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Do "era uma vez" ao "isso é mais barato": Projeto une alfabetização e educação financeira em comunidade da RMR

No Jardim Jordão, leitura e finanças servem como ponto de partida para crianças repensarem sua realidade e trilharem novos caminhos

Por Cristiane Ribeiro Publicado em 09/07/2025 às 9:45 | Atualizado em 09/07/2025 às 11:04

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Por letramento financeiro, entendemos o conjunto de saberes e práticas saudáveis de lidar com o dinheiro. Isso inclui desde atividades pequenas, como comparar o preço dos produtos do supermercado, até conhecer sobre os juros associados a um financiamento.

O relatório de letramento financeiro feito pelo Banco Central (BC) e o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) em 2023 aponta que, entre os brasileiros, a média de letramento financeiro é de apenas 59,6%.

Escola promove projeto com leitura, escrita e educação financeira

Em um cenário como esse, iniciativas que promovam conhecimento sobre dinheiro e incentivem a autonomia financeira devem ser valorizadas no país. É o que a coordenadora da Escola Sagrado Coração de Maria, na comunidade do Jardim Jordão, em Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife (RMR), tem feito.

Com o apoio da comunidade escolar, Mary Kelly conduz uma tríade de projetos de leitura, escrita e educação financeira com crianças de três a dez anos. Para ela, essas três esferas de ensino estão interligadas: "Ele (o estudante) lê, observa ao redor dele, começa a ser crítico e trabalhar em cima disso. Se torna uma criança ativa, partindo do princípio que pode mudar de alguma forma a realidade em que vive", explica.

Porque as crianças devem ter letramento financeiro?

Quando avaliamos diferentes grupos sociais, o índice de letramento financeiro oscila significativamente. Mulheres, moradores da região Nordeste, idosos e pessoas com renda de até 2 salários mínimos apresentaram menos conhecimento sobre finanças, ainda de acordo com o estudo do FGC.

Esses padrões se repetem quando o tópico é inadimplência. O Mapa da Inadimplência e Negociação de Dívidas no Brasil, feito mensalmente pelo Serasa, mostrou que 77 milhões de brasileiros estavam com dívidas atrasadas em maio de 2025. Só em Pernambuco, 49,19% da população está nessas condições.

Educar financeiramente as crianças é uma forma de contribuir para que esse quadro de endividamento seja amenizado no futuro. É sobre investir em alicerces ao invés de preocupar-se com contenções.

A leitura como ponte para o pensamento crítico

Intitulado de "Sacola Literária", o primeiro projeto de Mary Kelly consiste em uma grande sacola personalizada em que os alunos levam livros para lerem em casa junto à família. Já o "Pequenos Escritores" é um livro em branco, para que as crianças possam criar suas próprias histórias.

O pequeno Miguel dos Santos, de seis anos, participa desses projetos. Sua mãe, Alcilene Djanira, relata a experiência positiva que eles têm tido: "o Miguel chegou super engajado. Ele disse ‘mamãe, é pra mim criar, inventar uma história’. Aí ele pensou e começou: ‘era uma vez…’ e começou realmente a escrever sozinho. Eu fiquei feliz e admirada com a desenvoltura que ele está tendo lá na escola". Miguel estuda o primeiro ano do ensino fundamental e já sabe ler e escrever.

Cortesia
Miguel dos Santos, lendo um livro do projeto "Sacola Literária" - Cortesia

Educação financeira como ferramenta de transformação

"Bom, se eles estão se tornando críticos, o que a gente faz com isso? Vai deixar eles criticarem a realidade só por criticar?", foi o questionamento que motivou Kelly a dar o próximo passo do projeto. Surge, então, a educação financeira adaptada ao público infantojuvenil.

Com o apoio de livros didáticos, oficinas em sala de aula e visitas guiadas a pequenos estabelecimentos comerciais locais, as 140 crianças que já passaram pelos projetos começam a analisar os preços de produtos e aplicar o conceito de "economizar".

Isso já acontece com Alcilene quando ela vai ao mercado com Miguel: "ele diz: ‘mamãe, esse aqui é o mais barato’. Se quero economizar e pergunto qual é pra levar, ele diz ‘esse, né’ (o mais barato)", relata, orgulhosa, a mãe solo.

Kelly explica que, à medida que as crianças vão construindo seus sonhos, elas precisam entender a importância do dinheiro para realizá-los. "E a educação financeira é um propulsor para mudar a realidade", justifica a coordenadora.

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Alunas da Escola Sagrado Coração de Maria em atividade supervisionada de educação financeira - Cortesia

Uma geração mais crítica e consciente desde cedo

O objetivo é bem claro: preparar, desde a base, uma sociedade que seja capaz de entender o mundo ao seu redor e que possa contribuir positivamente com ele. A tríade aplicada na comunidade do Jardim Jordão segue um fluxo fundamentado em incentivar o pensamento crítico, alimentar sonhos e direcionar a ações.

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