Mais que consumo: a contribuição dos shoppings na transformação social e climática
Grupo JCPM inicia participação na COP30, com debate prévio sobre sustentabilidade. Em novembro, levará o tema da regeneração para a Cúpula da ONU

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Por mês, os 648 shoppings no País chegam a contabilizar 476 milhões de consumidores circulando nos seus corredores. São pessoas das mais diversas condições sociais, etnias, orientação sexual, raça, religião e visão de mundo. O Grupo JCPM, com participação em 11 empreendimentos no Nordeste, registra, anualmente, 132 milhões de clientes. É dentro desse cenário, e com a capacidade de impulsionar 40 mil empregos, que a empresa levou para a primeira discussão COP 30 especificamente sobre o setor discussões socioambientais. O encontro prévio aconteceu, em Belém (Pará), estado que sediará o evento global em novembro e foi organizado pela Associação Brasileira de Shopping Centers.
Para uma plateia de 80 pessoas, todas do setor de shopping, no Boulevard Shopping Belém, a diretora de Desenvolvimento Social, Lucia Pontes, abriu sua palestra pontuando a diversidade dos frequentadores e colaboradores de shopping, e o desafio de ter um olhar justo sobre todas as pessoas, mantendo as diretrizes comerciais.
Entre as experiências levadas para Pré COP 30, Lucia destacou as intervenções sociais em parceria com a gestão, onde pessoas em situação de vulnerabilidade social, por exemplo, são escutadas e, às vezes, capacitadas e inseridas como colaboradores.
“Na nossa estrutura, temos assistente social que, em conjunto com o Instituto João Carlos Paes Mendonça (IJCPM), entende a real situação e procura uma alternativa mais estruturada”. Ela citou também os protocolos estabelecidos em uma cartilha desenvolvida pelos empreendimentos pernambucanos, em conjunto com a Associação Pernambucana de Shopping Center.
“O documento define uma série de iniciativas e lista em quais momentos a parceria com os órgãos públicos deve ser acionada na condução desses desafios”. O Quiosque social, a empregabilidade da juventude do entorno, a inserção de pessoas Trans nas oportunidades de emprego, e um forte olhar para as pessoas foram destacados na fala.
Na área de sustentabilidade, a gerente Thayara Paschoal detalhou como os empreendimentos administrados optaram por tratar a questão dos resíduos e os impactos sociais na vida das pessoas. Um dos grandes problemas mundiais é a gestão de resíduos e a sobrecarga nos aterros. Na base dessa cadeia que movimenta mais de R$ 1,3 bilhão no Brasil e responde por 90% da coleta, estão 800 mil catadores, segundo dados do Anuário da Reciclagem de 2024.
"Optamos por instalar centrais de resíduos nos shoppings, dar a estrutura necessária, e reverter integralmente a renda para os cooperados. Impactamos 200 pessoas nos quatro Estados, garantimos a rendimento mensal e um material nobre, diante do direcionamento e parceria com os lojistas”, pontuou Thayara. Entre os desafios, está a capacitação, a integração com o operacional do shopping. “Mas temos um propósito, sabemos o impacto positivo na vida desses cooperados”, completa.
Para o representante da Abrasce no Pará, Tony Bonna, o setor tem um dos pilares comercializar produtos, mas tem também responsabilidade com o meio ambiente e esse momento é importante para cada um olhar para dentro e ver de que forma consegue ajudar a sociedade. “Quando a gente fala de compostagem, reciclagem, energia limpa é uma obrigação dos shoppings. Mas o interessante é que agora estamos tendo a oportunidade de mostrar em conjunto as iniciativas já praticadas”.
Debate mundial
Entre os dias 10 e 21 de novembro, a cidade de Belém vai sediar a COP 30, discussão global dedicada às negociações sobre mudanças climáticas. A capital do Estado do Pará é considerada o coração da Amazônia – região que, apesar da sua importância para o mundo, nunca havia sediado evento tão relevante para a questão climática.
Em novembro, durante Cúpula da ONU, o Grupo JCPM levará o tema Regenaração, o compromisso do nosso tempo, cujo objetivo é debater seu impacto direto na questão climática. O painel integra a programação promovida pela Responding to Climate Change (RTCC), uma das principais entidades de fomento às discussões sobre o crescimento sustentável no planeta.
O exemplo central será o RioMar Recife que foi construído onde, na década de 60, funcionou uma fábrica de bebidas. Com a saída da indústria, o terreno ficou sem utilização por mais de três décadas. Com a construção do empreendimento, uma área de 40 mil metros quadrados foi isolada para iniciar, a partir de 2010, uma recuperação do ecossistema. Hoje, o espaço é usado como campo de estudos para universidades, conscientização de jovens e moradores do Pina e de Brasília Teimosa. “A estratégia priorizou a recuperação ecológica com espécies nativas e adaptadas, contabilizando o plantio de 686 mudas de 64 espécies, criando condições para um processo de regeneração natural”, pontua Thayara.
Um estudo técnico do Instituto Bioma Brasil fez um inventário florestal da área, analisando 122 árvores com predominância de espécies nativas (59%). O espaço configura-se hoje como uma floresta urbana em crescimento, localizada em ponto estratégico que fortalece um corredor ecológico, ampliando a conectividade entre habitats e a biodiversidade.
Em comparação a outros parques urbanos do Recife, destaca-se pela densidade ecológica e capacidade de regeneração, com árvores de altura média de 8,25 metros, mas chegando a registrar alguns exemplares com até 15 m. Além da evolução visível da cobertura vegetal, o estudo estimou um sequestro de carbono de 1,32 tonC/ha/ano. Em florestas tropicais, o sequestro é de 2,59 tonC/ha/ano, portanto um valor significativo para a cidade do Recife, que é a capital brasileira mais exposta aos efeitos da crise climática, ocupando globalmente a 16ª posição entre as localidades mais vulneráveis em relação aos efeitos do aumento do nível do mar, segundo o IPCC/ONU.