era embrionário.
Mais de 20 livros serão lançados
A Flup.PE vai cumprir seu propósito de estabelecer conexões, descentralizar o conhecimento, democratizar as oportunidades e servir de plataforma para talentos antes invisibilizados e outros já consolidados. Durante os cinco dias de feira serão lançados livros de mais de 20 escritores (independentes e publicados por editoras).