Economia | Notícia

Empreender na confeitaria: lições de quem transformou doces em sucesso

Organizadora da maior feira de confeitaria da América Latina destaca Pernambuco como potência no setor

Por Lara Calábria Publicado em 05/09/2025 às 4:00

Clique aqui e escute a matéria

Enquanto os ultraprocessados enfrentam resistência, a produção artesanal ganha cada vez mais espaço na economia brasileira, sobretudo na confeitaria. O setor se tornou alternativa de renda, principalmente para mulheres que empreendem de casa, apoiadas pelas redes sociais e aplicativos de entrega. O doce, afinal, é quase unanimidade: é difícil encontrar quem resista a um.

A Mara Cakes Fair, maior feira de confeitaria das Américas, chega a Recife hoje, pela primeira vez, em sua 8ª edição, reunindo confeiteiros e aspirantes ao mercado em aulas-show, palestras com profissionais renomados, exposição de bolos artísticos, arenas temáticas, o desfile “Sugar Fashion” (com roupas feitas de açúcar), lançamentos e ativações de marcas, além de atrações para crianças. O evento deve atrair cerca de 23 mil visitantes ao Centro de Convenções e acontece até o domingo.

A consolidação desse ramo é estatisticamente comprovada: de acordo com a consultoria Mordor Intelligence, o mercado movimentou US$ 12 bilhões em 2024 e deve crescer 3,97% ao ano até 2029. O consumo também impressiona: 9,7 quilos por pessoa apenas em 2024, com previsão de chegar a 2,21 bilhões de quilos no país até 2029.

A fundadora do evento é a ex-pedagoga e empresária da moda, Mara Gasques, que descobriu a confeitaria ao fazer o bolo do próprio aniversário. Dali nasceu a Mara Cakes, marca que cresceu com cursos, workshops e publicações. Hoje, ela acumula quatro livros, mais de 50 produtos lançados, franquias no Brasil e em Portugal e já ministrou aulas na Itália, Canadá e Emirados Árabes.

Em 2019, criou a Mara Cakes Fair, feira que se consolidou como referência continental, que chega pela primeira vez a Pernambuco. “A força da confeitaria em Pernambuco e no Nordeste é uma potência. Já existia uma demanda grande, mas faltava a ponte entre o confeiteiro e o mercado. Trouxemos essa conexão para Recife, conectando talentos locais a grandes fornecedores e movimentando a economia”, explica.

Segundo Mara, o impacto vai muito além do setor: “São milhares de pessoas vindas de outros estados, que ocupam hotéis, movimentam bares, restaurantes, transportes e o comércio local. É uma injeção direta na economia da cidade.”

Diferenciais

A premiada chef e confeiteira pernambucana Bruna Hannouche destaca que a feira se diferencia das demais por oferecer não apenas tendências e estandes, mas também experiências e oportunidades de networking, que considera um grande valor da confeitaria, além das atividades dinâmicas em grupo.

Bruna ministra, hoje, no primeiro dia do evento, uma palestra sobre a importância de cada confeiteiro desenvolver seus próprios diferenciais. Reconhecida por seus bolos de casamento elaborados, criativos e inspirados em referências internacionais, ela reforça sua posição como um dos grandes nomes da confeitaria do cenário regional e nacional, justamente pelo uso do que tem de mais único: a criatividade.

Concorrência e colaboração

Para Bruna Hannouche, concorrência não é algo a ser temido: “Eu não acredito em concorrência. Acredito que qualquer profissão deve ser uma soma de aliados. Quando todos estão alinhados, você eleva o nível da classe e o cliente escolhe pelo que mais se identifica. Concorrência, muitas vezes, é usada apenas para justificar falhas; nosso verdadeiro rival somos nós mesmos.”

Ela defende que colegas de profissão podem se complementar, e que há espaço para o que é bom, sobretudo em uma área com tantas demandas, como os eventos: “Uma pessoa pode ser excelente em modelagem de bolos, outra em técnicas abstratas, outra em pintura artística. Se juntarmos essas habilidades, o resultado é espetacular. Quanto mais profissionais qualificados houver, melhor para a área, porque há festas todos os dias e ninguém consegue atender a tudo sozinho.”

Marketing digital: a vitrine da confeitaria

Mara Gasques reforça que a digitalização mudou tudo: “Meu crescimento começou com as redes sociais. Hoje, o celular é a principal vitrine. Uma confeiteira não precisa de loja física; basta um bom perfil no Instagram, mostrar bastidores, ingredientes e fotos de dar água na boca.”

Ferramentas como WhatsApp Business agilizam pedidos, enquanto cursos online e e-books ampliam a renda e democratizam o conhecimento.

O Brasil para o mundo

Para Mara, a confeitaria brasileira tem identidade própria e cada vez mais espaço no exterior: “Temos criatividade, ingredientes únicos, como cupuaçu, açaí e maracujá, e doces que encantam, como brigadeiro e doce de leite. Além disso, nossa habilidade manual na decoração é admirada no mundo inteiro.”

 

Compartilhe

Tags