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Empresários de Pernambuco consideram pacote federal positivo, mas insuficiente contra tarifaço dos EUA

Empresários veem pacote federal como avanço, mas insuficiente, e cobram negociação direta com os Estados Unidos para evitar perdas maiores

Por Adriana Guarda Publicado em 13/08/2025 às 19:15

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O programa Brasil Soberano, lançado nesta quarta-feira (13) pelo governo federal, foi recebido com cautela por lideranças empresariais de Pernambuco. A iniciativa pretende atenuar os efeitos da sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, medida adotada pelo presidente Donald Trump desde 6 de agosto e que atinge setores como alimentos, têxteis, calçados, químicos, máquinas e equipamentos.

Entre as ações anunciadas estão a criação de uma linha de crédito de R$ 30 bilhões — com recursos do Fundo Garantidor de Exportações — condicionada à manutenção de empregos, prorrogação de prazos tributários, ampliação de seguros para exportadores, incentivo a compras públicas de produtos atingidos e missões comerciais para diversificar mercados. A medida provisória que institui o programa já está em vigor, mas precisa ser aprovada pelo Congresso em até 120 dias.

Divulgação/Fiepe
Imagem de Bruno Veloso, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe) - Divulgação/Fiepe

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Bruno Veloso, considera que o crédito anunciado representa apenas uma fração da necessidade real. “O valor corresponde a cerca de 12% ou 13% das exportações brasileiras para os Estados Unidos. É muito aquém do necessário e não vai atender a todos”, afirmou. Ele também cobra clareza nos critérios de distribuição dos recursos e defende que o governo federal priorize um diálogo direto com Washington.

Veloso lembra que os impactos variam conforme o tipo de produto. No caso das frutas, como a manga — que chega a ter preço de exportação até quatro vezes superior ao do mercado interno —, não há como absorver o volume destinado ao exterior dentro do país. “Estamos falando de 25 mil toneladas, cerca de 2.500 contêineres. O mercado interno não absorve nem pelo preço, nem pela quantidade”, disse. Já para bens industrializados, a dificuldade é ainda maior, pela especificidade das peças e pela concorrência com a indústria chinesa.

LEVANTAMENTO

A Fiepe, segundo ele, concluiu um levantamento de todos os produtos pernambucanos afetados pela tarifa americana, identificando países compradores, volumes e valores praticados. O material está sendo repassado aos exportadores como um guia para possíveis redirecionamentos de vendas. “São informações úteis, mas que só ajudam no médio prazo. Os exportadores precisam de soluções imediatas, e isso não se resolve de forma rápida ou simples”, ressaltou.

Pernambuco exporta para os EUA principalmente açúcar, frutas (uva e manga), coque de petróleo, chapas de aço e chapas de PET. Para Veloso, as medidas são “pontuais” e não resolvem o próximo ciclo exportador.

FRUTAS

Divulgação
Exportação de Manga - Divulgação

Na avaliação de José Gualberto Almeida, presidente da Associação dos Produtores e Exportadores de Hortigranjeiros do Vale do São Francisco (Valexport), o pacote federal chega no momento certo e foi “bem calibrado”. Ele vê a liberação de crédito e a prorrogação de tributos como ações importantes para dar fôlego aos produtores, mas ressalta a necessidade de rapidez na execução. “É fundamental que os bancos estejam bem informados e preparados para operar essas linhas para que pequenos e médios produtores não fiquem de fora”, disse.

Sobre a possibilidade de compras públicas, Gualberto alerta para a logística. “Produtos perecíveis não podem ser estocados. É preciso definir quem será beneficiado e garantir que a cadeia de distribuição funcione. Há soluções possíveis, desde que haja participação ativa dos produtores.”

Apesar do pacote, a avaliação dos dois dirigentes converge para o mesmo ponto: nada substitui uma negociação concreta com os Estados Unidos. Só um acordo que comprove os prejuízos para consumidores americanos e produtores brasileiros poderá garantir uma solução duradoura para o comércio entre os dois países. Como resume Bruno Veloso, “é urgente sair do discurso político e partir para a negociação efetiva”.

O que diz o governo estadual

O secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Guilherme Cavalcanti, afirmou que o Estado está analisando as medidas publicadas pelo governo federal. Na manhã da quarta-feira (13), houve contato com o secretário Guilherme Melo, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, para tentar antecipar informações.

"Cada avanço é importante neste momento, mas ainda faltam ações específicas para determinados setores e uma sinalização clara sobre como os bancos federais vão tratar o assunto", disse. Cavalcanti destacou que o fundo garantidor anunciado é relevante, embora o processo de resposta ainda esteja em construção. "O Ministério se mostrou aberto a receber novas contribuições e fazer ajustes", observou.

"No formato atual, a prioridade permanece sendo buscar o caminho diplomático, para incluir produtos — especialmente alimentos e itens de alta perecibilidade — na lista de exceção do tarifaço. O pacote é bem-vindo, mas ainda está em fase de construção para poder entregar o resultado necessário”, avaliou.

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