Wellington Dias diz que 1 milhão deixaram o Bolsa Família: "É o resultado de uma transição para a cidadania"
Ministro do Desenvolvimento e Assistência Social rebate críticas de que governo estaria cortando o programa para cumprir metas fiscais

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O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias, afirmou nesta segunda-feira (22), em entrevista à Rádio Jornal, que cerca de 1 milhão de famílias deixaram o Bolsa Família em julho. Ao longo de 2025 este número chega a 3,5 milhões. A saída de beneficiários, segundo ele, não representa cortes arbitrários para atender ao ajuste fiscal, como tem sugerido parte do mercado.
“Não é ajuste, é inclusão. O que está acontecendo é que essas pessoas conseguiram autonomia. Elas conseguiram emprego, estão empreendendo, e isso é o que a gente quer: a transição da assistência para a cidadania”, rebateu. O ministro foi entrevistado no debate da Super Manhã pela comunicadora Natalia Ribeiro, o colunista Fernando Castilho e a repórter Adriana Guarda.
O ministro defendeu que os dados demonstram o amadurecimento de um modelo que conecta transferência de renda com educação, qualificação e acesso ao emprego. “Tem quem ache que Bolsa Família é pra sempre. Não é. É pra ajudar num momento difícil. Mas o caminho da maioria é sair porque passou a ter condição de viver com sua renda”, completou Wellington Dias.
Atualmente, o programa atende 20,8 milhões de famílias em todo o Brasil, o que representa cerca de 55 milhões de brasileiros — mais de um quarto da população. A região Nordeste concentra a maioria dos atendidos, com quase 9,7 milhões de famílias beneficiadas, seguida pelo Sudeste (6,3 milhões), Norte (2,6 milhões), Sul (1,4 milhão) e Centro-Oeste (1,1 milhão).
Pernambuco é o quarto estado com maior número de beneficiários, com 1,67 milhão de famílias incluídas no programa. “Se hoje ainda temos 40% da população do estado dentro do Bolsa Família, isso mostra que a pobreza ainda é uma realidade dura. Mas também significa que o Estado está presente onde mais precisa estar”, afirmou o ministro.
Wellington Dias também enfrentou uma das críticas mais frequentes à política de assistência: a existência de uma fila de espera para entrada no programa. Segundo ele, o número de famílias à espera de concessão do benefício gira hoje entre 500 mil e 600 mil, e a fila é rotativa. “Temos uma entrada média de 300 mil a 400 mil famílias por mês. O que ocorre é que algumas famílias saem, outras entram. Não tem fila parada. Temos priorizado quem mais precisa, quem está com renda zero ou abaixo da linha da pobreza”, explicou.
Parte da dificuldade no atendimento, segundo o ministro, decorre da estrutura limitada de alguns municípios, sobretudo no funcionamento dos CRAS (Centros de Referência de Assistência Social). “Tem lugar onde o CRAS não dá conta, com gente chegando de madrugada para pegar senha. Isso precisa melhorar, e estamos acompanhando. E quem estiver enfrentando problema pode denunciar pelo número 121, que é a nossa ouvidoria nacional”, destacou.
Entre os principais vetores da saída de famílias do programa, o ministro apontou o crescimento do emprego formal e a capacitação técnica. Em 2024, 98,8% das novas vagas com carteira assinada foram preenchidas por pessoas que estavam no Cadastro Único ou no Bolsa Família. “Nunca o Brasil teve uma relação tão direta entre política social e crescimento da economia”, afirmou.
Outro dado apresentado foi o de que 16 milhões de pessoas ligadas ao programa já completaram o ensino técnico ou superior. E que, com o incentivo da poupança do Pé-de-Meia, voltada a alunos do ensino médio da rede pública, a permanência dos jovens na escola tem aumentado. “A mãe quer que o filho fique na escola, não na rua. E a escola tem que estar conectada ao futuro dele”, defendeu.
Além disso, 6 milhões de beneficiários se tornaram empreendedores, com apoio de políticas de microcrédito e capacitação. “Eles deixaram de ser dependentes e hoje são geradores de renda, inclusive empregando outras pessoas. O que é melhor do que isso?”, questionou.
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MAPA DA FOME
Sobre as ações de combate à fome, Wellington Dias comemorou a redução dos índices de insegurança alimentar e disse que o Brasil está prestes a sair novamente do mapa da fome da FAO. Após o retrocesso registrado entre 2019 e 2022, a taxa caiu de 4,7% para 2,8% em 2023. “Estamos confiantes de que, até o fim de 2025, vamos atingir menos de 2,5%, que é o parâmetro da ONU para dizer que um país está fora do mapa da fome.”
O reconhecimento oficial da saída do Brasil do mapa da fome pode ocorrer em julho, durante o encontro da FAO na Etiópia, onde o país participa como liderança da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, ao lado da Espanha.
O Brasil se detaca na articulação internacional do combate à fome. O país participará, entre os dias 24 e 27 de julho, em Addis Ababa, na Etiópia, da 2ª Reunião de Acompanhamento da Cúpula dos Sistemas Alimentares das Nações Unidas (2nd UN Food Systems Summit Stocktaking Moment – UNFSS+4), como liderança da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
Na ocasião, será lançado o novo relatório da FAO, O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2025 (The State of Food Security and Nutrition in the World – SOFI 2025), com dados atualizados sobre a situação global da fome. O Brasil deve aparecer com avanços, mas ainda dentro do Mapa da Fome — do qual havia saído em 2014, mas voltou em 2022, após a crise econômica e a pandemia.
“Nossa meta é sair novamente até 2030, conforme o compromisso firmado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. E isso só será possível com renda, educação, apoio à agricultura familiar e políticas integradas de segurança alimentar”, disse Dias.