Comércio varejista sofre estrago "equiparado à crise do apagão", diz CNC
As vendas do varejo caíram 0,3% no mês, um resultado abaixo da projeção da CNC, que esperava um pequeno avanço no resultado do período

Clique aqui e escute a matéria
A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) avalia que o varejo brasileiro está enfrentando um dos piores cenários de sua história recente, comparável à recessão de 2015 e à crise do apagão de 2001. A análise vem após a divulgação do quarto resultado negativo consecutivo na Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), do IBGE, referente a julho.
As vendas do varejo caíram 0,3% no mês, um resultado abaixo da projeção da CNC, que esperava um pequeno avanço. Com isso, o crescimento acumulado nos últimos 12 meses recuou para 2,5%.
O economista-chefe da CNC, Fabio Bentes, destaca a gravidade da situação. "Somente em duas oportunidades as vendas do varejo caíram por quatro meses seguidos. A primeira foi em 2015, no auge da maior recessão da história, e a segunda em 2001, na Crise do Apagão. Essa sequência negativa evidencia o estrago da maior taxa de juros em 20 anos sobre o consumo e a economia", afirma.
Desempenho por setor
O setor de hiper e supermercados, o mais representativo do varejo restrito, registrou mais uma queda (-0,3%), mesmo com a redução nos preços dos alimentos. Outros segmentos que tiveram resultados negativos foram equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-3,1%) e tecidos, vestuário e calçados (-2,9%).
Em contraste, alguns setores apresentaram crescimento:
Móveis e eletrodomésticos: alta de 1,5%
Livros, jornais e papelarias: avanço de 1,0%
No varejo ampliado, que inclui veículos e materiais de construção, houve alta de 1,3%, recuperando-se da retração de 3,1% em junho.
O presidente da CNC, José Roberto Tadros, reforça a análise, ressaltando que os juros altos afetam toda a economia. "O Brasil precisa de condições mais favoráveis ao consumo e ao investimento. Juros em níveis tão altos por tanto tempo comprometem a capacidade de geração de empregos e renda", pontua.
A CNC também aponta para a incerteza externa, com a guerra tarifária entre Estados Unidos e Brasil, como fator de instabilidade para o câmbio. Os efeitos dessas tarifas, que entraram em vigor em agosto, ainda deverão ser sentidos nas próximas pesquisas, o que pode tornar o cenário ainda mais desafiador para o comércio.