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Lula vem a Pernambuco em outubro dar ordem de serviço da Transnordestina, diz ministro

Obras no trecho entre Salgueiro e Suape estão paradas desde 2016. Retomada vai começar com quase R$ 1 bilhão em investimentos em dois lotes

Por Adriana Guarda Publicado em 31/07/2025 às 15:49

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva virá a Pernambuco em outubro para autorizar o reinício das obras da Ferrovia Transnordestina no Estado. O anúncio foi feito nesta quinta-feira (31) pelo ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, durante o Programa Super Manhã, da Rádio Jornal, apresentado por Natalia Ribeiro. A retomada se dará após quase uma década de paralisação. As obras no trecho entre Salgueiro e o Porto de Suape estão paradas desde 2016, e chegaram a ser excluídas do traçado original no fim do governo Jair Bolsonaro.

Agora, com recursos assegurados no novo PAC, o governo federal inicia a recuperação do trecho com a contratação dos lotes 4 e 7, que abrangem os eixos Custódia–Arcoverde (73 km) e Cachoeirinha–Belém de Maria (53 km), totalizando quase 130 quilômetros de extensão e investimentos próximos de R$ 1 bilhão.

“Os recursos já estão assegurados e a expectativa é que, em outubro, o presidente Lula venha a Pernambuco para dar a ordem de serviço”, afirmou Silvio Costa Filho. “Essa etapa vai garantir a retomada de um projeto estratégico para o Estado e para o Nordeste", afirmou. 

Antes desse anúncio do ministro, o assessor da diretoria de Empreendimentos da Infra S.A., Rafael Fernandes de Souza, disse que o primeiro trecho com obra licitada seria de Custódia-Arcoverde, mas a previsão de contratação da obra no primeiro trimestre de 2026, portanto, com persperctiva de prazo diferente.

Resgate do projeto

A retirada de Pernambuco do traçado original da ferrovia foi considerada uma das decisões mais controversas do governo anterior. “O governo Bolsonaro cometeu a irresponsabilidade de tirar o trecho pernambucano da Transnordestina, mantendo apenas o trecho Ceará–Piauí”, disse Silvio. “Já a partir deste segundo semestre começam os testes nesse eixo. Em Pernambuco, estamos reincluindo o Estado no projeto por decisão política do presidente Lula.”

A reativação da obra envolve também os ministérios dos Transportes, da Integração e a Sudene, que tem papel central na articulação de recursos e atualização de projetos. Segundo o superintendente da autarquia, Danilo Cabral, o financiamento está sendo viabilizado com recursos do FDNE e do Finor, vinculados à própria Sudene.

“Quando o processo foi retomado, em setembro de 2023, a Sudene liberou R$ 800 milhões. Este ano já liberamos R$ 1 bilhão, e temos mais R$ 800 milhões em fase de liberação”, detalhou Danilo.

Seminários regionais

A nova etapa da obra está sendo precedida por um processo de escuta e mobilização local. A Sudene já realizou audiências públicas em Salgueiro e programou novos encontros para Petrolina (13/08), Araripina (15/08), Belo Jardim, São Bento do Una, Caruaru e Recife (entre outubro e novembro).

Essas reuniões envolvem setores produtivos, universidades, movimentos sociais e lideranças políticas e têm o objetivo de atualizar os projetos executivos, paralisados há anos, além de alinhar a obra às novas demandas urbanas, ambientais e logísticas. “Estamos incorporando atores políticos, setor produtivo, academia e movimentos sociais para unir forças e acelerar a obra”, afirmou Danilo.

Logística integrada

Um dos eixos centrais do novo projeto é transformar municípios do interior em hubs logísticos estratégicos, com entrepostos de carga e portos secos capazes de baratear o transporte e impulsionar as economias locais. A cidade de Salgueiro, por exemplo, está localizada a cerca de 500 km dos principais destinos da ferrovia – Pecém (CE), Eliseu Martins (PI) e Recife (PE) – e pode se tornar um centro regional de escoamento.

“Essa pauta surgiu em nossa audiência pública em Salgueiro, cidade com vocação para ser um grande entreposto. Um trem substitui 380 caminhões, reduzindo custos. Hoje, estima-se que a gasolina no interior custe até R$ 0,50 a mais por causa do transporte rodoviário”, disse Danilo.

Além de Salgueiro, Altinho, no Agreste, surge como opção para instalação de um porto seco, ideia defendida pelo ex-senador Douglas Cintra, que também participou do debate.

“Podemos ter em Altinho um grande centro logístico que atenda também o Agreste e Panelas. Isso seria estratégico para o desenvolvimento da região”, afirmou o ministro Silvio Costa Filho.

Douglas completou: “A plataforma multimodal – ou porto seco – já foi debatida com a Receita Federal e poderia funcionar no Agreste Sul, com impacto não só local, mas também na integração com outras regiões.”

Nova fase 

Outra frente importante de integração da Transnordestina será a possível reativação da ligação entre Petrolina e Salgueiro, interrompida nos anos 1990. O objetivo é conectar o Polo de Fruticultura do São Francisco, de onde saem 90% da manga e da uva exportadas pelo Brasil, à malha ferroviária nacional.

“Em parceria com a Universidade Federal e o Ministério dos Transportes, a Sudene está atualizando o projeto existente. A ideia é permitir o escoamento de tudo que é produzido no Sertão do São Francisco, reduzindo custos em um momento de relações comerciais mais tensas”, afirmou Danilo Cabral.

A proposta é que a ferrovia não funcione de forma isolada, mas conectada à Ferrovia Norte-Sul e a outras linhas estratégicas, formando uma malha nacional competitiva.

Transporte de passageiros

Além do transporte de cargas, o governo federal também estuda a retomada do transporte ferroviário de passageiros. Trechos como Salvador–Feira de Santana e Fortaleza–Sobral já passam por estudos de viabilidade conduzidos pela Infra S.A., vinculada ao Ministério dos Transportes.

Em Pernambuco, uma parceria com a UFPE está avaliando a reativação do trem de passageiros entre Recife e Caruaru, que existia desde o século XIX e foi desativado nos anos 2000. “Queremos incorporar Pernambuco a esse movimento, planejando o que virá depois da Transnordestina e do Arco Metropolitano”, disse Danilo.

Unidade política 

Os participantes do debate reforçaram a importância da unidade política para que a Transnordestina avance em Pernambuco. “A decisão política já foi tomada, o dinheiro está garantido e a mobilização está acontecendo. O que falta é todos remarem na mesma direção”, afirmou Douglas Cintra.

Danilo Cabral completou: “A Transnordestina não é obra de governo nem de oposição – é uma obra de interesse do Nordeste e, especialmente, de Pernambuco.”

O superintendente reafirmou o prazo de 2026/2027 como meta de conclusão dos lotes prioritários. “Esse prazo já foi afirmado, inclusive pelo presidente da Infra S.A., Jorge Bastos. A vontade de fazer está manifestada não apenas no discurso, mas nas atitudes e nos recursos”, afirmou.

Malha ferroviária 

Um dos pontos críticos do atual cenário ferroviário é a situação da malha concedida no passado. Dos 4.238 km originais, apenas 1.237 km estão em uso. O restante será devolvido ao Estado por descumprimento contratual, em processo acompanhado pelo TCU e o Ministério dos Transportes.

“A Sudene trabalha para requalificar essa malha e devolvê-la ao uso da população. O modelo é simples: o Estado constrói, a iniciativa privada opera. Isso vale para a Transnordestina e para toda a malha devolvida”, explicou Danilo.  

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