Agenda TGI reúne empresários no Teatro RioMar para discutir os desafios para 2026
Com o tema "Novo Mundo Híbrido – um Mergulho na Era da Conexão Fragmentada", Agenda discute os desafios para o mundo, o Brasil, Pernambuco e o Recife
Clique aqui e escute a matéria
A 27ª edição da Agenda TGI, apresentada nesta terça-feira (25) no Teatro RioMar Recife, indicou que 2026 será um ano marcado pela convivência de extremos que vão exigir decisões difíceis de governos, empresas e cidadãos. O painel, conduzido pelos consultores e sócios da TGI, Francisco Cunha e Fábio Menezes, descreve um mundo onde fronteiras antes definidas passaram a se confundir, como os limites entre informação e desinformação, vida real e ambiente virtual, interesse público e disputa privada.
A Agenda 2026 traz o tema “O novo mundo híbrido – um mergulho na era da conexão fragmentada”, que nasceu da preocupação dos consultores Francisco Cunha e Fábio Menezes com um cenário global em transformação acelerada. Eles destacam que vivemos um período marcado pela combinação de fenômenos que atuam ao mesmo tempo, como o avanço das mudanças climáticas, o aumento das temperaturas em escala mundial; a retração do comércio internacional, que sinaliza um movimento de desglobalização; a retomada de tensões geopolíticas parecidas com uma nova Guerra Fria; e a presença cada vez mais dominante da inteligência artificial, que começa a influenciar todas as atividades econômicas e sociais.
Desglobalização IA e Guerra Fria
Na avaliação da conjuntura mundial, a política internacional entra em 2026 sob forte influência dos Estados Unidos. Francisco Cunha lembra que a gestão Trump volta a pautar o debate global, especialmente por propostas como o chamado Projeto 2025, elaborado pelo think tank conservador Heritage Foundation. O plano prevê a troca de milhares de servidores federais por funcionários alinhados pessoalmente ao presidente. Para Cunha, essa mudança não viria isolada: “Sem falar na sua peculiar forma de atuar, desconsiderando a Organização Mundial do Comércio e promovendo uma Guerra Tarifária sem precedentes”, analisa.
Esse contexto se soma a um movimento que já altera a economia mundial. Países vêm reduzindo a interdependência comercial que marcou as últimas décadas, num processo de retração da globalização. Segundo Cunha, a “desglobalização” não surge por acaso, mas ganha força a partir de crises recentes. “Entre as causas desse processo estão as crises econômicas – como a de 2008 –, a busca por maior autonomia e segurança nacional e os recentes eventos como a pandemia da COVID-19 e os conflitos geopolíticos”, diz.
O consultor aponta ainda que o ambiente político e econômico se torna mais vulnerável à medida que tecnologias de manipulação digital avançam. A inteligência artificial, além de apoiar setores produtivos, também chega às mãos de grupos interessados em distorcer a informação pública. “Os deepfakes e as notícias enganosas representam um sério risco para a integridade da informação”, alerta.
Envelhecimento da população e Narcotráfico
Na avaliação sobre o Brasil, a expectativa é que o País chega a 2026 pressionado por duas questões estruturais que vão impactar a economia e a vida social. A primeira diz respeito ao envelhecimento acelerado da população. O Brasil está perdendo o chamado “bônus demográfico”, período em que há mais pessoas trabalhando do que dependentes, e pode envelhecer antes de acumular riqueza suficiente. Francisco Cunha alerta que essa mudança exige planejamento. “Precisamos estar atentos a isso e pensar políticas públicas com este olhar para evitar que isso seja uma bomba para a Previdência”, afirma.
A segunda preocupação envolve o avanço do crime organizado e o risco de o País trilhar o mesmo caminho de nações dominadas por facções criminosas. Cunha afirma que o Brasil precisa reagir com urgência, sob risco de ver o Estado perder controle sobre setores econômicos legítimos. “Isso precisa ser enfrentado de forma coordenada pela União, envolvendo todos os níveis da Federação. São facções que estão tomando conta de negócios para lavar dinheiro do crime e se fortalecem como instituição. Isso deve ser feito com urgência, antes que se alcance o nível que chegaram países como Colômbia e México”, compara.
Eleições e modelo econômico de Pernambuco
Ao tratar de Pernambuco, Francisco Cunha destacou que os estudos realizados pela TGI ao longo de três décadas revelam um ponto central: o modelo econômico que orientou o Estado desde o século passado já não oferece respostas aos desafios atuais. Segundo ele, é preciso rever uma estratégia baseada no polo industrial e portuário concebido ainda na metade do século XX, com apoio do economista Padre Lebret, e que mesmo com a consolidação de Suape mostra sinais de esgotamento. Para Cunha, a revisão não deve ser isolada. “Temos que repensar o modelo de desenvolvimento industrial-portuário de Pernambuco, por exemplo, envolvendo sociedade, academia e governo”, defende.
Ao analisar as eleições de 2026, Cunha afirma que o clima de disputa já começou antes da campanha oficial. Nas palavras dele, trata-se de “um ano animado. Nem começou e já tá animado”, observa.
Para o consultor, Pernambuco vive um momento singular. Ele avalia que o cenário deve colocar frente a frente o prefeito da capital, João Campos, e a governadora, Raquel Lyra, que tentará a reeleição, o que considera um sinal de modernização política. “São dois jovens e é uma evidência da renovação da política pernambucana. Eu acho muito positivo isso”, diz.
Mais do que a disputa pessoal, o consultor espera que o debate eleitoral enfrente os limites do desenvolvimento do Estado. “O debate que se fizer na próxima campanha deve incorporar o componente desse modelo de desenvolvimento. É indispensável que incorpore.” Ele explica que Pernambuco enfrenta limitações estruturais. “Somos um dos menores estados da Federação, com grande parte do território no semiárido, com um modelo de desenvolvimento esgotado”.
Recife abre espaço para o otimismo
Ao analisar as perspectivas do Recife, Francisco Cunha afirma ter uma visão positiva sobre o futuro da cidade. Segundo ele, ao contrário de grande parte do país, o Recife voltou a discutir planejamento de longo prazo desde 2012, envolvendo governo, sociedade e universidades. Ele lembra que essa prática praticamente desapareceu no Brasil após a Constituição de 1988. Como diz, “o planejamento de longo prazo no Brasil foi praticamente exterminado”, e com isso o país passou a enxergar o futuro apenas dentro do ciclo de quatro anos dos planos plurianuais.
Nesse cenário em que o planejamento foi abandonado nacionalmente, o Recife seguiu um caminho próprio. Cunha destaca que a cidade começou a refletir sobre seu futuro ao perceber que será a primeira capital do Brasil a completar 500 anos, em 2037. Esse processo gerou uma série de estudos e planos urbanos, como o Plano Recife 500 Anos, o projeto Recife, Centro na Rota do Futuro e, mais recentemente, o Distrito Guararapes, que articula ações para revitalizar o Centro. Ele lembra que esse trabalho coletivo passou a envolver academia, gestão pública e entidades civis. “Descobriu-se nessa discussão que o Recife é a capital brasileira mais antiga”.
Cunha explica que esse avanço tem base em um novo modelo de planejamento urbano, diferente do antigo foco rodoviário que priorizou automóveis e viadutos desde os anos 1940. Estudos conduzidos pela UFPE e pela Prefeitura concluíram que o Recife precisa ser planejado a partir de suas bacias hidrográficas, considerando o impacto das mudanças climáticas. Segundo ele, a cidade começa a ser tratada “de acordo com os ditames da nova realidade impulsionada pelas mudanças climáticas, ou seja, com soluções baseadas na natureza”.
Projetos como o Parque Capibaribe, o Jardim Filtrante, e a ampliação do Parque da Tamarineira, com preservação de mata nativa, fazem parte dessa nova visão de cidade-parque. Para Cunha, os espaços verdes e o convívio urbano são ferramentas importantes para fortalecer laços sociais e combater o isolamento provocado pelo excesso de vida digital. “Quem combate isso é o convívio. É a articulação, é o ambiente urbano convidativo, é o parque, é você se cruzar na rua.”
Por isso, afirma estar otimista. Na sua leitura, o Recife está construindo uma cidade preparada para enfrentar as mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, capaz de promover encontros e qualidade de vida. “A cidade começa a ser tratada com soluções baseadas na natureza. Por isso que eu sou otimista”, conclui.