Com o uso do aval solidário para concessão de crédito, a Agência de Empreendedorismo de Pernambuco (AGE) alavancou a carteira de clientes e de empréstimos, mas também a inadimplência durante a pandemia da covid-19. Focada no empréstimo a micro e pequenos negócios (MPEs), a AGE dobrou o total de financiamentos que esperava até julho deste ano, chegando ao fim do mês com um volume de R$ 13,5 milhões concedidos. A taxa de inadimplência, por sua vez, saiu dos 1,85% para a média de 3%.
Mesmo com a alta da inadimplência, a AGE comemora os resultados. Na previsão para este ano, a expectativa era encerrar o primeiro trimestre com desembolso de R$ 7 milhões em linhas de crédito para MPEs. Agora em que a alocação já alcançou praticamente o dobro, até o fim do ano a intenção é emprestar a micro e pequenos empresários algo em torno dos R$ 22 milhões.
"Esse valor de R$ 13,5 milhões é basicamente do nosso carro-chefe, o programa Crédito Popular, lançado no fim do ano passado. O enfoque é muito para o micro e pequeno empreendedor, já que é uma linha de crédito de até 3 mil, com prazo de pagamento de 12 meses. Agora, na pandemia, estendemos ainda um prazo de carência de três meses, totalizando em 15 meses o prazo para quitação da dívida", explica o diretor-presidente da AGE, Marcelo Barros.
Os recursos atenderam 6 mil empreendedores, sendo 35% voltados para o segmento de comércio de alimentos. A prestação de serviços também detém 35% do montante, tendo o restante do dinheiro sido demandado por categorias como a de trabalhadores autônomos.
"Eu tenho um salão de beleza e, no período mais crítico, quando estava tudo fechado, precisei do dinheiro fazer uma reforma e também investir em novas formas de divulgação do negócio. Sou formada em estética e precisava de R$ 3 mil. Cheguei a procurar em outros bancos, mas não consegui liberação. Pediam várias coisas e sempre ainda faltava algo. Na AGE consegui financiar o valor em 12 meses. Agora continuo trabalhando para pagar o empréstimo e manter o meu negócio", conta a empreendedora Valquiria Batista.
De acordo com Marcelo Barros, a grande dificuldade para acesso ao crédito é a questão de garantias. "A gente tem superado isso com a metodologia do aval solidário, que é uma forma muito engenhosa de diluir o risco. Juntam-se grupos de três a cinco pessoas, e cada um dá aval para o outro, ficando todos responsáveis pelo pagamento", reforça Barros.
Pelo menos 70% da tomada de crédito na AGE este ano foi feita com uso do aval solidário. É justamente essa ferramenta que para a AGE passou a ser considerada "a chave do sucesso" em relação à alta no volume de crédito concedido. A facilitação de garantia, para a agência, tem se sobressaído até mais do que a própria taxa de juros, atualmente em 1,49% ao mês. Competitiva, a taxa da AGE segue a média dos principais players do mercado. A taxa de juros para capital de giro com prazo de até um ano varia de 0,12% a 10,52% ao mês, segundo dados do Banco Central. Entre os principais bancos, as taxas têm ido de 1,02% a 1,70% (a exemplo da Caixa e do Banco do Nordeste).
"Temos buscado grupo de pessoas com algum grau de conhecimento, pessoas que tenham afinidade e de fato sejam o aval solidário do outro. O aval tem conseguido transpor a dificuldade de acesso ao crédito. Já temos uma taxa bastante atrativa, tivemos uma pequena alta na taxa de inadimplência, mas deveremos manter essa taxa abaixo dos 3% até o fim do ano", acredita Barros.