Parceria entre Caoa e Hyundai chega ao fim; saiba o que isso significa
O grupo brasileiro e a marca sul-coreana não dividem mais a mesma linha de produção de veículos no país. Fim da parceria impacta o mercado automotivo

Após 26 anos de uma parceria muitas vezes conturbada, o grupo brasileiro Caoa e a marca sul-coreana Hyundai não dividem mais a mesma linha de produção de veículos no Brasil.
O encerramento da fabricação do SUV Tucson e do caminhão leve HR na fábrica da Caoa em Anápolis (GO), que ocorreu em abril de 2025, marca o fim de uma aliança de manufatura que prometia uma nova sinergia, mas não se concretizou como esperado.
Fim prematuro
A separação da produção ocorre pouco mais de um ano após o anúncio de uma reestruturação nos termos da aliança, em fevereiro de 2024. Na ocasião, a expectativa era de que a fábrica da Caoa em Anápolis (GO) recebesse ferramental e investimentos para produzir novos carros da Hyundai, de maior valor agregado, sob o controle da empresa brasileira.
No entanto, isso nunca aconteceu. Fontes ligadas às empresas confirmaram ao site Autoesporte que não há planos de produzir novos carros da Hyundai na unidade goiana, e que a parceria para a produção de modelos da marca sul-coreana pela Caoa foi encerrada.
Desde o retorno das atividades em meados de maio, após férias coletivas, a planta de Anápolis tem se dedicado exclusivamente à produção de modelos da Caoa Chery, como os SUVs Tiggo 5X, Tiggo 7 e Tiggo 8.
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Fim da parceria ainda não foi oficializada
Apesar das informações serem amplamente divulgadas e confirmadas por veículos especializados, nem Hyundai nem Caoa chancelaram oficialmente o fim da parceria de produção.
Procuradas por esses portais especializados, a Hyundai afirmou que, "conforme suas políticas globais de governança corporativa e confidencialidade, não comenta estratégias comerciais ou de produção nos mercados em que está presente".
Da mesma forma, a Caoa se esquivou de comentar, citando uma "política de sigilo judicial que não nos permite comentar planos de negócios, futuros lançamentos ou tratativas de projetos subsequentes".
Quase três décadas de parceria
A relação entre Caoa e Hyundai, que começou em 1999 com a Caoa assumindo a importação exclusiva da marca no Brasil, foi marcada por momentos de tensão. Em 2018, o grupo brasileiro iniciou uma disputa judicial com a marca sul-coreana, que pretendia assumir todas as operações no País, incluindo a importação e a produção do Tucson e do HR em Anápolis.
O julgamento do caso, conduzido por um tribunal de arbitragem na Alemanha, foi concluído em 2021 a favor da Caoa, garantindo a renovação do contrato de representação até 2028.
Contudo, esse imbróglio criou um impasse, com a Hyundai não liberando a produção de novos carros no Brasil, e a Caoa impedindo a parceira de importar modelos de sucesso em outros mercados, como o Kona, Ioniq 5N e Palisade.
O acordo de 2024 visava superar essa barreira, unificando a distribuição e abrindo caminho para novos modelos de produção local.
Adeus ao Tucson e HR da produção nacional
A produção do Tucson e do HR em Anápolis foi encerrada em abril de 2025. O HR era feito na unidade goiana há anos, e o Tucson teve sua montagem retomada em um lote final limitado no fim de 2024.
O fim da produção desses modelos quase coincidiu com a entrada em vigor das novas normas de emissões do Proconve PL8. Apesar de os modelos atenderem à nova legislação , a falta de atualizações e a queda nas vendas contribuíram para a decisão.
Em 2025, as vendas do Tucson registraram apenas 69 emplacamentos em junho, bem abaixo da média mensal de 130 a 200 unidades no início do ano.
Já o HR teve 159 unidades emplacadas em junho, também abaixo da sua média mensal de 200 a 380 unidades . Atualmente, ambos os modelos são comercializados como ano-modelo 2024/2025, indicando a ausência de produção recente . O Tucson, em sua versão única Limited, era oferecido por R$ 199.490 , enquanto o HR, na versão GL, custava R$ 188.990 .
O que significa o fim da parceria?
Para a Caoa e a fábrica de Anápolis:
- A planta de Anápolis, com capacidade para 100 mil veículos anuais , passa a operar com ociosidade no que tange à produção Hyundai , focando-se integralmente nos modelos Caoa Chery .
- A Caoa mantém o acordo de distribuição de carros nacionais e importados da Hyundai pela sua rede de concessionárias em todo o Brasil .
- Apesar da saída da Hyundai da produção, a Caoa segue com sua estratégia multimarcas, que inclui a joint venture Caoa Chery (com produção em Anápolis e Jacareí) e a representação da Subaru . Isso garante estabilidade à empresa .
- A fábrica de Anápolis, que foi modernizada entre 2017 e 2018 e tem capacidade para produzir híbridos plug-in , poderá ter sua estrutura aproveitada para novos projetos no futuro . Fontes indicam negociações para a produção da nova geração do Tucson (com motorização híbrida plug-in) em Anápolis a partir de 2026, o que exigiria investimentos adicionais e poderia reativar a parceria .
Para a Hyundai no Brasil:
- A Hyundai concentrará sua manufatura em sua fábrica de Piracicaba (SP), onde produz os modelos HB20, HB20S e Creta. Esta planta, operando no limite de sua capacidade em três turnos, não possui espaço para novos modelos devido a limitações, especialmente na linha de pintura.
- A montadora anunciou um investimento de R$ 5,5 bilhões até 2032 no Brasil, focado na nacionalização de componentes e na importação de SUVs como Palisade, Ioniq 5 e Kona.
- A unificação da rede de concessionárias, iniciada em 2024, que permite que todas as lojas vendam tanto os modelos nacionais quanto os importados, permanece em vigor.
- A interrupção da produção do Tucson e HR em Anápolis limita a oferta direta de modelos médios e comerciais da Hyundai no país, reforçando a dependência de importações para esses segmentos. A Hyundai planeja lançar o Santa Fe e a picape Santa Cruz até 2026, mas a produção local desses modelos permanece incerta.
- Embora a Hyundai avalie a construção de uma nova fábrica no Brasil, o alto custo (estimado em R$ 2 bilhões) torna a parceria com terceiros uma opção mais viável, e a Caoa, com sua experiência em manufatura, continua sendo uma potencial aliada futura.
Para o mercado automotivo (e para o consumidor pernambucano):
- O mercado de SUVs médios, liderado por Jeep Compass e Toyota Corolla Cross , verá o Tucson saindo da produção nacional, o que pode abrir ainda mais espaço para a concorrência. No entanto, ainda é possível encontrar tanto o Tucson quanto o HR em estoque nas lojas.
- Apesar da reconfiguração, a Hyundai continua sendo a quinta maior montadora do Brasil, com o HB20 mantendo-se como um dos carros mais vendidos do país.
- Para o consumidor em Pernambuco e no Nordeste, a mudança significa que, para modelos como o Tucson e o HR, a disponibilidade dependerá dos estoques existentes e de possíveis futuras importações. A consolidação da rede de concessionárias Hyundai sob a gestão da Caoa facilitará o acesso a todos os modelos da marca, sejam nacionais ou importados.