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Cadeia produtiva de Pernambuco vê redução de tarifas dos EUA como positiva, mas insuficiente

Presidente da Fiepe diz que medida tem interesse americano em barrar inflação, mas acredita em novas reduções adiante via articulação brasileira

Por Rodrigo Fernandes Publicado em 15/11/2025 às 13:03 | Atualizado em 15/11/2025 às 14:24

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A decisão do governo Donald Trump de reduzir parcialmente as tarifas de importação de produtos agrícolas gerou repercussão imediata no setor produtivo de Pernambuco. Embora a queda de 50% para 40% represente um pequeno alívio para as exportações, líderes industriais avaliam que o impacto prático da medida é restrito e mantém o mercado brasileiro em forte desvantagem.

A medida, que retira sobretaxas de itens como café, carne bovina, sucos, frutas como manga, banana, laranja, tomate, cacau e especiarias, é vista no cenário econômico como um movimento estratégico da Casa Branca em meio à avaliação presidencial americana, visando estancar o aumento da inflação e reduzir custos ao consumidor.

Em Pernambuco, o impacto imediato da redução é sentido com mais força nos polos produtivos regionais, especialmente no Vale do São Francisco, no Sertão, um dos principais exportadores de manga e uva de mesa do país.

O presidenta da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe), Bruno Veloso, afirma que a redistribuição da alíquota melhora marginalmente a competitividade, mas não altera o quadro geral de aperto econômico enfrentado por produtores, exportadores e comercializadores.

Segundo Veloso, a tarifa de 50% vinha sendo dividida entre todos os elos da cadeia — do produtor ao distribuidor no mercado americano —, o que permitiu a continuidade das exportações, mas às custas de fortes reduções de margem.

Com a queda para 40%, cada parte terá um fôlego ligeiramente maior. Ainda assim, a avaliação é de que o patamar continua inviável e distante de qualquer modelo de concorrência equilibrada.

"Essas medidas, na prática, melhoram um pouco o nosso preço, cada um vai se apertar um pouco menos. Mas essas medidas visam atender aos interesses econômicos americanos, por causa da inflação dos alimentos e da repercussão política interna disso. É algo resolvido exclusivamente por conta das questões econômicas internas, não têm relação com solicitações do Brasil", avaliou o presidente da Fiepe.

Segundo ele, Washington tenta evitar desgaste junto à população americana diante da alta de preços de alimentos, que ganhou peso na avaliação presidencial.

Veloso acredita que novas reduções tarifárias podem acontecer a curto ou médio prazo, a depender do poder de articulação brasileiro.

"Precisamos estar muito atentos e continuar buscando entendimento. Os encontros que têm acontecido entre o Itamaraty e os Estados Unidos têm sido muito rápidos. A gente tem que aprimorar e acentuar as negociações", defendeu.

Impacto na fruticultura

No caso específico das frutas, Pernambuco sentiu os efeitos do tarifaço. A produção não chegou a cair de forma significativa, mas houve queda em torno de 10% no volume exportado, além de redução no faturamento.

A mudança de rotas também impactou os números, uma vez que parte relevante da produção do Vale do São Francisco tem sido escoada por portos da Bahia, o que intensifica a percepção de queda.

Nos produtos industrializados, o impacto também foi forte. Houve redução acentuada das exportações de aço e de placas de PET e poliuretano, utilizadas na fabricação de materiais plásticos. A combinação de tarifas altas e perda de margem reduziu a competitividade e forçou o setor a buscar alternativas logísticas e comerciais.

"Nós sabemos que muitos produtos também são produzidos por outros países, e não queremos que esses outros países aumentem a cadeia produtiva. Essa taxa de 40% é altíssima, inadmissível", completou.

Preocupação com a uva

O setor agrícola recebeu a redução tarifária nas frutas com alívio, mas também com cautela. A Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) celebrou a decisão, mas chamou atenção para um ponto considerado crítico: a uva, segunda fruta brasileira mais exportada para os EUA, ficou de fora da lista de isenções.

De acordo com a associação, no terceiro trimestre deste ano as exportações de uva para os Estados Unidos registraram queda de 73% em valor e quase 68% em volume em relação ao mesmo período de 2024.

"A Abrafrutas continuará trabalhando para que as negociações avancem e para que as frutas que ficaram de fora, especialmente a uva, possam ser incluídas nas próximas etapas de redução tarifária", declarou a entidade.

Em nota, a associação ainda afirma que fará uma avaliação técnica completa da decisão. “A associação informa ainda que fará uma análise detalhada e criteriosa do documento publicado, dado que se trata de um material extenso e que requer avaliação aprofundada para que possamos nos manifestar de maneira mais completa e precisa sobre seus impactos e desdobramentos", completa.

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