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Exportações de Pernambuco para os Estados Unidos caem quase 80% no 1º mês do tarifaço

Nos primeiros 30 dias do tarifaço, embarques do Estado recuaram de US$ 16,2 milhões para US$ 3,4 milhões, com forte impacto nas frutas e no querosene

Por Adriana Guarda Publicado em 05/09/2025 às 11:28

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As exportações de Pernambuco para os Estados Unidos registraram forte queda em agosto, primeiro mês de vigência da tarifa de 50% imposta pelo governo norte-americano. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), os embarques despencaram 78,4%, de US$ 16,2 milhões em 2024 para US$ 3,4 milhões em 2025 — uma redução de quase cinco vezes.

Tombo maior que o nacional

O resultado local foi bem mais severo que a média nacional. No Brasil como um todo, as vendas externas para os EUA caíram 18,5% no mesmo período. Apesar da retração para o mercado norte-americanos, o País alcançou uma alta de 3,9% das exportações totais do Brasil em agosto, com crescimento nas vendas externas para China (31% ), México (44%) e Argentina (40,3%).

EMBRAPA/DIVULGAÇÃO
Manga do Vale do São Francisco foi um dos produtos mais atingidos: retração de 90,8% nas vendas aos EUA em agosto - EMBRAPA/DIVULGAÇÃO

Frutas do Vale sofrem retração histórica

Como se projetava, os prejuízos recaíram principalmente sobre o agronegócio do Vale do São Francisco. As exportações de manga caíram de US$ 743,9 mil para US$ 68,5 mil, retração de 90,8%. As de uvas frescas despencaram de US$ 167 mil para US$ 38,1 mil, uma perda de 77,1%.

Combustíveis também perderam espaço

Petrobras/Divulgação
Exportações de querosene de aviação caíram 62,9%, acompanhando o encolhimento geral do comércio com os EUA - Petrobras/Divulgação

Entre os produtos industriais, o querosene de aviação também registrou forte queda, de US$ 474,9 mil para US$ 176,2 mil, recuo de 62,9%.

Desempenho geral do Estado piorou

A retração puxou para baixo o desempenho geral de Pernambuco. O Estado exportou em agosto US$ 89,1 milhões, resultado 49,3% inferior ao de agosto de 2024. Apesar de aumentar o comércio com o México e a China, a movimnetação não foi suficiente para amenizar o desempenho negativo com os norte-amercanos. 

EUA caem no ranking de parceiros comerciais

O recuo das vendas mudou a geografia do comércio exterior pernambucano. Tradicional segundo maior parceiro do Estado (depois da Argentina), os Estados Unidos perderam posições. A participação caiu de 9,1% em 2024 para 4,8% no acumulado de 2025, colocando o país na quarta posição, atrás de Argentina (37,8%), Singapura (8,4%) e México (5,3%).

Estudo da Fecomércio projeta perdas ainda maiores

Às vésperas do Tarifaço entrar em vigor, a Fecomércio-PE fez um estudo onde calcula que o impacto pode ser ainda mais profundo até o fim do ano. A entidade estima que as exportações do Estado para os EUA cairão de US$ 227,8 milhões para apenas US$ 44,1 milhões em 2025, retração de 80,6%.

“O comércio internacional é um canal sensível a decisões políticas e mudanças tarifárias. Essa nova tarifa imposta pelos Estados Unidos afeta diretamente a competitividade dos nossos produtos”, alerta Bernardo Peixoto, presidente do Sistema Fecomércio-PE.

Segundo o economista Rafael Lima, responsável pelo estudo, os produtos pernambucanos, sobretudo os agrícolas, apresentam alta elasticidade de preço. “A cada 1% de aumento no preço, a quantidade exportada cai quase 2%. Em um mercado global competitivo, esse efeito tende a excluir nossos produtos da preferência internacional”, explica.

Desafio diplomático e econômico

Anunciado em julho e em vigor desde 6 de agosto, o chamado “Tarifaço de Trump” foi justificado pelo governo norte-americano como resposta a desequilíbrios comerciais e tensões políticas internas do Brasil. Para Pernambuco, o efeito é imediato. Perda de divisas, pressão sobre o setor produtivo e necessidade urgente de diversificação de mercados.

Em agosto, o governo federal anunciou a primeira etapa de um pacote de medidas para socorrer empresas afetadas pela sobretaxa de 50% imposta por Donald Trump sobre produtos brasileiros.

A primeira medida foi a criação de uma linha de crédito de R$ 30 bilhões, com recursos do superávit do Fundo Garantidor de Exportações (FGE). Hoje, o superávit é de R$ 48 milhões. O financiamento será condicionado à manutenção do número de empregos nas empresas beneficiadas. Ainda faltam detalhamentos e aplicabilidade prática das medidas.

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